Quem quer fazer teste de covid-19 na UBS do Itamaracá, em Campo Grande, tem que madrugar e ter condições de passar no mínimo 3h30 na fila aguardando a distribuição de 30 senhas por período. Nessa segunda-feira (24), foram registrados casos de pacientes que já tinham percorrido até mais de duas unidades e se deparam com “a cara na porta”.
Mario Alex, de 29 anos, mora no bairro Centro-Oeste, e já havia ido na UBS do Los Angeles antes de se deslocar até o Itamaracá. Ele chegou ao local às 10h para conseguir a senha número 5 para o período da tarde.
“Eles dizem que, para conseguir fazer o teste das 7h30, eu tenho de chegar às 4h da manhã para conseguir senha. Quando eu cheguei aqui no Itamaracá tive sorte de ser o quinto, mas a fila que se formou tinha umas 50 pessoas. Estou com a garganta ruim e coriza, mas a minha esposa tem diversos sintomas. Como eu convivo com ela, posso pegar de tabela.”
Mario afirma que o problema principal é a falta de teste para todos. “É complicado você ter de chegar esse horário porque não tem testes o suficiente para todos que precisam.”
A esposa Rose Maria de Fátima,33 anos, pegou a senha número 3, ela está com diversos sintomas e reclama da exposição das pessoas ao vírus por conta do tempo na fila e mau atendimento.
(Senhas não são suficientes para atender a alta procura. Foto: Rayani Santa Cruz)
“A gente tem que se precaver em casa, mas se precisa, a gente tem de ficar horas na fila, e as pessoas que não estão com a doença podem adquirir nessa etapa. É muito complicado. Eu cheguei antes das 10h para começar a ser atendida às 13h30. Olha o tempo de resposta que temos”, complementa.
Com laudo
Juliano Alves, 39 anos, disse que foi em três postos de saúde somente ontem para tentar fazer um teste. A unidade do Itamaracá era a terceira, e ele havia ligado antes, onde a atendente informou que a distribuição de senhas era a partir das 13h, o que não aconteceu. As senhas foram distribuídas por volta das 12h.
Ele ficou indignado com a desorganização do local e a falta de informação correta. Juliano está com um laudo médico com pedido do exame, e disse que precisava realizar o teste para voltar ao trabalho presencial.
“A maior reclamação é sobre a pouca quantidade de teste e eu vejo que não tem critérios para essa distribuição de senhas. Não olham questão de sintomas, pessoas que estão com solicitação médica. Então, está sendo algo aleatório e é injusto, até pela questão do horário porque eu fui orientado a vir às 13h, que seriam distribuídas as senhas; cheguei às 12h30 e já tinham sido entregues.”
(Juliano não conseguiu senha para fazer teste, e apresentou laudo com pedido. Foto: Rayani Santa Cruz)
“O pior de tudo é o descaso. Estou há mais de meia hora aguardando o gerente e ele não veio me dar explicações. Eu quero que ele me diga porque esse horário não está sendo respeitado e porquê desse baixo volume de senhas e testes para a população.”
Funcionária explicou
Uma das funcionárias do local explicou aos reclamantes que não conseguiram senhas, que a regra do local impõe esse quantitativo por período. Ela disse ainda que todas as pessoas que chegaram cedo foram atendidas, e que a distribuição foi feita antes das 13h porque a população estava aguardando ao lado de fora da tenda e teve um momento de chuva.
Durante 40 minutos de espera ao gerente Bruno, responsável pela UBS, não houve comparecimento dele para conversar com as pessoas que aguardavam.
A situação foi enviada a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), que informou que "cada unidade distribui um quantitativo de senhas de acordo com a sua demanda e capacidade operacional".
"Na USF Itamaracá, estão sendo realizados 30 testes no período da manhã e 30 no período da tarde. Este quantitativo é limitado de acordo com o horário de funcionamento do serviço. As senhas são distribuídas no início da manhã e início da tarde, não havendo necessidade do paciente chegar antes do horário. As mesmas são entregues rigorosamente nestes horários. No entanto, alguns pacientes chegam mais cedo e aguardam na fila. Atualmente, o Município já oferta testes em mais de 50 locais, incluindo o Centro de Testagem, na região central".
"A quantidade de locais já foi ampliada diante do aumento na procura registrado a partir da segunda quinzena de dezembro. Cabe ressaltar ainda, que diariamente uma média de 3,8 mil a 4 mil testes são realizados na rede pública de saúde de Campo Grande. De 01 a 23 janeiro, foram mais de 54 mil testes realizados. Isso representa um aumento de mais de 500% se comparado com o mesmo período do mês anterior. Esse aumento na procura por testes e atendimentos nas unidades de saúde é reflexo da falta de cuidado individual e desrespeito às medidas de prevenção, como uso correto de máscara e manutenção do distanciamento social. Diante deste aumento expressivo, o serviço fica sobrecarregado, resultando em um maior tempo de espera", termina a Sesau.
Veja o vídeo:
Em Campo Grande quem quer fazer teste covid-19 tem que madrugar na fila pic.twitter.com/rz4pLfd8Vp
— TopMídia News (@topmidianews) January 25, 2022