Ela nasceu de cinco meses, pesou 570 gramas, sofreu uma parada cardíaca e sobreviveu, vencendo os obstáculos impostos pela vida. Juliana Maria Pires Garcia, 33 anos, é conhecida em Campo Grande por vender deliciosos bombons e bala baiana, principalmente pelos comércios da rua Bom Pastor, e faz aquele precinho camarada quando o cliente adquire produtos em grande quantidade.
Juliana se emociona ao falar das dificuldades e frisa no preconceito por parte das pessoas, que muitas vezes, abaixam a cabeça ao ter que olhar nos olhos da vendedora. "O preconceito é gritante, eu ofereço o produto, mas as pessoas muitas vezes nem respondem. Elas abaixam a cabeça ao invés de responder quando ofereço bombom e a bala".
O sonho de consumo de Juliana era adquirir uma cadeira de rodas motorizada, mas o presente veio diante de um triste episódio. "Eu sempre estava na casa da minha prima e passava um amigo na frente com a cadeira e ele falava que um dia eu ainda ia ter uma e ele ia me ensinar. Mas infelizmente, ao fazer uma cirurgia, ele faleceu e ele tinha dito para o pastor da igreja dele que, se algo acontecesse com ele, era para dar a cadeira para mim. A família dele atendeu ao pedido e me deu a cadeira, naquele momento eu acreditava que as pessoas iam me ver por inteira e não apenas pela metade".
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Confira abaixo a entrevista com ‘Juliana do Bombom’:
TopMídiaNews: Como foi a sua infância?
Juliana Garcia: Eu nasci de cinco meses, cheguei a pesar 570 gramas. Minha mãe tinha um problema e não conseguia segurar gravidez, por isso eu nasci de cinco meses. O médico dizia que teria sequelas, mas não sabia dizer no momento do nascimento quais seriam. No meu quarto dia de vida, eu tive uma parada respiratória. Eu tive uma infância bacana, não como todas as crianças, porque o preconceito sempre foi muito grande, sempre fui de poucos amigos. Poucos, mas bons amigos e assim terminei meu segundo grau.
TopMídiaNews: Após a escola, quais eram os seu objetivos?
Juliana Garcia: O meu sonho de consumo era ter uma cadeira de motor, eu achava que as pessoas iam me enxergar de verdade, porque antes as pessoas me enxergavam só da cintura para cima, dentro de um carro. Eu tinha na cabeça que as pessoas passariam a me ver e achava que tudo ia mudar. Eu tomava tereré na casa da minha prima e sempre passava um amigo na frente que tinha uma cadeira motorizada, ele sempre me dizia que um dia eu ia ter uma cadeira e que ele ia me ensinar a manusear.
Infelizmente ele faleceu quando eu tinha 26 anos, daí ele tinha dito para um pastor da igreja dele que se algo acontecesse durante a cirurgia que ele ia fazer, que era para me dar a cadeira. A família atendeu ao pedido dele e me deu a cadeira.
TopMídiaNews: Após concluir a escola, você começou a cursar faculdade, como era sua relação com os acadêmicos?
Juliana Garcia: Sim, eu comecei a faculdade de publicidade e propaganda, mas eu tive que parar porque deu problema no financiamento, mas se não fosse isso, continuava cursando. O que eu queria saber é qual o problema das pessoas, porque elas cumprimentam as pessoas, vamos dizer "normais" com beijinhos e porque não cumprimentam o cadeirante. Qual a diferença? Isso que eu queria entender, muitas pessoas cumprimentavam meus amigos e só estendia a mão para mim.
TopMídiaNews: Em todos os obstáculos que enfrentou, qual mais te chateou?
Juliana Garcia: Um menino que tinha uma conveniência perto da minha casa sempre tomava tereré comigo. Uma vez ele perguntou se cadeirante só se relacionava com cadeirante. Eu logo perguntei a ele qual era o problema nisso, ele me respondeu que não ficaria comigo porque eu era assim, em seguida eu respondi para ele que quem não ficaria com ele era eu, mas não por alguma deficiência e sim por tudo que já havia ouvido a respeito dele.
TopMídiaNews: Como você começou a trabalhar?
Juliana Garcia: Eu sempre tive vontade de ser independente, comecei vendendo calcinhas, mas dependia muito dos outros. As pessoas tinham que me levar para vender, isso era complicado. Depois eu comecei a pegar bombons de terceiros para vender e foi quando eu tive a ideia de conversar com a minha família para que o produto fosse feito em casa mesmo. Minha irmã começou a fazer e eu saía para vender.
Faço questão de citar aqui a pizzaria Pedaço da Pizza, eles me receberam de braços abertos e sempre me trataram muito bem. Eu fico mais ali parada, quando fui pedir, fiquei insegura, mas fui muito bem recebida por eles, que mesmo vendendo pizza doce, me deixaram vender ali. O pessoal do Mínimo's também deixa eu vender para os clientes deles. Graças a Deus todos me tratam muito bem.
TopMídiaNews: Seus pais tentavam te barrar de sair para muito longe?
Juliana Garcia: Tentavam, mas não adiantou. Tem um amigo meu que tinha uma loja de material de construção na Rua Bom Pastor e eu sempre ia tomar tereré com ele. O pouco que eu saía, eu já achava que era muito. Um dia ele falou que eu tinha que sair e ver que era tranquilo. O nome dele é Welington, ele me colocou no ônibus e disse que na volta estaria no mesmo lugar me esperando para descer. Eu amei, fui olhando tudo e adorei, quando o ônibus voltou, ele estava me esperando. Daí eu não parei mais, eu amo andar de ônibus, é o meu carro. Hoje eu vou para tudo quanto é lugar, vou para a Avenida Júlio de Castilho, ando para todos os lados de Campo Grande.
TopMídiaNews: Como você se sente hoje ao relembrar toda sua história?
Juliana Garcia: Hoje eu me sinto feliz, quer dizer, eu sinto que vivo de momentos felizes, ainda pretendo conquistar muitas coisas. Eu ainda sonho em ter a minha família, sonho em casar, ter filhos, falta isso, falta ter a minha família.