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22/04/2018 13:30

Com amor e resiliência, Flor de Cerejeira resgata fundamentos do judô e auxilia crianças autistas

Projeto que nasceu do sonho do sensei Romeu atende crianças especiais e famílias carentes

Em uma mesa de madeira e com um sorriso iluminador, sensei Romeu Saravy conta a história de como começou o projeto Flor de Cerejeira, oficializado no início de abril após três anos maturando um sonho: ajudar o desenvolvimento de crianças autistas através de um dos mais nobres esportes, o judô.

“Quando eu conheci o judô, eu não tinha dinheiro. Então eu matava aula para ir assistir judô na academia. Foi quando ganhei meu primeiro quimono. Cheguei lá e o pessoal me pegou matando aula, o sensei me disse: ‘vou te dar um quimono, você vem treinar, mas não falta mais a aula’”, relembra.

Mal sabia ele que a vontade de estar nos tatames é o que lhe daria forças para enfrentar as adversidades do futuro. “Escolhi o nome flor de cerejeira porque é uma árvore muito resistente. As flores caem, mas ela se renova de novo. E ela não morre, é uma árvore muito firme. Eu plantei essa semente”.

A inspiração veio através do filho, Romeu Neto, 17 anos. Quando o menino tinha cinco anos, o pai descobriu o diagnóstico que viria a ser um choque para a família: Romeu é autista. Mais do que as particularidades da condição, que afetaram toda a rotina do sensei, difícil mesmo é enfrentar o preconceito.

“Ele estudava na creche da Santa Casa quando sofreu o primeiro bullying da vida dele. Foi pela própria professora. Ele não fazia as atividades e ela escreveu no caderno dele assim: ‘Romeu, você é burro’. Eu fui lá para pegar a mulher pelo pescoço, falei para ela: ‘que faculdade você fez?’. ‘Você trata de animal, aliás, nem de animal para você chamar meu filho de burro’”, conta.

Conforme Romeu Neto crescia, o pai o matriculou em uma escola de judô. No começo, a estratégia parecia em vão e o pequeno tinha dificuldades para se concentrar, ficar parado em um tatame era torturante. Mas determinado, Romeu Saravy decidiu entrar na escola junto com o filho e, com o tempo, ambos evoluíram.

Depois disso, o sensei decidiu que queria mudar a vida de outras pessoas e criar um ambiente em que seu filho e outras crianças especiais fossem tratados como iguais, um lugar sem preconceito. A partir daí, nasceu o projeto Flor de Cerejeiras, para ensinar judô a meninos e meninas especiais, além de famílias carentes.

“Sempre digo que faixa é para segurar calça. Aqui o nosso foco não é campeonato, não é competição. O objetivo é resgatar os fundamentos do judô, a disciplina, o respeito. Explico para eles que o respeito começa quando entra no tatame e continua quando sai. E eles respeitam, fazem as aulas em silêncio, limpam a mesa após o lanche. É muito bonito”, diz.

Sensei Romeu Saravy e a professora Deise Maria Veras, 62 anos, que ajuda no projeto - Foto: André de Abreu

Hoje o projeto atende 23 crianças, com idades as mais variadas possíveis. A mais jovem da equipe tem 4 anos, mas adultos também participam das aulas, principalmente pais que acompanham o desenvolvimento dos filhos. Tudo é feito a partir de doações e tirado do próprio bolso de Romeu ou dos pais dos estudantes, que auxiliam com os lanches e na compra dos quimonos.

Os tatames foram comprados com aquela força da avó de Romeu, que tirou dinheiro da aposentadoria para ajudar o neto a realizar o sonho. E, na escola improvisada, as crianças aprendem a importância da disciplina, o respeito ao próximo e, claro, da educação. Notas altas são pré-requisito para continuar nas aulas.

Crianças montam e desmontam tatame para as aulas - Foto: André de Abreu

“Se tiver nota baixa, eu dou um ‘gancho’, que é a suspensão das aulas. E meu filho não tem privilégio. Se a nota cair, fica fora também”, conta o pai orgulhoso, que viu o amor pelo  esporte crescer também no peito de Romeu Neto.

Serviço:

As aulas são realizadas de segunda a sexta-feira, das 18h às 19h30. Para inscrições ou donativos, é possível entrar em contato com o sensei Romeu Saravy pelo telefone (67) 9 9162-1004.

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