O coreógrafo Tom Brasil procurou a delegacia na noite deste sábado (30), onde negou as acusações de assédio sexual feitas pela bailarina Cissa Nogueira. Ela alega que o professor teria usado de ameaças de afastá-la da companhia que dançava caso não aceitasse ter relações sexuais com ele, inclusive sem uso de preservativo. Já Tom, admite que ter praticado sexo com a jovem, mas conforme o coreógrafo, ' foi um relacionamento consentido'.
Conforme o boletim de ocorrência registrado como Calúnia na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) do Centro, Tom diz que por volta das 13h de ontem recebeu uma ligação de uma ex- aluna informando que Cissa teria usado as redes sociais para acusá-lo de assédio sexual.
Segundo o registro policial, o coreógrafo disse que Cissa já foi sua aluna, mas alega que as acusações seriam falsas e também destaca que em momento algum usou palavras de baixo calão contra a jovem. Tom confessou ter mantido relações sexuais com a bailarina, mas que nada seria forçado.
O homem diz que não tinha vínculo empregatício com a bailarina e que nunca teria exigido nada além da presença dela nos ensaios de dança, já que faziam apresentações em shows e em programas de TV. O coreógrafo alega que a postagem feita na rede social de Cissa seria uma forma de represália por ter sido afastada da escola de dança.
Contramão
Ao contrário do que o coreógrafo diz, Cissa destaca que os abusos começaram ainda no ano de 2010 quando ela virou bolsista na academia do professor onde participava de shows, programas de TV e outras atividades. “Qualquer coisa que surgisse”, afirma.
“Nesses dois anos fui abusada sexual, profissional, financeira, moral e psicologicamente. Eu e muitas outras meninas que passaram pelos seus “ensinamentos”. Durante esse período, dediquei quase 100% da minha vida aos compromissos com a academia. Estava presente em todas as aulas, saía para todos os cantos da cidade pra fazer divulgação além de me dedicar fortemente em defender o nome da escola por onde eu passasse”, afirmou na postagem.
(Cissa durante época que dançava na Capital. Foto: Reprodução Facebook)
Segundo ela, foram ofertadas várias possibilidades de realizar seu “sonho de dançarina. Tudo muito lindo para alcançar meus objetivos, já que eu era uma dançarina “com muito potencial”. Mas isso tudo tinha um preço: sexo. Eu tinha que transar para subir no palco. Eu tinha que transar sem camisinha porque “camisinha é muito ruim”. Se eu não transasse, no dia seguinte misteriosamente, eu era substituída em uma coreografia, ou num show, ou era dispensada de um ensaio. Um castigo leve de uma semana, mais ou menos”, continuou acusando, afirmando que devido a esse comportamento do professor ela teria tido várias doenças sexualmente transmissíveis.
“Meu celular era vasculhado. Se existisse qualquer vestígio de outra relação eu era chamada de puta. Assim, de graça mesmo. Eu só podia transar com ele. Não sei quantas vezes, durante esse período, eu precisei fazer tratamento ginecológico. Umas sete, pelo menos”, continuou narrando ainda que era violentada psicologicamente quando tinha relacionamentos com outras pessoas.
Mudança
Cissa disse que só começou a mudar tudo quando, desconfiada de uma gravidez, mais uma vez foi acusada de estar tendo outros relacionamentos e foi ofendida com nomes de baixo calão. “Nesse dia ele apanhou da minha raiva. Ele apanhou da minha indignação, do meu medo e do meu nojo. Esse abuso só acabou quando comecei a namorar”.
Foi aí que ela teria sido expulsa da companhia e acabou mudando de cidade para fazer faculdade em Brasília.
Apesar de saber que pode ser acusada de mentir, mas que falar sobre o assunto é uma libertação. “Eu não queria ter demorado tanto a falar sobre isso, mas ainda é muito difícil. A culpa e o medo que cerca esse meu discurso as vezes pesa mais do que a vontade de falar e sanar injustiças. São poucas pessoas que sabem dessa história e hoje eu quero que todo mundo fique sabendo. Ainda com medo, ainda com vergonha”, desabafou.
“A gente precisa entender que essa vergonha não nos pertence... não é nossa. Não foi culpa minha nem sua. Não tenha medo de falar, de gritar, não tenha mais vergonha disso. Não teremos. Não é justo que ele saia impune deixando esse trauma em mim. Não é justo comigo, não é justo com ninguém mais que tenha sofrido o mesmo. Não é justo”, finalizou.