Estudo da USP (Universidade de São Paulo) acompanhou 1.744 casais por um ano e constatou que na maioria dos casos os homens infectam suas esposas.
Conforme o estudo, em 63,5% dos casos, nos quais tanto marido quanto mulher se infectaram com Covid-19, foi o homem quem levou o vírus para dentro de casa.
O estudo sugere que os homens são mais descuidados com as medidas sanitárias.
Além disso, o estudo também indica que existe um fator biológico que os torna mais propensos a transmitir o Sars-CoV-2, não apenas a contrair.
A diferença observada no estudo não foi pequena.
Entre os casais “concordantes” (duplamente infectados), as mulheres foram apenas 36,5%, o que sugere que os homens são 1,7 vezes mais infecciosos que as mulheres.
“Os homens transmitem mais e, por isso, deveriam até se cuidar mais, tanto com a vacina quanto com a máscara, mas não é isso o que vemos ocorrendo”, afirma a geneticista Mayana Zatz, líder do grupo que fez o estudo no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
O trabalho foi coordenado pelos pesquisadores Monize Silva e Mateus de Castro.
Zatz conta que os dados foram extraídos como um resultado secundário da amostragem de voluntários que seu grupo de pesquisa acompanha para estudos genéticos. (A cientista busca identificar fatores hereditários na propensão a contrair Covid-19.)
Saliva contaminada
A curiosidade sobre a disparidade de gêneros surgiu quando os cientistas coletaram amostras de saliva e de cavidade nasal para o trabalho.
Eles identificaram de início que a carga viral era semelhante para homens e mulheres infectados, nas amostras de nasofaringe.
No entanto, na saliva, os homens infectados tinham dez vezes mais vírus, o que já foi relatado num outro estudo do grupo.
“Como nós sabemos que a saliva é a via preferencial de transmissão, decidimos investigar, e voltamos a analisar os questionários que os voluntários tinham respondido”, conta a pesquisadora.
Segundo Zatz, apesar de o estudo ter constatado essa capacidade de transmissão maior por homens, os motivos ainda precisam ser mais bem investigados.
“Pode ser que exista um fator hormonal, porque essa diferença apareceu no grupo até 48 anos de idade, mas não nos mais velhos”, diz a cientista.
“Por outro lado, os homens têm uma caixa torácica maior, então pode ser que eles também produzam mais vírus na saliva”, pontua.
O estudo do grupo de Zatz não foi publicado ainda em periódico científico com revisão independente. O trabalho está disponível por enquanto em versão “pré-print” (estudo preliminar) no portal MedrXiv.