A saudade está presente na vida de Beatriz Ximenes, 39 anos, há quase seis meses. Ela é mãe de Gabrielly Ximenes, 10 anos, que morreu no dia 6 de dezembro de 2018, dias após apanhar na saída da Escola Lino Villachá, no bairro Nova Lima, em Campo Grande. O choro acompanha a mulher diariamente pela falta da filha do meio.
“É difícil, chegamos em casa, olho para sala, só estão as duas filhas, antes eu tinha três, hoje em dia falta uma. Tudo que vou fazer, olho para trás e falta uma. Dói demais, a saudade cada dia que passa só aumenta, é difícil, me dói demais e vai doer para sempre”, diz a mãe.
Beatriz afirma que às vezes entra em pânico até no ambiente de trabalho. “Eu choro todos os dias, aqui no meu serviço, tem horas que tenho crise de choro, preciso parar o que estou fazendo, vou para o banheiro, choro. Cada dia que passa dói mais, a falta, a saudade, o carinho, escutar a voz dela. Foi o pior dia das mães da minha vida”.
Para Beatriz, ver as suspeitas de agredirem Gabrielly caminhando normalmente pela rua é chocante. “A gente fica pensando 'por que, meu Deus? Por que aconteceu isso?' Ninguém dá resposta, as meninas que agrediram ela estão normal, como se nada tivesse acontecido, ninguém dá resposta de nada. Eu vejo as meninas na rua, como se nada tivesse acontecido, as mães delas andam normal. As mães foram na apresentação da escola, receberam cartinhas, flores, e eu não tive nada disso”.
Ao verificar se as outras duas filhas estão bem durante a madrugada, Beatriz sofre pela falta da filha do meio no quarto. “Cada dia que passa, eu olho o quartinho dela, a noite eu levanto para ver se minhas filhas estão com frio, no calor para ver se ventilador está ligado e está faltando ela na cama dela. Cada dia que passa, a saudade aumenta, dor no peito aumenta, noites sem dormir, dias sem comer, é bem complicado, nossa vida parou. Não é mais como era antes”.
Laudo
Em fevereiro deste ano, a delegada da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), Ariene Murad, confirmouque a menina Gabrielly Ximenes de Souza, 10 anos, morreu no dia 6 de dezembro de 2018, em decorrência das agressões que sofreu no dia 29 de novembro de 2018, na escola Lino Vilachá, localizada no bairro Nova Lima, em Campo Grande.
“O laudo conclui que a causa da morte foi tromboembolismo pulmonar provocado por artrite séptica. Temos um laudo do Instituto de Medicina e Odontologia Legal, um laudo de necropsia que o perito fez exame anátomo patológico, onde cinco órgãos foram analisados. Ficou pronto após dois meses e meio da morte da criança porque requer muitos detalhes. A criança só morreu porque houve trauma”, diz a delegada.
O TopMídiaNews entrou em contato novamente com a delegada, que informou que o caso foi encaminhado para o juizado da infância. A equipe entrou em contato com a advogada da família de Gabrielly, que ficou de encaminhar informações sobre o andamento do caso, mas até o fechamento desta matéria, nenhuma informação foi repassada.
O caso
Gabrielly Xinemes teria sido espancada após o horário de aula por uma criança de 10 anos e outras duas meninas de 13 anos. O caso ocorreu no dia 29 de novembro de 2018 na saída da escola Lino Vilachá, no bairro Nova Lima em Campo Grande. A família teria acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e a criança foi atendida na Santa Casa. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, Gabrielly passou por exames e nenhuma lesão foi constatada.
Em casa, a menina começou a reclamar de dores na virilha. Ela foi levada para uma Unidade de Saúde, em seguida par ao Cem (Centro de Especialidades Médicas). “Colocaram uma tala na perna dela, mas ela sentiu mais dores ainda. A dor era na virilha e não na perna. Chegou um momento, que minha filha começou a ficar muito febril e não andava mais, daí levamos ela novamente na Santa Casa”, conta o pai.
A menina deu entrada na Santa Casa, passou por exames, que constataram que a menina estava com artrite séptica (infecção no líquido e tecidos de uma articulação, geralmente causada por bactérias, mas ocasionalmente por vírus ou fungos). Ela passou por cirurgia, teve quatro paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.