As informações sobre os suspeitos de fuzilarem o sargento aposentado da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins de Figueiredo, 62, seguem restritas. Conforme o delegado Marcio Shiro Obara, da DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), por enquanto, o caso segue em sigilo para não atrapalhar as investigações da polícia.
“Estamos investigando, não podemos passar maiores informações sobre os fatos, mas estamos trabalhando no caso”, disse a autoridade.
Ilson foi assassinado com cerca de 20 tiros de fuzil no dia 11 de junho deste ano, há três meses, na Avenida Guaicurus, na Capital. Ele chefiava a segurança da Assembleia desde 2015. O sargento estava em um veículo que foi cercado por pistoleiros, que realizaram os disparos. Figueiredo morreu no local.
(Local onde o PM morreu. Foto: Anna Gomes)
Passado do sargento
O PM movia, desde o ano passado, em 2017, uma ação indenizatória contra o Estado, em que pedia em torno de R$ 200 mil. Em agosto de 1982, Figueiredo, então cabo da PM, dois soldados e outro cabo, foram presos suspeitos de assaltar um posto de gasolina, uma casa lotérica e de matar duas pessoas.
Quinze dias depois das prisões, contudo, um homem foi capturado pela Polícia Civil e confessou os crimes, antes atribuídos aos militares em questão. Daí o sargento, que a partir de 2015 passou a chefiar o departamento de segurança da Assembleia Legislativa, foi posto em liberdade.
Ocorre que em março de 2015, Figueiredo e a família viajavam e, numa barreira policial, foram parados. Havia no cadastro do Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional), onde consta a relação de pessoas encrencadas judicialmente, o nome do militar.
De acordo com o processo de ação indenizatória, assinado pelos advogados Elenice Pereira Carrile e Jorge Luiz Martins Pereira, o Sigo mencionava o processo contra Figueiredo “em aberto”, ou seja, como se ele ainda respondesse pelo crime de 1982.
À época, o jornal impresso de Campo Grande, o Diário da Serra, já extinto, noticiou a prisão de Figueiredo:
“Dois cabos e dois soldados da Polícia Militar são os autores dos assaltos a mão armada ao Posto Imbirussu [Jardim Leblon], de onde levaram trinta mil cruzeiros, casa Lotérica localizada na rua 14 de julho, proximidades do prédio do Comando de Policiamento da Capital, levando a quantia de 300 mil cruzeiros”.
De acordo com o jornal, a informação foi repassada à imprensa, na época, pelo coronel José Maria de Paula Pardo, então comandante da PM de MS.
Pela reportagem, foram detidos, além de Ilson Figueiredo, os soldados Leonildo Pereira da Silva, Edson José Fernandes, e o então cabo da PM, Fernando Pachal.
Conforme o processo que pede a indenização, “o autor [Ilson Figueiredo], quanto seus colegas de farda, foram execrados e humilhados publicamente, inclusive sendo atribuídos aos mesmos dois assassinatos".
Ainda segundo o processo “em consequência, tanto o autor quanto seus colegas citados, foram sumária e arbitrariamente expulsos e excluídos da Polícia Militar, permanecendo todos presos, sofrendo todo tipo de pressão, inclusive físicas para confessar o que não haviam cometido”.
Três semanas depois de detidos, a Polícia Civil prendeu um certo José Alcebíades, conhecido como pastor e que seria um latrocina [matava para roubar] e que confessou os crimes que tinham levado os militares para a prisão.
O crime
Ilson dirigia uma camionete Sportage de cor branca, quando teria sido cercado por uma caminhonete Toro de cor vermelha, onde os ocupantes dispararam vários disparos contra o policial, que perdeu o controle do carro e bateu contra o muro de uma empresa.
Logo depois, o veículo supostamente o usado pelos atiradores, foi localizado em chamas, noutra região da cidade, a Lagoa Dourada. Figueiredo tentou reagir ao ataque e pegou sua arma, dentro do carro, mas não conseguiu atirar nem sequer uma vez.
(Carro usado por atiradores foi achado queimado logo depois do crime. Foto: Anna Gomes)