O líder do Novo na Câmara, Paulo Ganime (foto), disse já ter ouvido relatos de prefeitos e parlamentares sobre como funcionariam os esquemas de corrupção envolvendo emendas.
Ele comentou a reportagem de capa da Crusoé com O Antagonista.
“Já ouvi relatos de prefeitos e outros agentes políticos, ex-prefeitos, e inclusive de parlamentares, que, quando o prefeito solicita a demanda de emenda para o seu município, de forma até legítima, já há uma contrapartida demandada por esses parlamentares”, disse.
“Às vezes, [essa contrapartida] é retorno financeiro, ou seja, aquele famoso 10%, 15% da emenda. Às vezes, é a escolha de secretariado ou até mesmo [indicação para] empresas públicas municipais. Ou [o parlamentar exige] que seja escolhida, no edital de quem vai executar o serviço ou a obra, a empresa que seja indicada pelo parlamentar.”
O parlamentar afirmou que esse esquema “já existe para as emendas impositivas”, aquelas que são constitucionais e às quais todo congressista tem direito anualmente. Com a criação das chamadas emendas de relator, que resultaram no orçamento secreto do governo de Jair Bolsonaro, deu-se “mais margem para a corrupção”, na avaliação de Ganime.
“Esse problema [de corrupção] já era possível no modelo já existente. Agora, quando você coloca o orçamento secreto, você não só aumentar o potencia desse dano, porque a gente está falando de muito mais recursos, como dá mais margem para a corrupção, para a fraude, para o uso político das emendas. As emendas de relator facilitam ainda mais o esquema de corrupção”, acrescentou.
Ganime ainda disse que as emendas — as impositivas e, sobretudo, as de relator — também são usadas para garantir apoio político em municípios considerados importantes para a reeleição dos parlamentares.
“Ele [o parlamentar] destina emenda para o município [do prefeito] que vai apoiá-lo eleitoralmente. Apesar de ser legítimo, regular, isso faz com que o parlamentar aumente ainda mais a sua chance de ser reeleito, dificultando a renovação política. E faz com que, no final, ele [o parlamentar] destine os recursos não necessariamente para onde mais necessita [de investimentos públicos] ou para o melhor projeto, e, sim, para o prefeito que vai garantir [a ele] apoio político. Todo esse modelo é péssimo, não melhora a democracia. Pelo contrário: faz com que quem está no poder continue no poder.”
A Crusoé obteve imagens exclusivas, feitas pela Polícia Federal, do deputado federal Josimar Maranhãozinho, cacique bolsonarista do PL, com uma bolada de dinheiro nas mãos, que, segundo a PF, é de emendas do chamado orçamento secreto. Não há, até hoje, nenhuma prova mais eloquente da corrupção envolvendo a farra de emendas por meio da qual o governo de Jair Bolsonaro tem comprado apoio político no Congresso. Clique aqui e veja as imagens e leia a reportagem completa.