O presidente Jair Bolsonaro falou sobre a pressão em cima de seu governo em entrevista publicada na manhã desta sexta-feira pela revista "Veja". À publicação, Bolsonaro disse que sofre "sabotagens" e criticou a influência da esquerda sobre o Ministério da Educação e da Defesa.
"É uma luta de poder. Há sabotagens às vezes de onde você nem imagina. No Ministério da Defesa, por exemplo, colocamos militares nos postos de comando. Antes, o ministério estava aparelhado por civis. Havia lá uma mulher em cargo de comando que era esposa do 02 do MST. Tinha ex-deputada do PT, gente de esquerda... Pode isso? Mas o aparelhamento mais forte mesmo é no Ministério da Educação", disse o presidente.
Ele disse não ser contra as escolas e universidades ensinarem sobre Che Guevara, guerrilheiro líder da Revolução Cubana, desde que também se fale aos estudantes sobre o coronel Brilhante Ustra, apontado como torturador na Ditadura Militar.
O presidente também afirmou que falta "patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil". Ele revelou sentir "uma pressão muito grande" no cargo sob as acusações de não ter governabilidade. "Mas o que é governabilidade?", perguntou.
"Já passei noites sem dormir, já chorei pra caramba também. Angústia, né? Tá faltando o mínimo de patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil. Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem. Mas é uma missão", disse. Em duas horas de entrevista, o presidente afirmou que já cumpriu promessas de campanha como "indicar um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo constitucional de independência dos Poderes".
Ele também falou sobre o alcance da publicação dos atos do governo nas redes sociais e afirmou que o "sucesso" se deve a seu filho Carlos Bolsonaro. O presidente, no entanto, reconheceu a "impetuosidade" do vereador do Rio, que é conhecido por discutir até com aliados do pai. "O Carlos tem muita impetuosidade, quer resolver as coisas muito rapidamente. De vez em quando há um atrito entre mim e ele em função da velocidade com que ele quer resolver as coisas", revelou.
O presidente também admitiu estar preocupado com a quebra de sigilo de outro filho, o senador Flávio Bolsonaro. "Se alguém mexe com um filho seu, não interessa se ele está certo ou errado, você se preocupa", disparou. Ele argumentou que os documentos das transações atribuídas a Flávio estão em cartório e disse não ver nada de errado na situação. Mas reconheceu que há dinheiro de funcionários na conta do ex-assessor Fabrício Queiroz.
"Estou chateado porque houve depósitos na conta dele, ninguém sabia disso, e ele tem que explicar isso daí. Eu conheço o Queiroz desde 1984. Foi meu soldado, recruta, paraquedista. Ele era um policial bastante ativo. E você sabe que lá no Rio você precisa de segurança. Eu mesmo já usei o Queiroz várias vezes. Então existe essa amizade comigo, sim. Pode ter coisa errada? Pode. Mas tem o superdimensionamento porque sou eu, porque é meu filho".
Ele também negou que Olavo de Carvalho tenha influência em seu governo. "Quantas vezes eu fui chamado de ladrão, safado, sem-vergonha, homofóbico, racista. Eu fico quieto? Agora, se ele responde às agressões de lá... O Olavo não faz por maldade. Ele, pela idade talvez, quer as coisas resolvidas mais rápido", amenizou.
PSL e Lula
O presidente também falou sobre o PSL. Bolsonaro destacou que a legenda foi criada em março do ano passado e se engajou em um trabalho "hercúleo" de buscar pessoas. Ele afirmou que ele e a equipe foram "pegando qualquer um" para "quebrar um galho".
"Por isso o pessoal chegou aqui completamente inexperiente, alguns achando que vou resolver o problema no peito e na raça. Não é assim", disse o presidente, que não planeja uma mudança de partido. "Quando a gente casa, a gente jura amor eterno", afirmou.
Ele também disse que caso consiga uma boa reforma política, topa "ir para o sacrifício" e não disputar a reeleição.
Questionado sobre as críticas sobre ele e seus filhos nas redes sociais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro relembrou os 15 anos nos quais ficou preso por defender o aumento de salário para militares em um artigo publicado na "Veja".
"Mesmo dentro do quartel você sente. Imagine o Lula dentro de uma cela. O cara sente. Ele saiu de uma situação de líder para a de um cara preso, condenado por corrupção. Apesar disso, não tenho nenhuma compaixão em relação a ele. Ele estava trabalhando para roubar também a nossa liberdade".