Em 12 de julho de 2012, seis anos atrás, o hoje encarcerado André Puccinelli (MDB) recebeu em sua casa, num prédio erguido na rua Euclides da Cunha, Jardim dos Estados, um dos metros quadrados mais caros de Campo Grande, logo pela manhã, em caixas de isopores, o equivalente a 100 mil notas de R$ 100, uma montanha de dinheiro que, as cédulas juntas, somaram R$ 10 milhões.
A dinheirada saiu dos cofres da JBS, empresa que tinha de pagar propina ao ex-governador (2007-2014) para ganhar incentivos fiscais por ter instalado frigoríficos aqui em Mato Grosso do Sul. Esta é uma das razões da prisão de Puccinelli e motivo que o tirou do páreo eleitoral.
Relato acima é parte do inquérito policial 0525/2017 da Polícia Federal, acerca de uma das fases da Lama Asfáltica, operação que implodiu o mais escandaloso episódio de corrupção que se tem notícia em MS.
A história da fortuna dentro dos isopores, que voou de avião de São Paulo direto para casa de Puccinelli, é assim descrita:
“Em julho de 2012, André Puccinelli pediu para Ivanildo Miranda [delator da Lama Asfáltica, pecuarista, arrecadador de propina] fosse falar com Demilton Antônio de Castro [empregado da JBS]. Ivanildo conversou com Demilton e Joesley Batista [um dos donos da JBS], tendo sido travada a seguinte conversa: Joesley diz – Demilton, eu tenho aquele meu dinheiro lá no Alphaville e você pode passar para o Governador [Puccinelli] e pro MS lá esse dinheiro. Demilton segue a conversa – mas que dinheiro que é? Segue Joesley – não, é lá no Alphaville, cê vai lá que cê já sabe de quem é que eu tô falando”.
Depois dessa conversa, Demilton passou a Ivanildo o seguinte endereço: Rua Bauru, 122, Residencial Tamboré, em Barueri, cidade de São Paulo.
Dinheiro transportado em aviões
Noutro decurso do inquérito, segue a narrativa da fortuna: “em dias seguidos, Ivanildo pegou ao todo 10 milhões de reais, em espécie, na casa situada no endereço acima mencionado, das mãos de uma mulher. Ivanildo trouxe para Campo Grande esses valores através de avião. Chegando em Campo Grande, esses valores foram entregues dentro de isopores diretamente a André Puccinelli, na sua casa”.
Mas não era só em isopores que Puccinelli pegava a propina, noite: “os encontros para a entrega do dinheiro eram sempre bem cedo e na casa de André Puccinelli, no Edifício Champs Élysées. Ivanildo levava em sacolas ou caixas o dinheiro em espécie e entregava nas mãos de André Puccinelli, sempre para ele”.
Prossegue Ivanildo, o delator: “Trazia [o dinheiro] de avião ou de carro, carro próprio, trazia e levava direto. Nunca entreguei um centavo se não fosse na mão de André Puccinelli, a não ser, aquele fato da, que eu entreguei pra Mara, né”.
Mara era secretária e cumpria expediente ao lado do gabinete do ex-governador. Certa vez, segundo o inquérito, Ivanildo levou até a sede do governo R$ 2 milhões numa caixa de papelão e entregou a Mara, que repassou o dinheiro a Puccinelli. Isto é, Puccinelli recebeu propina dentro de seu gabinete. Consta ainda no inquérito que era costume do ex-governador em escrever na caixa a soma do valor empacotado.
E sabe quanto Puccinelli recebia da JBS? O inquérito da PF tira a dúvida: “o valor da propina paga, mensalmente, pela JBS a pedido de André Puccinelli correspondia a aproximadamente a 2 milhões de reais, sendo que parte desse pagamento era por remessa em espécie e outra parte por depósito em contas bancárias". Tais negociatas, segundo a PF, ocorreram com pontualidade por oito anos – de 2007 a 2014.
André Puccinelli está preso desde o dia 20 de julho, por lavagem de dinheiro. Ele responde a sete ações na Justiça Federal, por corrupção, entre as quais.