A reunião da Executiva nacional do PSDB em Brasília nesta terça-feira se transformou numa lavagem de roupa suja. O candidato derrotado do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, que preside a sigla, insinuou que o candidato a governador de São Paulo, João Doria, é "traidor" no meio de uma discussão na frente de todos os integrantes da cúpula tucana.
- Traidor eu não sou - disse Alckmin para Doria.
O desabafo ocorreu quando o candidato a governador reclamava que ainda há seis tucanos disputando governos estaduais no segundo turno e que o partido deveria ter se preparado melhor para isso, cobrando posicionamento contra o PT e recursos como apoio. A discussão entre Alckmin e Doria teve dedo em riste por parte do presidenciável derrotado e pedido de "calma" pelo candidato a governador.
A reportagem do Globo teve acesso, durante o encontro, a mensagens trocadas por tucanos relatando o que acontecia a portas fechadas na sede nacional do PSDB. Uma delas reportou "pau quebrando" ao se referir ao encontro. A reunião durou cerca de três horas.
A relação entre os dois não é boa há tempos. A campanha presidencial tucana acusa o candidato a governador de não ter trabalhado pelo presidenciável. Aliados de Alckmin também farejaram uma tentativa de Doria, após o primeiro turno, de tirar Alckmin da presidência da sigla.
No domingo, um aliado de Doria, Orlando Morando, prefeito de São Bernardo do Campo (SP), disse em entrevista ao Globo que o partido deveria antecipar a troca de sua direção porque a cúpula partidária estava ocupada por tucanos derrotados na eleição.
Liberação para o segundo turno
A direção partidária decidiu pela liberação de seus filiados para se posicionarem no segundo turno presidencial. Na chegada para a reunião, em Brasília, João Doria reafirmou o apoio ao presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. Ao chamar de “fantoche” Fernando Haddad (PT), o candidato que substituiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano afirmou que iria defender o apoio a Bolsonaro na reunião que decidirá os rumos do partido neste segundo turno.
Doria saiu antes do final do encontro e admitiu que houve discussão na reunião. Perguntado se havia sido chamado de "traidor" por Alckmin, Doria respondeu:
- Se o Geraldo teve algum momento de dissabor, da minha parte tem o meu perdão. Nada que possa abalar nossas relações.
Aos jornalistas, ele contou que reclamou junto ao tesoureiro do PSDB, Silvio Torres, a falta de planejamento e que foi neste momento que Alckmin se irritou.
- Houve uma manifestação minha que não foi bem recebida pelo presidente da Executiva nacional - disse.