Alan Hassem Salvatierra, morador de Guará, Brasília, disse atuar no mercado financeiro internacional há décadas e foi um das cerca de 60 mil vítimas de C. E. G. A, preso em Campo Grande desde novembro do ano passado na Ofir, operação da Polícia Federal que desmantelou o maior esquema de estelionato que se tem notícia em Mato Grosso do Sul.
Contrariando a maioria das vítimas da trama, que ainda sonha em ficar milionária com dinheiro prometido por C. E. G. A, Salvatierra acionou o preso na Justiça e pede dele R$ 1 bilhão.
Para entender esse assunto cujo trato sempre exige termos superlativos: C. E. G. A foi preso porque catava dinheiro das pessoas e prometia a elas ganhos gigantescos por meio de títulos antigos e de minas de ouro já desativadas no Brasil e exterior. Para a PF, tais jazidas nunca existiram e os papeis mostrados às vítimas que as comprovariam, todos, são falsos.
Alan Hassem disse ter conhecido C. E. G. A, que morava no conjunto habitacional Moreninha, em Campo Grande, por meio de um amigo. Num segundo diálogo, C. E. G. A pediu dinheiro emprestado a Hassem para uma viagem ao exterior.
Hassem pediu garantias e C. E. G. A mostrou a ele documentos com conteúdo atraente ao menos do ponto de vista financeiro. Papeis indicavam que C. E. G. A ia receber somas bilionárias.
Em troca do dinheiro emprestado, C. E. G. A propôs a Hassem um contrato com lucro aquém de qualquer plano financeiro ofertado pelo mercado financeiro brasileiro.
Hassem recusou a proposta do contrato, no entanto, disse a C. E. G. A que poderia ajudá-lo desde que assinasse uma nota promissória. “Nota promissória me dá direito ao crédito imediato”, disse Hassem. Negócio feito: C. E. G. A assinou a nota no valor de R$ 1 bilhão.
E Hassem deu a ele em torno de R$ 100 mil, R$ 10 mil dos quais em dinheiro e, o resto, em ouro. Essa operação, disse Hassem, foi acertada na segunda metade do ano passado.
Com C. E. G. A detido e notando o risco de prejuízo, Hassem disse ter pesquisado os bens do estelionatário. “Até agora, identifiquei R$ 20 milhões, entre dinheiro, carros e imóveis. Nem quero o dinheiro prometido, mas o que eu emprestei a ele e com juros. E se a Justiça conceder mais que isso talvez eu abra uma conta bancária em nome da polícia para que as outras vítimas recebam o que perderam”, prometeu Hassem.
Em fevereiro deste ano, Hassem moveu uma ação de execução extrajudicial contra C. E. G. A, pedindo o que está escrito na nota promissória, isto é, R$ 1 bilhão.
A petição foi protocolada na Vara Cível de Guará, região administrativa de Guará, Distrito Federal.
OUTRA VÍTIMA
Aqui em Campo Grande, um empresário disse ter acreditado na proposta de C. E. G. A e, por isso, desembolsou em torno de R$ 6 milhões. Em troca, também receberia rendimento na casa do bilhão. Embora o rombo financeiro, o empresário não denunciou o estelionatário e disse acreditar na devolução bilionária. A PF informou que a fortuna do empresário bancou viagens internacionais feitas por C. E. G. A.
Desde a publicação do histórico do empresário campo-grandense, pelo TopMidiaNews, dispararam dezenas de mensagens vindas dos quatro cantos destinadas à redação do jornal com conteúdos agressivos contra a reportagem.
Pessoas que investiram no projeto de C. E. G. A sustentam que vão receber o dinheiro de volta, com lucro, e que a PF “erra” em investigar o caso. "Erra mais ainda quem acredita nela [PF]", escreveu um aliado do estelionatário. Quase todas as mensagens, em algum trecho, citam Deus como aliado deles.
MENTIRAS
C. E. G. A tem 25 anos de idade, mas aos “investidores” em sua trama dizia ter 33. Ele mostrava títulos de cônsul, diploma de Administrador de Empresas, mas os papeis, segundo a PF, eram falsos.
Na casa dele, a PF apreendeu relógios que, somados, custam em torno de R$ 300 mil e em torno de R$ 200 mil em pedras preciosas. Em sua conta, em torno de R$ 1 milhão, bens que foram confiscados.
Às vítimas, C. E. G. A dizia que o lucro do dinheiro investido – que ia mil a milhões de reais – viria de dinheiro de minas de ouro cujas somas seriam repatriadas para o Brasil.
C. E. G. Ae outros três parceiros, um deles tio, permanecem presos por estelionato, formação de quadrilha e há intenção de incriminá-los por lavagem de dinheiro. O esquema é investigado tanto pela Justiça Estadual quanto pela Polícia Federal, por tratar-se de crime contra o sistema financeiro do país.
* Matéria editada às 14h44 de 25/9/24 para retirada de nome de parte envolvida.