A empresa Gráfica Jafar Ltda, também conhecida pelo nome fantasia Gráfica Alvorada, está na lista das empresas investigadas pela Operação Lama Asfáltica, deflagrada dia 9 de julho, que averigua a existência de um esquema de corrupção que desviou mais de R$ 11 milhões dos cofres públicos.
Conforme documentos obtidos pelo Top Mídia News, as investigações apontam que o proprietário da Gráfica Alvorada, Mirched Jafar Junior, teria realizado diversos pagamentos de propina para agentes públicos em troca de favorecimento nas licitações realizadas pelo governo estadual.
De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), Junior, como era conhecido o empresário, pagava propinas para o ex-secretário-adjunto de fazenda, André Luiz Cance, para o ex-governador André Puccinelli (PMDB) e para o proprietário da Proteco Construções Ltda, João Amorim – que também é apontado como um dos principais líderes da organização criminosa.
A Polícia Federal interceptou uma ligação telefônica, realizada em 17 de dezembro de 2014, em que Cance pede que João Amorim empreste o “cheio de charme”, codinome para a aeronave do empresário, para que Junior viaje a Brasília, e destaca que o dono da gráfica seria o único disposto a cumprir o acordo, possivelmente o pagamento de propinas.
Em resposta, João Amorim garante que irá emprestar o avião desde que ele se responsabilize pelo combustível e ainda fala em “calote” dos demais envolvidos. Cance explica que ainda é possível receber o benefício, possivelmente a propina, mas não sabe se ela vai chegar até o dono da Proteco.
Nas investigações, Cance é apontado como braço direito do ex-governador André Puccinelli e intermediário no recebimento de propinas. Em ligação interceptada pela Polícia Federal no dia 22 de dezembro de 2014, o peemedebista convoca uma reunião com o então secretário-adjunto para que “tenha uma boa alvorada”.
Segundo o MPF, Cance ligou para Junior, da Gráfica Alvorada, minutos depois e marcou um encontro para recebimento do dinheiro. Já no dia 26 de dezembro, Puccinelli cobrou os “documentos” da gráfica para fazer a prestação de contas.
Uma quarta pessoa ainda não revelada também poderia estar envolvida, sendo que ela receberia parte do valor entregue ao ex-governador. O MPF considera que essa informação fica subentendida em conversa entre Cance e João Amorim, interceptada em 29 de dezembro de 2014.
O órgão de fiscalização também garante que Puccinelli tinha conhecimento da estrutura da organização e do seu modus operandi, contribuindo com as atividades ilícitas a partir do cargo que ocupava, inclusive intermediando pessoalmente a prorrogação de contratos que foram fraudados na origem e na execução. Leia mais aqui.
Em relação à Gráfica Alvorada, a participação do chefe de Estado no esquema ficaria comprovada através de pagamento de R$ 13 milhões para a empresa, realizado dia 31 de dezembro de 2014, último dia de gestão do governo peemedebista. Veja um trecho do inquérito:
Edição: Geovanni Gomes
O empenho chegou a ser criticado pelo sucessor, governador Reinaldo Azambuja (PSDB), em janeiro deste ano. Na ocasião, ele destacou que o ato estava “sob suspeição” e seria investigado. Ainda segundo ele, o peemedebista deveria ter se preocupado em comprar os kits escolares que atenderiam cerca de 300 mil alunos da Rede Estadual de Ensino.
Operação
A Operação Lama Asfáltica investiga uma organização criminosa que teria fraudado diversas licitações em obras públicas de Mato Grosso do Sul. Os suspeitos teriam cometido os crimes de sonegação fiscal, formação de quadrilha, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva e fraudes à licitação.
O nome da operação faz referência a um dos insumos utilizados em obras com indícios de serem superfaturadas identificadas durante as investigações. Durante o cumprimento de mandados e apreensão na casa dos envolvidos, a polícia apreendeu documentos, uma obra de arte e mais de R$ 747,9 mil, em moedas nacionais e estrangeiras.
Entre os contratos com indícios de fraude aparecem as licitações para a pavimentação da MS-430, que liga o município de São Gabriel do Oeste a Rio Negro, o aterro sanitário de Campo Grande, o Aquário do Pantanal e as Avenidas Lúdio Coelho Martins e Duque de Caxias. Para entender o papel dos suspeitos já divulgados, leia mais aqui.