Dois anos se passaram desde a morte de Gabrielly Ximenes, 10 anos, e a família ainda busca por justiça. As adolescentes envolvidas no crime não cumpriram qualquer tipo de medida socioeducativa, segundo a família.
A impunidade revolta principalmente a mãe de Gabrielly, Beatriz Ximenes, 41 anos, que até hoje não conseguiu voltar ao trabalho e nem dormir à noite. “Elas ficam impunes, não acontece nada com elas, enquanto minha vida parou. Até hoje não voltei ao meu trabalho, estou afastada, não durmo direito, minha vida parou enquanto a delas continua normalmente”, desabafa a mãe que trabalhava com serviços gerais.
Gabrielly morreu no dia 6 de dezembro de 2018, dias após ser espancada na porta da escola que estudava, Lino Villachá, no bairro Nova Lima, em Campo Grande. As duas meninas usaram mochilas para agredir a vítima, que chegou a ser socorrida e levada para o hospital, mas depois de alguns dias internada, não resistiu a uma cirurgia.
Por produzir as lesões corporais em Gabrielly, as menores foram qualificadas como adolescentes infratoras. As medidas socioeducativas que poderiam ser aplicadas a elas iam desde internação de até três anos, como também liberdade assistida pelo Conselho Tutelar, que seriam definidas pelo Juiz da Infância e Juventude. Porém, segundo Beatriz, nada foi feito. “Quem perdeu uma parte de mim foi eu, no meu coração está uma cicatriz que nunca vai cicatrizar, elas tiraram uma parte de mim, meu tesouro, minha princesa”, lamenta.
Questionada se havia procurado a Justiça para saber como está o andamento do processo, ela afirma que tentou, mas não obteve nenhuma resposta. ”Ninguém soube nos falar nada (sobre a falta de medidas socioeducativas para as menores), ainda mais com essa pandemia, parou tudo. Esse é o nosso Brasil, os bandidos e assassinos ficam livres, enquanto nós ficamos presos e de mãos atadas”, comenta.
O laudo da morte de Gabrielly ficou pronto dois meses após a sua morte e concluiu que as agressões praticadas pelas duas adolescentes contribuíram para uma lesão que desencadeou uma doença genética que Gabrielly tinha. A informação foi divulgada em fevereiro de 2019, pela delegada da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude), Ariene Murad.
“O laudo conclui que a causa da morte foi tromboembolismo pulmonar provocado por artrite séptica. Temos um laudo do Instituto de Medicina e Odontologia Legal, um laudo de necropsia que o perito fez exame anátomo patológico, onde cinco órgãos foram analisados. Ficou pronto após dois meses e meio da morte da criança porque requer muitos detalhes. A criança só morreu porque houve trauma”, diz a delegada.
O caso
Gabrielly Xinemes teria sido espancada, após o horário de aula, por duas meninas, com idades entre 10 e 13 anos. O caso ocorreu no dia 29 de novembro de 2018, na saída da escola Lino Vilachá. A família teria acionado o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e a criança foi atendida na Santa Casa. De acordo com a assessoria de imprensa do hospital, Gabrielly passou por exames e nenhuma lesão foi constatada.
Em casa, a menina começou a reclamar de dores na virilha. Ela foi levada para uma Unidade de Saúde, em seguida para o Cem (Centro de Especialidades Médicas). “Colocaram uma tala na perna dela, mas ela sentiu mais dores ainda. A dor era na virilha e não na perna. Chegou um momento, que minha filha começou a ficar muito febril e não andava mais, daí levamos novamente na Santa Casa”, conta o pai.
A menina deu entrada na Santa Casa, passou por exames, que constataram que estava com artrite séptica (infecção no líquido e tecidos de uma articulação, geralmente causada por bactérias, mas ocasionalmente por vírus ou fungos). Ela passou por cirurgia, teve quatro paradas cardiorrespiratórias e não resistiu.