Em resposta à alfinetada de Jair Bolsonaro, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse que o pior cenário para o Brasil é a politização da pandemia e a falta de ordenamento do Ministério da Saúde.
“De cada 10 medidas, nove foram do Legislativo, que está fazendo uma série de políticas mitigatórias. O Brasil tem condição de voltar rápido, e estamos à espera de um milagre porque não temos um ordenamento de política pública [do governo federal] para lidar”, diz
Ele participou de live da Comissão de Enfrentamento ao Novo Coronavírus da Câmara, nesta quarta-feira (8), e citou sobre o pedido do kit cloroquina pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD) e sobre a fala do presidente ironizando o fato deles serem primos.
“Primeiro que ele [Marquinhos] e eu conhecemos nossas mães e nossos pais. E são pessoas diferentes, por isso somos primos, ou seja, não temos pensamentos iguais. Interessante é que ele [Marquinhos] é uma pessoa e tem sua responsabilidade, seu CPF, responde a um mandato popular e trabalha com ferramentas que ele acha importante”.
Mandetta disse que se existe a proposta de remédios que não tem comprovação cientifica, a primeira pergunta é em relação à confiança. “A politização dessa doença já passou de qualquer limite do razoável, não é inteligente. Temos de ter muito cuidado com essa vala. E perder pessoal que faz pesquisa e que faz estudos científicos pode ser muito ruim neste momento”.
Ele citou que “a solução política é comum para quem não é do ramo da saúde” e que é preocupante. "Estão falando sobre a ivermectina que também é defendida por alguns, aquele remédio “Anita”, eparina e tem outros que defendem o corticóide, mas o fato é que a ciência não tem resposta absoluta e não existe substância feita para essa doença. O que me preocupa são pessoas que são da saúde e defendem esse tipo de propositura", comentou.
Caso da pílula do câncer
Ele citou que, há anos, surgiu uma falácia de que a USP conseguiu elaborar pílula do câncer, e um deputado fez um projeto de lei que foi votado no Congresso Nacional. “Ou seja, o Brasil é acostumado a politizar a saúde. O João de Deus tinha uma farmácia e atendia de graça, mas vendia pílulas de trigo. Mas dizia que a cura era pela fé. Isso é cultural. E estamos acostumados a acreditar. Torço para que algum medicamento se imponha, mas ainda não tem”.