Com cartazes em mãos, acadêmicos do Campus Pantanal da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), estudantes do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), bem como alunos, professores e profissionais da educação da Rede Pública, saíram às ruas de Corumbá em protesto aos cortes da Educação previstos pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. A medida atinge diretamente as universidades públicas, bem como o setor da Educação em geral.
O objetivo principal da mobilização, que acontece em todo território nacional, é contra o bloqueio de 5% do orçamento anual do MEC, R$ 7,4 bilhões de um total de R$ 149 bilhões. Nas universidades públicas, o congelamento de gastos atingirá 3,5% do orçamento de cada instituição, das chamadas verbas “não obrigatórias”.
Os cortes nos orçamentos já atingem as contas de água, luz e serviços de limpeza, assim, como os serviços básicos não supridos, inviabilização do ensino, pesquisa e extensão. Além disso, prevê a suspensão dos concursos e o não reajuste salarial de professores. Em Corumbá, no Campus Pantanal da UFMS, o reflexo ainda não é sentido, mas a garantia de funcionamento normal da instituição é até o mês de agosto, caso o governo federal persista com os cortes, não seguindo o calendário de 2019.
“Em Corumbá ainda não está visível, temos contrato de limpeza, contrato de serviço de vigilância entre outros. Se esse pessoal não receber, não teremos condição de manter as aulas normais. Hoje, foi publicado um artigo dizendo que até agosto seria a nossa data limite de funcionamento, isso, com a verba já garantida. Daí pra frente não sabemos o que vai acontecer. Quem sofre são os acadêmicos que não vão formar no final desse ano letivo, nosso calendário está certo, mas com esse corte, passando agosto, quando começa o segundo semestre não conseguiremos seguir”, explicou o diretor da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - Campus Pantanal, Waldson Luciano Corrêa Diniz reforçando que diante da situação vivenciada, julho é a data limite para que algumas Universidades garantam o funcionamento em 2019.
Os cortes na Educação poderão atingir também Institutos Científicos, como no caso o IFMS. De acordo com o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), do qual o IFMS faz parte, cerca de R$ 900 milhões estão bloqueados, o que representa de 37% a 42% dos recursos de custeio previstos para o funcionamento das unidades. No caso do IFMS, dos R$ 40 milhões previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2019, quase R$ 17 milhões estão bloqueados. O valor é referente a 42% das despesas discricionárias, o que inclui investimentos em obras e aquisição de equipamentos, além do custeio para a manutenção.
“Inicialmente o prejuízo maior é para os alunos, famílias e para a região. O IFMS é interiorizado, a ideia é que a ciência e tecnologia, através da pesquisa e da extensão, sejam levadas para o interior do Brasil. Esse corte que é quase metade do orçamento causa prejuízo de quase 80% em relação a investimento, nós trabalhamos com laboratórios, pesquisa, incitação científica, bolsa. Tudo isso vem desse valor, pagamento dos terceirizados, materiais de laboratório, pesquisas dentro da área de informática. Isso tudo será prejudicado e quem perde com isso são os estudantes e a ciência. Nós que trabalhamos já nos limites dos gastos, não iríamos conseguir seguir com esses trabalhos, que dirá os campi que ainda não têm sedes, como grande parte do interior do MS, onde o impacto será sentido até antes”, mencionou ao Diário Corumbaense, Tiago Tristão que é professor de ensino médio e especialização do IFMS, em Corumbá.
Estudantes estão preocupados
O acadêmico, Daniel Abud Marques Robbin, do curso de Letras com habilitação em Português e Espanhol da UFMS - Campus Pantanal, disse que a situação é muito preocupante.
“Me vejo afetado como futuro professor, a educação é que tem mais sofrido com esses cortes promovido pelo atual governo que deveria se preocupar em cortar gastos de áreas menos mais importante, como a Política. Caso isso prossiga, se refletirá diretamente no ensino dos alunos que são o futuro dessa nação”, falou Daniel que tem projeto na área de educação Residência Pedagógica, com alunos da escola Dom Bosco. “É um projeto que vivencia a realidade do estudante e a bolsa que recebo pode ser cortada e como futuro professor tudo isso me assusta”, completou.
Na mesma situação está Felipe Pellissari, do curso de informática do IFMS. “Recebo bolsa pelo CNPQ, que também já vem sentindo deficiência com esses cortes anunciados, mas de forma mais direta, a preocupação é com o Instituto que será afetado, como a não compra de materiais que a instituição utiliza para desenvolvimento das pesquisas junto aos alunos”, frisou.
Reforma da Previdência
A mobilização também ganhou força dos profissionais da educação que se uniram em protesto a Reforma da Previdência, proposta também pelo governo federal. “É inadmissível essas propostas, pois quem mais vai sofrer é o trabalhador. Desde o ano passado estamos indo às ruas em protesto a Reforma da Previdência, principalmente nós educadores que seremos bastante prejudicados, pois do jeito que está proposto, iríamos contribuir 30 ou 40 anos e nos aposentar apenas aos 60 anos”, explicou Rosa Maria da Silva, vice-presidente regional em Corumbá e Ladário da Fetems (Federação dos Trabalhadores de Educação de Mato Grosso do Sul).
Em Corumbá, os profissionais da educação também protestaram contra o corte de abono pelo governo do Estado e por reajuste salarial nas redes estadual e municipal. “A prefeitura já marcou três reuniões e sempre desmarcam. Já em relação ao abono do governo estadual, ele garantiu por mais dois meses e depois como fica?. Queremos respostas”, declarou Rosa, informando que 95% das escolas fecharam as portas nesta quarta-feira em adesão ao protesto nacional.
“Uma reforma que prioriza manter o equilíbrio das contas cortando de quem tem menos, aposentados, crianças e idosos. Impede o direito da mulher, que irá trabalhar mais, as pessoas que contribuem por mais de 25 a 30 anos, vemos como reforma cruel, não leva em consideração o trabalhador que paga imposto e que não vai encontrar uma velhice segura”, salientou o professor Waldson Luciano Corrêa Diniz.