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Polícia

26/12/2018 08:41

Suspeito esfaquear e matar gay em via pública é preso, mas nega crime de homofobia

Suspeito confessou ter golpeado cabeleireiro com canivete em legítima defesa após confusão com grupo na última sexta (21) ao brincar: 'anda que nem homem'

A Polícia Civil prendeu um homem suspeito de ofender, esfaquear e matar o cabeleireiro gay Plínio Henrique de Almeida Lima, de 30 anos, na última sexta-feira (21), na Avenida Paulista, região central de São Paulo. Segundo a investigação, o cozinheiro Fúvio Rodrigues de Matos, de 32 anos, confessou o crime, mas negou que a motivação tenha sido homofóbica.

Câmeras de segurança de ruas próximas e do Metrô, que gravaram parte da confusão e a fuga do assassino, ajudaram a polícia a localizar e prender o auxiliar de cozinha nesta terça-feira (25). Fúvio foi reconhecido pelas testemunhas do caso, outros três homossexuais que estavam com a vítima, como o homem que esfaqueou Plínio. Segundo o marido de Plínio e um casal de amigos gays deles contaram à polícia, o agressor havia ameaçado antes o grupo, dizendo que "gays têm de morrer".

Mas em entrevista nesta quarta-feira (26) ao Bom Dia SP, o delegado Hamilton Costa Benfica, do 78º Distrito Policial (DP), nos Jardins, disse que Fúvio, deu outra versão: além de negar a homofobia, contou ter agido em legítima defesa. O G1 não conseguiu falar com o investigado ou com sua defesa para comentar o assunto.

Segundo a autoridade policial, o cozinheiro alegou que golpeou o peito de Plínio com um canivete para se defender dele e de outros três amigos após uma confusão. Antes, ainda de acordo com a polícia, o auxiliar de cozinha falou que caminhava com um amigo, e que fez uma brincadeira com o grupo, dizendo "anda que nem homem", mas os rapazes se ofenderam e partiram para cima dele.

"Ele [Fúvio] confessa o crime, mas, segundo ele, fala que foi se defender. Ele está dando a versão que foi se defender dos quatro rapazes e desferiu o golpe com o canivete. Ele nega a motivação homofóbica. Segundo ele, subia com um colega de trabalho a [Avenida] Brigadeiro [Faria Lima], fez uma brincadeira quando uma pequena chuva começou, e nessa brincadeira [disse]: 'anda que nem homem'. Os rapazes que também subiam à [Avenida] Paulista, o casal homossexual, com outros dois colegas, eles teriam ouvido essa frase e começou um desentendimento", disse o delegado sobre o que contou ter ouvido do cozinheiro em seu interrogatório.

"Já os outros três rapazes [negam veementemente, eles falam com muita clareza que o tempo todo Fúvio vinha falando frases de cunho homofóbico, provocando, falando frases bem fortes, tipo: 'seus bichinhas etc', e no final falou ainda: 'gays têm de morrer'. E foi o momento do entrevero entre as partes, e que Fúvio acabou desferindo com canivete, ferindo o peito da vítima", explicou Hamilton.

Com Fúvio a investigação informou ter apreendido o canivete usado no assassinato do cabeleireiro. A Justiça decretou a prisão temporária de 30 dias do investigado. Ele deverá ser indiciado pela polícia por homicídio qualificado por motivo fútil.

Para a polícia, o cozinheiro teve a intenção de matar o cabeleireiro pelo fato de ele ser homossexual. Segundo a investigação, testemunhas contaram que a vítima, o marido dela e um casal de amigos gays foram vítimas de xingamentos homofóbicos. "É um homicídio no meu entender de forma qualificada porque a questão homofóbica é o motivo fútil", disse. "Uma pena muito alta: 12 a 30 anos, que é justificada por tirar a vida de uma pessoa por um fato tão banal".

Essa versão é diferente da apresentada por testemunhas do crime, que também reconheceram Fuvio como o assassino de Plínio. Elas disseram que o cabeleireiro, o marido dele e um casal de amigos gays foram xingados pelo cozinheiro de “viadinho, menininha”. Ainda de acordo com as testemunhas, Fuvio também ameaçou o grupo, dizendo “seus gays, merecem morrer”.

Mas ao ser interrogado, segundo a polícia, Fuvio alegou que estava caminhando ao lado de um amigo e encontraram Plínio e as outras três pessoas. Em seguida brincou com o grupo, que iniciou uma discussão. Nisso, ainda de acordo com a polícia, o cozinheiro tirou um canivete da mochila e atingiu a barriga do cabeleireiro, mas contou que não queria confusão e se disse arrependido. Na delegacia, ele também teria dito que não sabia da morte de Plinio.

A Polícia chegou até o cozinheiro após analisar câmeras de segurança da rua que gravaram parte da confusão e vídeos do Metrô, informações do bilhete únicos . Os investigadores identificaram o amigo do cozinheiro e depois localizaram Fuvio, que foi detido no hotel no bairro Paraíso, Zona Sul da capital, onde trabalha como auxiliar de cozinha.

Ainda segundo relato dos amigos da vítima, quando Plínio foi conversar com um dos homens para que ele parasse os xingamentos, o assassino sacou uma faca e o esfaqueou. A dupla fugiu após o crime. Câmeras de segurança da esquina da Avenida Paulista com a Rua Brigadeiro Luís Antonio não mostram o momento da facada, mas registram a discussão entre Plinio, seu marido e o casal gay contra o agressor.

O outro homem que acompanhava o esfaqueador não ofendeu o grupo de gays, segundo a testemunha. E ainda tentou impedir o colega, pedindo que não xingasse os homossexuais. Pelas imagens, é possível ver Plínio erguendo a camiseta ao notar que havia sido esfaqueado no peito. Em seguida, o agressor e amigo dele fogem. Câmeras de segurança do Metrô também mostram o agressor passando pelas catracas de uma estação.

O cabeleireiro foi socorrido e levado ao Pronto-Socorro do Hospital das Clínicas, onde não resistiu ao ferimento e morreu. Além de trabalhar em casa como cabeleireiro, Plínio complementava a renda fazendo serviços como auxiliar de cozinha e garçom em restaurantes.

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