Documentos apreendidos pela Polícia Federal numa quitinete construída no Indubrasil, bairro distante do centro de Campo Grande, e que o ministro Carlos Marun despreza-os como provas contra André Puccinelli (MDB), podem afundar ainda mais o ex-governador na Lama Asfáltica, operação da Polícia Federal, deflagrada três anos atrás que mantém presas 11 pessoas metidas num esquema de corrupção; Puccinelli uma delas.
Para Marun, emedebista tido como aliado número 1 de Puccinelli, os papeis apreendidos em dezembro passado seriam “apenas” acervos pessoais, nada relevantes, “jamais” indícios de crimes praticados pelo ex-governador. E os documentos, disse o ministro, só estariam na quitinete porque não cabiam no apartamento de Puccinelli.
A papelada aprendida era guardada em caixas de papelões ajeitadas num cômodo do imóvel de Luiz Gonçalves Valente Filho, pai de Osni Rangel Valente, funcionário de André Puccinelli Júnior, filho do ex-governador – os dois estão encarcerados desde o dia 20, dez dias atrás. Pelo imóvel, construção simples, Júnior pagava R$ 500 mensais.
Na relação dos materiais capturados, acervos segundo Marun, aparecem documentos de Puccinelli, como declarações de imposto de renda referentes aos anos de 1996 a 2013; movimentação financeira dos bancos do Brasil, HSBC [já extinto], Bradesco, Sudameris/Sandander, Unicred/Uniprime e Rural.
Além disso, eram acomodados nas caixas relação de imóveis, relação de imóveis vendidos, movimentação Estância Vanessa (cítricos), movimentação de cheques (gado) – entrada e saída, laudo de avaliação número 024/99 – Câmara de Valores Imobiliários de MS – áreas urbanas, laudo de avaliação número 039/2007 – Patroni Duenha Empreendimentos Imobiliários Ltda. – Fazenda Palanque, laudo de avaliação e dois documentos do Ministério Público Estadual.
Ainda na quitinete, a PF apreendeu placas de homenagens e uma maquete do Aquário Pantanal, uma suntuosa obra que já consumiu R$ 300 milhões dos cofres estaduais desde seu início, em 2011, gestão Puccinelli, parada desde 2015 por suspeitas de superfaturamento.
Depois de descrever os papeis capturados, a PF escreveu: “assim sendo, os documentos ocultados são quase todos potenciais comprovantes, sim, da utilizada dinâmica de compra e venda de fazendas, de gado de produção agrícola, além da aquisição de empréstimos envolvendo Puccinelli, tudo com números indicativamente inflados e maquiados, e há uma razão evidente para sua ocultação, naturalmente”.
André Junior seria verdadeiro dono do Instituto Ícone
Ainda no pedido de prisão contra Puccinelli: “preambularmente, é necessária a devida contextualização sobre quem são Osni e seu pai, visto que não repousa neste julgador a menor dúvida de que, neste episódio, os acusados André Puccinelli e André Puccinelli Júnior obraram para ocultar provas sobre fatos investigados pela autoridade policial, relacionados à chamada Operação Lama Asfáltica”.
Com a apreensão, a PF descobriu que Osni trabalhava no Instituto Ícone de Ensino Jurídico e recebia salários da empresa. Contudo, depoimentos do pai indicam que quem era patrão do rapaz era André Júnior.
Para a PF, o Instituto, cujo dono no papel é o advogado João Paulo Calves, também preso, é de fato, do filho do governador. Essa empresa teria sido montada para lavar dinheiro arrecadado com propina. Calves seria um “testa de ferro” no negócio.
Outro questionamento do ministro Marun: a PF entrou na casa e apreendeu os documentos sem autorização judicial. Já a PF sustenta que soube que ali havia indícios de crime e, para investigar, pediu licença escrita ao dono.