O deputado estadual Paulo Siufi, do MDB, recorreu, de novo, a uma fala puritana, em discurso na Assembleia Legislativa, sessão desta quinta-feira (15), para expressar, segundo ele, “preocupação” quanto à classificação de idade para as visitas interessadas na exposição de arte intitulada “Maria não é mais virgem”, evento mostrado no Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande.
O parlamentar acha que a exibição dos quadros produzidos pela artista plástica Lina da Anunciação, obras coloridas com desenhos de corpos de mulheres, devem ser restritos às pessoas com “18, 21” anos de idade. Por determinação do centro cultural, o acesso à exposição é liberado aos visitantes com idade superior a 16 anos.
Com cópias das artes na mão, ele disse, na Assembleia, que nem as mostraria para seus pares parlamentares e quem quisesse que fosse até ele, de perto, daí, sim, deixaria vê-las. A sessão é exibida ao vivo, pela televisão.
Na fala, ele reafirmou ser “católico praticante” e que seria crime se tal exposição, a “Maria”, no caso, fosse uma menção a Maria, mãe de Jesus, a quem, disse o deputado, é “devoto”. Católicos costumam adorar a mãe de Jesus como símbolo de fé.
Primeiro Paulo Siufi disse que visitaria o primo, o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, do PSD, para tratar do assunto. Logo depois, contudo, o parlamentar corrigiu-se ao dizer, também em tribuna, que o evento em questão era promoção do governo estadual, não da prefeitura de Campo Grande.
Até por volta do meio-dia, nem a artista dona da obra nem o comando da exposição tinham comentado o pronunciamento do deputado.
OUTRO CASO
Em setembro do ano passado, Siufi meteu-se noutro pega que envolvera também obras de arte, em Campo Grande.
À época, a exposição acontecera no Marco (Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul), a Cadafalso.
A discórdia de Siufi girou em torno da pedofilia, a prática de atos sexuais contra crianças. A obra, da artista mineira Alessandra Cunha Ropre, virou caso de polícia, depois do manifesto do deputado.
Reportagem do TopMídiaNews, de setembro passado, informou que a artista, disse que sua intenção foi lançar algumas ideias e questionar o machismo, o domínio errado dos homens e a própria pedofilia.
Ropre, como é conhecida, disse acreditar que o título da obra 'pedofilia' é que fez chamar a atenção dos parlamentares, e não as imagens em si. No quadro, uma menina pintada de rosa está no meio de dois homens com o pênis de fora e próximo a ela.
''Só porque tem aquela palavrinha lá, acham que é um incentivo. Meu Deus, a coisa é tão tabu, que a gente não pode nem escrever o termo [pedofilia]''. ''Se o título fosse outro...'', refletiu''.
O quadro foi apreendido pela Polícia Civil, depois liberado e exposto de novo no Marco com restrição de idade.