O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), foi sarcástico e pessimista em entrevista ao Estadão, publicada nesta quinta-feira (25). Segundo ele, “a cepa [do novo coronavírus] mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça".
Para Mandetta, a gravidade da doença já era clara durante o Fórum de Davos, em janeiro de 2020, quando a cúpula da OMS (Organização Mundial da Saúde) se dividiu sobre declarar ou não uma emergência global.
O ex-ministro alega que a demora da OMS em sinalizar a pandemia atrasou as medidas no Brasil, mas que alertou o presidente Jair Bolsonaro sobre a gravidade da situação quando o governo confirmou o primeiro caso no país.
“Quando tivemos o primeiro caso no Brasil e o sistema de saúde da Itália caiu. Mas ele começou a entrar na mesma vibe do Trump, não dimensionou. Ele tinha uma viagem aos EUA. Eu já estava dando o alerta, tinha de fazer um plano de biossegurança. Eles não queriam usar nem álcool em gel para não transparecer preocupação”, disse.
Ex-ministro não se arrepende de liberar cloroquina
Em 16 de abril, Mandetta foi demitido. Em retrospecto, ele diz que não se arrepende de nada, nem mesmo de liberar o uso da cloroquina, que ficou comprovado não ter eficácia contra a doença. “Naquele momento havia consenso sobre uso compassivo, inclusive pela OMS, como uma última tentativa. Autorizei para uso hospitalar. Agora, colocar isso na rede, recomendar tratamento com cloroquina, aquele negócio, aquilo não”.
“Na semana anterior à minha saída, após uma reunião com o presidente em que todo mundo dava como certo que eu seria demitido, me chamaram numa sala onde estava a Nise Yamaguchi (médica defensora da cloroquina) e muitos ministros. Eu cheguei na reunião e havia uma minuta de decreto, mas não oficial, em papel timbrado, com sugestão para que a Anvisa colocasse indicação para covid na bula da cloroquina. Eu olhei para o presidente da Anvisa e ele disse que não faria aquilo em hipótese alguma. Eu disse: o presidente está extrapolando”, completou.
Mandetta ainda critica as ações atuais do Ministério, que segundo ele, perdeu boa parte da equipe técnica. “Vamos passar pela sazonalidade, mas com a nova cepa. Vimos isso na região Norte, onde faltou oxigênio, o que é uma barbeiragem enorme. O Brasil não estuda a nova cepa e o ministério fez um movimento errado de tirar os pacientes de Manaus de qualquer jeito. Ele plantou a nova cepa em todo o País. A gente tem uma situação em que a cepa mais transmissível anda de Ferrari. Já a campanha de vacinação vai de carroça”, resumiu.