Um momento delicado para mães e pais de recém-nascidos, a hora da vacinação já não tem causado tanto sofrimento aos bebês do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD). Tudo graças a uma medida simples que passou a ser apresentada às famílias e que tem comprovada eficácia na redução da dor durante a vacina.
Conhecida como “mamanalgesia”, a técnica é simples e se resume a amamentar o bebê antes, durante e depois das injeções. A prática, inclusive, é uma das medidas indicadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em documento publicado no ano de 2015, no qual o Grupo Estratégico de Consultores Especialistas aponta intervenções gerais para redução da dor causada pela vacinação.
De acordo com a fisioterapeuta Amanda Jorge, presidente da Comissão de Incentivo e Apoio ao Aleitamento Materno (CIAAM) do HU-UFGD, a amamentação antes, durante e após o procedimento doloroso, ameniza a dor por parte do bebê, pois além do contato pele-a-pele com a mãe, o paladar e a sucção promovem sensação de relaxamento e distração, o que diminui sua percepção de desconforto. Estudos recentes, ainda, afirmam que o leite materno possui substâncias que reforçam a eficácia da vacina.
Simples e eficaz
Responsável técnica pela Sala de Vacinas do hospital, a farmacêutica Laura Bernal explica que, antes de receber alta da Maternidade, o recém-nascido obrigatoriamente recebe doses de duas vacinas, a BCG – contra a tuberculose – e a Hepatite B, em consonância com o Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde. Por mês, pelo menos 320 bebês são imunizados no HU-UFGD.
A inserção da “mamanalgesia”, no entanto, teve início em dezembro do ano passado, quando a equipe da Sala de Vacinas, após orientações da CIAAM, passou a apresentar aos pais das crianças os benefícios do aleitamento materno na redução da dor ocasionada pelas injeções. E apesar da resistência encontrada no início, a adesão vem subindo desde que a prática foi implantada.
A dona de casa Jéssica Paulino Pinheiro, de 26 anos, conta que não imaginava que uma atitude tão simples pudesse ter um resultado tão eficaz e comparou a experiência recente à que teve com o primeiro filho, há quase dois anos. “Quando meu primeiro bebê foi vacinado, fizeram a vacina no berço e ele chorou muito, ficou enjoadinho por um tempo, não conseguia mamar, foi muito diferente de agora. Meu segundo bebê eu estava amamentando na hora da vacina, ele quase não chorou, ficou confortável. Foi uma experiência muito positiva”, afirma.
A farmacêutica Laura alega que, para a família, o momento da imunização é de grande sofrimento, pois alguns pais e mães não conseguem lidar com a dor da criança, o que faz com que prefiram não estar no quarto durante a vacina. “Tem sido um trabalho de esclarecimento, dia após dia. Nós explicamos os benefícios de se estar amamentando na hora da vacinação, tanto para a mãe quanto para o bebê. E caso exista dificuldade com a pega ou outra questão referente ao aleitamento em si, a Fisioterapia entra para auxiliar”, pontua.
Ela diz, ainda, que além de natural, sem custos e fácil de ser aplicada, a “mamanalgesia” pode ser feita durante as próximas vacinas da criança e também em outros procedimentos médicos que por ventura ocasionem dor.
Sala de Vacinas
Implantada em 2013, a Sala da Vacinas do HU-UFGD foi criada para oferecer imunização a pacientes e colaboradores, de forma a cumprir o Calendário Básico do Programa Nacional de Imunização e realizar a cobertura de campanhas nacionais de vacinação.
Atualmente, a equipe é composta por três técnicas em Enfermagem com habilitação em Sala de Vacinas e uma farmacêutica, que é a responsável técnica pelo serviço desde 2018, quando foi regulamentada a atuação do profissional de Farmácia na atividade de vacinação, por meio da Resolução Nº 654/2018 do Conselho Federal de Farmácia.
De acordo com o documento, além de administrar a vacina, o farmacêutico registra no cartão de vacinação as informações referentes ao medicamento aplicado, assim como faz os devidos apontamentos no sistema de dados do Ministério da Saúde e no prontuário individual do paciente/usuário, entre outras atribuições.
Para Armando Jorge Junior, Chefe do Setor de Farmácia Hospitalar do HU-UFGD, com a publicação da Resolução da Diretoria Colegiada Nº 197/2017, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e da Resolução Nº 654/2018, do Conselho Federal de Farmácia, abriu-se um novo campo de atuação ao profissional farmacêutico, voltado à assistência ao paciente. “E isso nos permite aprimorar o cuidado e a segurança do usuário, além da adoção de boas práticas, como a ‘mamanalgesia’ no controle não-farmacológico da dor”, conclui.