Mato Grosso do Sul ficou em terceiro lugar no ranking nacional de denúncias de violência contra crianças e adolescentes através do Disque 100, programa do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos (MMFDH). São 62 casos para cada 100 mil habitantes.
A situação só é pior no Distrito Federal (70) e no Rio de Janeiro (66). Rio Grande do Norte completa a lista dos estados mais perigosos com 61 denúncias por 100 mil habitantes, conforme levantamento feito pela Globonews.
Em números absolutos, que não considera o tamanho da população de cada região, os estados que mais utilizaram o Disque 100 para relatar situações de violência contra esse grupo foram São Paulo (23.870 denúncias), Minas Gerais (12.040) e Rio de Janeiro (11.470). Juntos, os três estados acumulam metade das denúncias do país em 2020.
É o maior índice desde 2013, 95.247 denúncias ao todo, o que equivale a uma média de 260 novos casos a cada dia. Esse tipo de violência foi o segundo mais denunciado na plataforma, ficando atrás apenas da violência contra a mulher.
Em nota, o Ministério diz que mudou a metodologia de contagem dos casos, por isso, o aumento já que o sistema passou a registrar o número de crianças agredidas, ao invés do número de denúncias. A pasta também diz que vem ampliando e melhorando os canais de denúncia de violência contra os Direitos Humanos.
Especialistas, no entanto, apontam para a subnotificação de casos já que a maioria das vítimas tem dificuldades para denunciar e também a efeitos da pandemia, com a maior permanência das crianças em casa, sem condições de pedir ajuda a terceiros.
Perigo que vem de casa
Em 67% das reclamações, o cenário da violência contra o menor é a própria casa onde residem a vítima e o suspeito. A maior parte das denúncias se refere a crianças entre 5 e 9 anos, e o principal agressor da vítima é o pai ou a mãe (59% dos casos), seguido por padrasto ou madrasta (6%), avô ou avó (3%), e tio (3%).
Deputada em Mato Grosso do Sul, Rose Modesto (PSDB) destacou as recentes mudanças na lei após a morte do menino Henry, de 4 anos, que teria sido agredido pelo padrasto até a morte, com a anuência da mãe. No entanto, ela alerta que o trabalho não pode parar aí, especialmente em relação ao acompanhamento dos sobreviventes.
“É preciso reconhecer que o Brasil fez avanços significativos na defesa da infância e da adolescência, com o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e com a aprovação, na última semana, do PL 4626/20, que endurece a pena para esse tipo de crime. Mas precisamos pensar em como reverter esses números e mudar a realidade de diversas crianças que não tiveram suas histórias divulgadas pela mídia, mas que se não forem socorridas, podem ter o mesmo triste destino de Henry. E digo mais: além de rever a proteção, precisamos trabalhar para reverter, também, os danos emocionais e psicológicos causados por tanto tempo de agressão e humilhações”.