No último dia 25 de maio, a família Lorensseto Neder deixou de existir. Literalmente. Em menos de um mês, pai, mãe e filho morreram de covid-19 na zona leste de São Paulo.
O coração de André Ibrahim Neder, de 30 anos, parou de bater às 22h30 de terça-feira. Além do pai e da mãe, a futura esposa e três tios contraíram o vírus. Só que todos se recuperaram bem.Uma família enlutada
Prima de André, Juliana Lorensseto conta que ele estava confiante. “Ele pedia para a gente ter paciência. Ele tinha muita certeza de que ia se curar e sair bem dessa”, afirmou ao Metrópoles.
Foi pela tela do celular que ele soube da morte da mãe, Clarice Lorensseto Neder, aos 57 anos. Ela foi a primeira a apresentar os sintomas da covid, como sinais de gripe e falta de ar, na segunda metade de abril. Entre a internação e o óbito, houve um intervalo de apenas quatro dias. Clarice chegou ao hospital no dia 23 e morreu no dia 27, sem apresentar nenhum sinal de progresso.
O pai, Ibrahim Neder, 61 anos, já estava infectado, porém, relutava em visitar uma unidade de saúde até que foi consultar com um médico particular no bairro onde morava, na Vila Pierina, na zona leste. Ele receitou cloroquina e azitromicina, medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento contra a covid-19.
Com a piora gradativa, a saturação de oxigênio de Ibrahim despencou para menos de 50%, o que o impossibilitou de andar. Ele foi levado para um hospital com urgência em 3 de maio e morreu no dia seguinte.
Filho foi último a morrer
No leito do hospital, André suspeitava de que a retirada de seu celular pelos médicos tinha uma explicação: a morte da mãe. Os familiares e profissionais discutiram por dias até entregar o aparelho de volta nas mãos dele.
Ele só não soube do falecimento do pai, pois às duas partes repetiram o dilema de compartilhar ou não o celular para informar sua morte. André foi intubado no dia 7 de maio e morreu alguns dias depois.
“Em um mês, a família acabou. Essa doença deixa um sentimento de impotência muito grande. Você não consegue ajudar, visitar nem se despedir. É difícil dizer o que sinto, é uma perda muito grande”, diz Juliana, que foi aos três sepultamentos.
A família Lorensseto Neder estava na fila da vacinação contra a covid-19. Os pais receberiam a primeira dose no início de maio.
Enquanto esperavam a imunização, André montou um escritório para trabalhar dentro do quarto. Ele esperava se formar em contabilidade ainda em 2021 e planejava o casamento com a noiva após o fim da pandemia.
Ibrahim e Clarice trabalhavam no mercadinho de bairro anexo à casa da qual eram proprietários há mais de 20 anos.
Além da saudade, paira na cabeça dos familiares a incerteza do que fazer com o terreno onde eles constituíram trabalho e família. Nas redes sociais, o único irmão de Ibrahim anunciou uma liquidação com 30% dos produtos que restaram no mercado.