Integrantes de organizações criminosas ligadas ao contrabando de cigarros podem se dar mal daqui em diante. Por acreditar na facilidade em atravessar o país com cargas ilegais e em penas pequenas em casos de prisões – de dois a cinco anos – é cada vez mais crescente o número de pessoas envolvidas nessa modalidade de crime.
Luciano Flores de Lima, superintendente da Polícia Federal, em Mato Grosso do Sul, afirmou que os planos das organizações devem ser frustrados com mudanças de foco na investigação. Sentenças pela prática de contrabando que alcançam, no máximo, cinco anos, pode superar a pena em até quadro vezes.
O recado do delegado da PF pode atingir em cheio os 28 policiais militares, presos recentemente em Mato Grosso do Sul por participar de esquema que ficou conhecido como a “máfia dos cigarreiros”.
Luciano Lima disse que as investigações contra organizações ligadas aos cigarros paraguaios podem ser incriminadas por contrabando, lavagem de dinheiro, associação criminosa e formação de quadrilha. “Isso dá uns 20 anos de cadeia”, assegurou o superintendente.
O delegado sustentou isso no sábado à tarde (16) ao revelar detalhes da operação que resultou na captura de 11 carretas carregadas com cigarros, na cidade de Ivinhema. Foi a maior apreensão, de uma só vez, de contrabando de cigarros vindos do Paraguai, segundo o superintendente.
O delegado afirmou que as grandes organizações criminosas têm deixado de lado o tráfico de drogas, cuja pena é bem maior (até 15 anos de prisão) e centrado os negócios no contrabando.
“Hoje os criminosos investem e muito no contrabando de cigarros. Neste, por exemplo, [de Ivinhema], a carga de cigarro apreendida envolvia em torno de R$ 11 milhões, fora o valor das carretas apreendidas, que também custa milhões. E não é só isso: além dos bens, do pagamento dos motoristas, outras pessoas, como os batedores [aquele que vai à frente dos comboios de caminhões] também são contratadas pelas organizações”, afirmou o policial, que acrescentou:
“Organizações como essas praticam outros crimes, como a lavagem de dinheiro, associação criminosa, por exemplo, e a pena deve crescer. O crime praticados não são apenas contrabando”, destacou o superintendente.
OPINIÃO
O advogado André Borges, concorda com o superintendente da PF e critica o que chama de “lacunas” da lei.
“Criminosos sempre buscam as brechas da lei. Legislação penal brasileira é ótima, para os bandidos (penas baixas, progressão de regime do cumprimento da pena etc). A polícia tem sido inteligente: enquadrando os acusados em vários e distintos crimes, que podem ter as penas somadas. Lavagem de dinheiro e organização criminosa são crimes novos, criados por leis federais - têm sido muito úteis no combate à criminalidade”, disse.
André Borges repreendeu ainda mais a legislativa brasileira ao sustentar que “o Brasil é engraçado: país pobre, quase miserável, mas com legislação sofisticada, quase sempre favorável a quem comete crimes”.
PRESOS
O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público sul-mato-grossense e a Corregedoria da PM-MS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) desarticularem duas semanas atrás um esquema de contrabando de cigarros que envolvia ao menos 28 policial com patentes de tenente-coronel a praças.
Os PMs agiram para a chamada “máfia dos cigarreiros” com milícia privada, ou seja, ao invés prender os contrabandistas, facilitava a vida dos criminosos. Pela missão inversa, integrantes da trama recebiam de propina até R$ 100 mil mensais. Todos estão presos.