O delegado da Polícia Civil Fabio Baena e o investigador Eduardo Monteiro, presos nesta terça-feira (17/12) por suspeita de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC), teriam recebido R$ 1 milhão para livrar Vinícius Gritzbach da investigação sobre a morte do líder da facção Aselmo Santa Fausta, o Cara Preta.
A informação consta no depoimento de Gritzbach à Corregedoria da Polícia Civil em 31 de outubro, oito dias antes de ele ser morto com 10 tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos.
De acordo com as informações prestadas pelo delator, o pagamento aos policiais civis teria sido feito pelo empresário César Trujillo no restaurante Sonora, no Jardim Anália Franco. O estabelecimento, diz Gritzbach, pertencia ao próprio César.
O pagamento ao delegado Fabio Baena e ao investigador Eduardo Monteiro teria sido feito em dinheiro vivo.
O depoimento de Gritzbach à Corregedoria menciona, ainda, que Baena teria recebido mais R$ 10 milhões de dois integrantes do PCC. São eles Rafael Maeda, conhecido como “Japa”, e Danilo Lima de Oliveira, o “Tripa”.
Os dois faccionados teriam participado do sequestro de Gritzbach em 2022. Na ocasião, ele foi submetido a um “tribunal do crime”, acusado de dar um golpe no PCC, desviando um investimento milionário em criptomoedas. Gritzbach sobreviveu após prometer que entregaria o dinheiro à facção, o que não ocorreu.
A investigação sobre o “tribunal do crime” foi conduzida pela 3ª Divisão de Homicídios do DHPP, que também era responsável por apurar a morte de Cara Preta. O departamento era chefiado por Fabio Baena.
Segundo Gritzbach, Japa e Tripa teriam desembolsado cada um R$ 5 milhões para não serem presos, mesmo tendo prisões temporárias decretadas.
Eduardo Lopes Monteiro
O policial civil Eduardo Lopes Monteiro fez duas sociedades para construção de imóveis de alto padrão e venda de carros esportivos importados.
Há um ano, Monteiro deixou as empresas, mas a mulher dele permaneceu nos quadros de funcionários. Nas empreitadas, ele se associou a um empresário que é filho de um ex-delegado do Departamento de Ordem Polícia e Social (Dops) acusado de tortura ao lado do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.
Monteiro é investigador policial de classe especial e ganha R$ 11,9 mil líquidos por mês. O policial civil foi citado pelo delator Vinícius Gritzbach como um dos agentes que cometeram “ilicitudes e arbitrariedades” na investigação sobre a morte do traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, pela qual era acusado.
Segundo Gritzbach, investigadores do caso pediram R$ 40 milhões em troca de deixá-lo de fora da lista de indiciados. Ele ainda relatou o sumiço de bens apreendidos, como relógios de luxo.
Fabio Baena Martin
Delegado de polícia desde 2002, Fábio Baena passou por importantes delegacias da capital antes de chegar ao DHPP, como a Delegacia de Combate ao Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro e Tráfico de Entorpecentes (Denarc) e pelo Grupo de Operações Especiais (GOE).
Após a morte de Cara Preta e Sem Sangue, Baena foi transferido do DHPP e passou pela Delegacia Geral de Polícia e pelo Cerco da 2ª Seccional.
O inquérito policial de homicídio, mencionado no depoimento, era o mesmo no qual Gritzbach era investigado pelo suposto envolvimento no assassinato de dois integrantes do PCC, facção que o havia jurado de morte e a qual ajudou na lavagem de dinheiro.
Para que seu nome também fosse retirado da investigação, como já mostrou o Metrópoles, os policiais teriam pedido R$ 40 milhões para o corretor, mas que não foram pagos.
Na época da morte de Gritzbach, a defesa dos policiais informou, por meio de notas enviadas por seus advogados, que as denúncias do delator do PCC seriam “especulações e falácias”, além de chamá-lo de “criminoso”.
Operação Tacitus
A Operação Tacitus, deflagrada nesta terça-feira (17/12), cumpre oito mandados de prisão e 13 de busca e apreensão. O objetivo é desarticular uma organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública (corrupção ativa e passiva).
Os mandados estão sendo cumpridos nas cidades de São Paulo, Bragança Paulista, Igaratá e Ubatuba.
Segundo o MPSP, provas obtidas em diversas investigações revelaram como os investigados se estruturaram para exigir propina e lavar dinheiro para suprir os interesses do PCC.
Os investigados vão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa e passiva e ocultação de capitais, cujas penas somadas podem alcançar 30 anos de reclusão.