Após 11 meses de investigação, a Polícia Civil do Rio de Janeiro encerrou na quinta-feira (9) o inquérito sobre o sumiço das três crianças desaparecidas em Belford Roxo, Morro do Castelar na Baixada Fluminense-RJ. Eles foram torturados e mortos por traficantes do CV (Comando Vermelho) acusados de furto de uma gaiola com pássaros.
Segundo o UOL, Alexandre da Silva, 11, chegou por volta das 11h30 de 27 de dezembro do ano passado na casa onde morava com a mãe e a avó no Morro do Castelar, na Baixada Fluminense. Acompanhado do primo Lucas da Silva, 9, e do amigo Fernando Henrique Soares, 12, ele acordou a mãe com um pedido de dinheiro.
Na ocasião, Lucas aproveitou para tomar banho e trocar de roupa. Em seguida, os primos deixaram a residência com pães para lanchar, levando inclusive para o amigo que os aguardava do lado de fora. Esse foi o último contato dos meninos com a família de Alexandre antes de desaparecerem.
A Polícia afirma que os garotos furtaram uma gaiola com passarinho de um tio de um dos traficantes da região, sendo mortos e tendo os corpos ocultados no mesmo dia.
Os corpos dos garotos até hoje não foram encontrados.
(Meninos antes andando antes da morte. Foto: Reprodução)
O que aconteceu?
1-Na manhã do dia 27, os meninos se reuniram para brincar em uma espécie de quadra na comunidade do Castelar.
2. Por volta de 11h30, foram até a casa de Alexandre. Era um dia chuvoso. Familiares relataram à polícia que os três saíram do imóvel sem gaiolas de passarinho.
3. Pouco depois de 13h, o trio deixa a comunidade do Castelar por meio de um buraco no muro do condomínio. Testemunhas relataram que as crianças carregavam duas gaiolas com pássaros e estavam a caminho da feira de Areia Branca —situada a 2 km de distância do Castelar. Uma das gaiolas teria sido furtada de um tio do traficante Wiler Castro da Silva, o Stala, um dos gerentes do tráfico de drogas da região.
4. Às 13h39, uma câmera de segurança grava os meninos a caminho da feira. Nas imagens, os garotos estão sem gaiolas. A polícia não soube dizer se as aves foram vendidas durante o trajeto ou guardadas em algum lugar.
5. Por volta de 14h, os meninos chegam juntos à feira, onde foram vistos por duas testemunhas.
6. No fim da tarde, eles retornam para comunidade do Castelar, onde são capturados por traficantes do CV que domina a região.
7. Levados para um beco, os meninos foram torturados, segundo a polícia, como retaliação pelo suposto furto das aves. Com a morte de um deles durante as agressões, os criminosos resolvem matar as outras duas crianças para tentar ocultar o crime.
8. A traficante Ana Paula da Rosa Costa foi incumbida de ocultar os corpos. Tia Paula, como era conhecida, chegou a um bar na garupa de uma moto, perguntou a dois homens que bebiam se eles sabiam dirigir e convocou um deles para uma "missão". O homem foi levado para o alto da comunidade e assumiu a condução do veículo com os corpos dos meninos —o motorista responde em liberdade por ocultação de cadáver.
9. A polícia estima que os corpos dos garotos foram deixados em um rio de Belford Roxo entre 18h e 20h.
Os cinco acusados
1-Edgard Alves de Andrade, o Doca, é apontado como chefe do tráfico de drogas no Castelar. Segundo a polícia, ele autorizou o "corretivo" nos meninos. Ele está foragido.
2. Outra liderança criminosa é José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha. Segundo a polícia, ele foi morto pelo "tribunal do tráfico". Juntamente com Doca, autorizava todo tipo de ação "corretiva" na comunidade. Uma testemunha-chave presenciou conversa em que Estala afirmou a outro criminoso que teve aval de Doca e Piranha para "dar um corretivo" nos meninos.
3. Wiler Castro da Silva, o Estala, é apontado como o principal articulador das mortes. Estala foi responsável por capturar as crianças. Ele também foi assassinado pelo CV, segundo a polícia.
4. A traficante Tia Paula saiu pela comunidade em busca de alguém que pudesse dirigir o carro que levou os corpos das crianças do alto do morro do Castelar até um rio. Segundo a polícia, ela foi assassinada.
5. Um quinto traficante, cuja identidade não foi revelada pela polícia, também responderá pelas mortes. Ele está preso.
Com exceção de Doca, que está foragido, a Polícia Civil diz acreditar que Estala, Piranha e Tia Paula estejam mortos após decisão da cúpula do CV em razão da repercussão do caso. Apesar disso, os três estão entre os indiciados pela morte das crianças.
Ainda segundo o UOL, sem corpos e provas concretas dos homicídios, eles são tratados como vivos durante o processo criminal.
O delegado Uriel Alcântara afirmou que há investigações paralelas para encontrar e agrupar provas dos homicídios. Quando isso acontecer, as acusações contra os três serão extintas.
De acordo com levantamento da Polícia Civil, Doca, Piranha, Estala e Tia Paula têm juntos 124 anotações criminais e já possuíam 29 mandados de prisão em aberto.