Nascida em uma família da roça, a professora Regina Célia da Costa de 54 anos se apaixonou, ainda criança, pela leitura. Nasceu assim, em 2009, o Projeto Biblioteca Comunitária Roda Viva, no bairro Nova Aquidauana. O Projeto, segunda ela, é uma “corrente do bem” onde a professora leva conhecimento e entretenimento para um dos bairros mais carentes de Aquidauana através da leitura e oficinas de artesanato.
Regina Célia abre as portas dos três vagões estacionados na Quadra Descoberta de Nova Aquidauana para receber a reportagem do TopMídiaNews. O brilho no olhar da professora demonstra a luta de cerca de 8 anos para tirar o Projeto do papel com recursos próprios.
A caminhada árdua iniciou quando a professora decidiu criar no Bairro Nova Aquidauana um espaço de leitura e estudo para os alunos da Rede Municipal de Ensino. Com a ajuda de familiares e da própria comunidade arrecadou dinheiro e conseguiu alugar um pequeno salão que abrigava um acervo pessoal de livros e doações de escolas, totalizando 1.200 títulos diversos.
A falta de apoio da Prefeitura e da Fundação de Cultura fez com que a Biblioteca Comunitária percorresse por diversos locais, alguns cedidos e outros custeados com verba própria, até chegar no galpão da Quadra Descoberta. O local foi reformado e pintado, porém a educadora queria algo mais, queria inovação e algo que chamasse a atenção dos alunos.
Foi então que surgiu a ideia de recuperar os vagões desativados do Trem do Pantanal. A partir daí começou mais uma via-sacra na vida da mentora, foi preciso encaminhar todo o projeto para o DNIT de Brasília que prontamente aceitou o documento e cedeu os vagões para a Biblioteca. Regina afirma que mesmo com os documentos em mãos a Fundação da Cultura tentou protelar a retirada dos vagões do pátio do Centro da Estação.
A briga cessou em julho do ano passado quando finalmente os carros foram guinchados e levados até o terreno da Quadra Descoberta.
As professoras Milena e Gisele do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) ficaram encantadas com a luta de Regina Célia e decidiram elaborar um projeto sustentável de reforma e adaptação dos três vagões. O sonho da idealizadora é retirar os bancos antigos do trem e instalar mesas, estantes e cadeiras para acomodar livros e visitantes.
Regina ainda afirma que o projeto de reforma está orçado em R$ 90 mil, porém ela diz ser muito dinheiro para arrecadar de forma voluntária da comunidade. Quando questionada sobre o apoio da prefeitura ou incentivo da Fundação de Cultura ela conta, com pesar, que procurou por diversas vezes os órgãos públicos e não obteve êxito.
“Nesses oito anos eu e a comunidade fornecemos dinheiro próprio bolso para não deixar esse sonho morrer. É uma pena que o prefeito e o secretário de cultura não se importem com um projeto dessa magnitude. Um dia alguém fez eu me apaixonar pela leitura e agora quero passar essa corrente do bem a diante.”