Não bastassem as suspeitas de irregularidade de superfaturamento na principal obra do ex-governador André Puccinelli (PMDB), o Aquário Pantanal, que já consumira em torno de R$ 300 milhões e ainda não fora concluída, parte do custo da construção, R$ 10 milhões, foi pago com popina. Isso quem diz é denúncia do MPF (Ministério Público Federal), que afirma que o valor foi financiado pela JBS, uma das maiores indústrias de alimentos do planeta e que financiava campanhas de políticos em quase o Brasil todo.
JBS, diz a denúncia, dava dinheiro às gestões de Puccinelli (2007-2014) pela liberação de incentivos fiscais, como a renúncia de impostos.
Puccinelli teria dito aos donos da JBS, Joesley e Wesley, que entregassem dinheiro para a construtora que atuava nos canteiros de obra do Aquário porque o Estado “já não tinha mais dinheiro”.
Tais depoimentos suscitam uma questão capciosa: se o ex-governador disse não “ter mais dinheiro” para terminar a obra, para onde teria ido, de fato, os milhões de reais que saíram dos cofres estaduais para erguer o Aquário?
Em depoimento a PF, em 6 de dezembro do ano passado, oito meses atrás, Joesley disse:
“Mais perto do fim do ano [dezembro de 2014], o Puccinelli, eu tive com o Puccinelli lá no Palácio do Governo [Parque dos Poderes], onde o Puccinelli me pediu já indo pro finalmente do Governo dele, que eu ajudasse ele, que pagasse em torno de R$ 10 milhões pra uma empresa construtora, que tava construindo um aquário, uma obra do Estado, foi até curioso, que ele me disse o seguinte, história que ele contou né: olha o orçamento do Estado acabou para construir o aquário, faltam R$ 10 milhões mais ou menos, e, foi o pedido que o Puccinelli fez a mim, dizendo o seguinte: gostaria que se você pudesse pagar R$ 10 milhões da propina devida a mim e pagasse essa empresa”.
Essa declaração foi dada em São Paulo aos delegados da Polícia Federal, Marcos Damato e Cleo Mazzotti, que atuam na operação deflagrada em julho de 2015 e que revelou um suposto megaesquema de corrupção praticado nas gestões de Puccinelli.
Disse ainda, Joesley: “na lógica dele [Puccinelli] ele dizia o seguinte, que absurdo eu estou pegando dinheiro meu para concluir uma obra do Estado. Meu entre aspas (“) de propina. Enfim, eu não conheço essa construtora, eu não sei a veracidade disso, desse fato ou não, eu sei que apareceu lá as notas, o Cance me levou lá as notas, de uma construtora, a gente pagou, tipo R$ 9 milhões ou R$ 10 milhões, uma coisa assim, tem nos registros nossos, e foi pago isso. Devido a esses R$ 10 milhões, o crédito dele aí diminuiu bastante o saldo positivo que ele teria até o fim do ano”.
O delegado Damato questiona: construtora Proteco?
Wesley Batista, irmão de Joesley, responde: “De nome, construtora Proteco, Gráfica Alvorada, Ícone, todas essas eram notas que o Ivanildo trazia com a conta corrente e o Demilto ou o Boni autorizava a pagar, eu autorizava, mas num tenho conhecimento, é, dos proprietários, de quem quer que seja e nunca foi prestado serviço, ali eram só notas fiscais sem prestação de serviço”. No caso, Wesley reforçou aos delegados que os R$ 10 milhões seriam dinheiro de propina, não recurso pela empreiteira ter feito algum serviço para a JBS.
Os irmãos citam nomes como Cance [André Luiz Cance], que ocupou cargo importante na gestão de Puccinelli; Demilton e Boni, empregados da JBS e Ivanildo [da Cunha Miranda] delator da Lama Asfáltica e arrecadador e propina para Puccinelli. Ivanildo prometeu na Justiça Federal que vai devolver R$ 3 milhões ao Estado, em parcelas.
Proteco é construtora de João Amorim, o empreiteiro que reinava nas licitações por obras na gestão Puccinelli. Ele está preso por participação no esquema. O Aquário Pantanal, construído nos altos da Avenida Afonso Pena, em Campo Grande, está com a obra suspensa pelo atual governo. Hoje, a continuidade da construção tem sido debatida na Justiça.
Pucinelli está preso desde o dia 20 de julho, 17 dias atrás. Pela prisão, ele renunciou a condição de pré-candidato ao governo de MS. O pedido de liberdade dele depende do STF (Supremo Tribunal Federal), corte que examina a apelação.