A superlotação e o descaso na saúde pública de Campo Grande fizeram mais uma vítima nesta segunda-feira (10): a costureira Daniele Viana, 35 anos, que conta que ainda está ainda com os pontos do parto, feito por cesariana, e teve que retornar à Santa Casa de Campo Grande seis dias após receber alta para levar o filho, um bebê de dez dias, para atendimento.
O pequeno pegou uma gripe e, por ser recém-nascido, ainda não desenvolveu imunidade, o que o coloca como paciente prioritário, pelo menos na teoria. Não foi o que aconteceu e a mãe, com anemia grave e recém-operada, teve que procurar outra unidade de saúde para garantir o direito do filho.
“Levei na Santa casa, pois penso que bebês recém-nascidos e idosos têm preferência no atendimento justamente por não ter imunidade. Pois ele passou pela triagem e a enfermeira só colocou o estetoscópio nele, mais nada, e mandou eu levar em um posto de saúde. Nem febre ela mediu”, relata Daniele.
De acordo com a mãe, o bebê passou pela triagem, onde a enfermeira nem se deu o trabalho de verificar se ele estava com febre, e ele foi encaminhado ao posto da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), onde informaram que ela deveria procurar a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vila Almeida ou Coronel Antonino.
“Ela falou que ele não estava com risco e mandou no posto, não ele não tem imunidade, apenas dez dias de vida e não quiseram nem saber. Na UPA Vila Almeida, fiquei quase três horas para ser atendida, com crianças tossindo por toda parte, o chão nojento, imundo. Não que meu filho é melhor que as outras crianças, é que ele é recém-nascido”, desabafa a mãe.
Segundo Daniele, até mesmo a médica que efetivamente realizou o atendimento da criança estranhou a situação. “A médica de lá falou que se ele piorar porque ainda não está tossindo, apenas com o nariz trancado, tem que ir para emergência, o posto é a ultima opção. Falei que levei na Santa Casa e não quiseram atender, até ela ficou assim”.
Outro lado
Procurada pela reportagem, a assessoria da Santa Casa informou que o protocolo do hospital é fazer a triagem e encaminhar para a regulação da Sesau, que encaminhou para uma unidade de saúde da prefeitura. Se o caso foi classificado como pouco grave na triagem, o hospital pode ser responsabilizado por desrespeitar as regras.
“É o procedimento padrão do SUS (Sistema Único de Saúde). Como é um hospital de média e grande complexidade, se atendermos vai tomar vaga de um atendimento mais complexo. Se é paciente do hospital, vai para o corredor se faltar vaga, mas atendemos. Quem determina o risco é um código técnico do Conselho Federal de Medicina”, justifica a assessoria.