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Ciência e Tecnologia

10/07/2018 08:21

Grupo de pesquisa busca inovação para solucionar crimes e é finalista em concurso mundial

Estudo realizado pelo grupo Inovisão da Católica elabora nova vertente na tecnologia forense, que os credenciaram à participação em torneio na China

Inovar em ferramentas de apoio à perícia para elucidar crimes (identificando, contando e rastreando grãos de pólen) foi o que levou os integrantes do grupo Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Visão Computacional (Inovisão) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) chegar à final do Tshinghua-Santander World Challenges of the 21st Century(Desafios mundiais do século XXI), que será realizado de 29 de julho a 9 de agosto deste ano, em Pequim, na China. Do total de 67 projetos inscritos do mundo inteiro, eles estão entre os 12 finalistas, sendo o projeto com maior pontuação.

O estudo já estava em andamento há seis anos, iniciado pela entomologia (estudo dos insetos e larvas) forense e agora passou para a palinologia (pólens) forense. No entanto, dois integrantes do grupo viram no concurso a oportunidade de inovar a pesquisa na questão ambiental, conscientizando de que é preciso preservar a natureza, e ainda a criar um equipamento acoplado ao celular para acelerar o trabalho de análise feito hoje em laboratório por meio de microscópio.

“Estamos desenvolvendo um software para identificar os pólens, que poderá ser acessado diretamente do celular ou do computador, basta ter acesso a internet. O resultado do software é provar a existência ou inexistência de relação entre vítimas, suspeitos, testemunhas e/ou objetos, tudo através da localização dos grãos de pólen, assim colaborando na solução de crimes. A expectativa é termina-lo até o meio do ano que vem, junto com o TCC”, explica o acadêmico de Engenharia da Computação, Felipe Silveira Brito Borges, que acrescenta ainda que o aplicativo também vai ser útil para traçar rotas, evitando que pessoas alérgicas a pólen passem por determinadas regiões.

Na China, eles terão o desafio de desenvolver um equipamento de lentes adaptado ao um telefone móvel substituindo o trabalho atual e acelerar a investigação de forma instantânea. “Com o protótipo, que vai ser acoplado no celular, o pólen vai ser fotografado no local e o sistema vai classificar e identificar de forma imediata. O aparelho precisa de uma ampliação de imagem em 400 vezes, para conseguir visualizar o pólen, fazer a interpretação e enviar essas informações para o aplicativo”, explica a acadêmica de Engenharia Civil, Juliana Velasques Balta.

O mestrando Geazy Vilharva Menezes (em Ciências da Computação da UFMS) destaca que uma das partes do trabalho “relaciona o tipo de vegetação, com o pólen encontrado na vítima, indicando a localização”. O resultado vai indicar se o crime aconteceu no local ou qual foi a região que ocorreu.

A doutoranda Ariadne Barbosa Gonçalves, do programa de Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária da UCDB, que encabeça a pesquisa, já realizou testes em oito casos para comprovar a aplicabilidade do trabalho. “Sei qual é o pólen e qual a região de procedência dos grãos. O pólen encontrado no corpo não é compatível com a região onde foi encontrado. Essas afirmações já é possível fazermos, possibilitando fornecer informações para o perito, que as utilizará no inquérito policial para auxiliar a desvendar o caso”, explica.

Por ser uma ferramenta inédita no Brasil (a palinologia forense), a expectativa do grupo é que um dia o protótipo de lentes seja patenteado e o software registrado para que possa ser utilizados no mundo inteiro na elucidação de crimes. “Estão fornecendo uma tecnologia, uma ferramenta inédita no Brasil, e muito útil para os peritos para responder casos de crimes”, completa o coordenador do grupo Inovisão, Dr. Hemerson Pistori, professor do Programa em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, destaca o ineditismo da pesquisa no Brasil.

O professor Wedney Rodolpho de Oliveira, dos cursos de Ciências Biológicas e Direito da UCDB, que também é perito criminal da Coordenadoria Geral de Perícias do Mato Grosso do Sul, destaca a importância da pesquisa para o trabalho da perícia no Estado. “O estudo da palinologia é um trabalho que tem uma relevância social muito importante. Ainda que um trabalho desse demande anos ou décadas de pesquisas, a resolução de um crime já justificaria todo esse trabalho. Então isso já valeu a pena”, enfatiza o professor, acrescentando, que o mérito dos acadêmicos da UCDB que tanto se empenharam neste projeto pioneiro, contribuindo para uma sociedade em que haja a melhor garantia da ordem e segurança pública.

Para a inscrição, também tiveram de produzir um vídeo (confira clicando aqui), responder a pergunta: “Qual o impacto social do trabalho para a sustentabilidade?” e fazer um diagrama explicando onde entraria cada parte do projeto.

Ariadne, Geazy, Felipe e Juliana vão a Pequim representar o grupo, que também é composto pelo acadêmico de Engenharia da Computação, Milad Roghanian. Eles participam da grande final com todas as despesas pagas pelos patrocinadores (Universidade de Tsinghua e banco Santander) e concorrem a US$ 6 mil no total, sendo US$ 3 mil para o primeiro lugar, US$ 2 mil para o segundo e US$ 1 mil para o terceiro colocado.

Histórico

Quando o trabalho teve início, utilizou a entomologia forense, que é a aplicação do estudo da biologia de insetos e larvas na investigação criminal, ajudando a perícia a determinar o local e o tempo que ocorreu o crime. O resultado foi premiado nacionalmente no XIX Congresso Brasileiro de Parasitologia Veterinária, realizado em Belém, no Pará.

Paralelo a isso, a doutoranda Ariadne Barbosa Gonçalves começou a pesquisar os pólens das plantas para identificar a procedência de mel, quando percebeu que em uma das visitas a campo, poderia aplicar o estudo também na área forense: a palinologia forense, estudo inédito no Brasil.

Como é feito o trabalho de palinologia forense

Após coletar os grãos de pólen no corpo da vítima, no laboratório os pólens são identificados e com imagens aéreas e de satélite fornecidas pela prefeitura de Campo Grande e o Ministério do Meio Ambiente, por meio do georreferenciamento da vegetação da cidade, o que vai determinar o tipo de vegetação na qual pode ser encontrado o pólen. “Com imagens hiperespectral é possível separar a vegetação de área impermeabilizada do mapa, utilizando isso o software fornece os parâmetros da localização, como vegetação mata, vegetação rasteira e vegetação urbana. “Cada tipo de vegetação possui determinados valores de pixels que possibilita separar onde estão esses fragmentos de vegetação pela cidade de Campo Grande”, explica a doutoranda.

A pesquisa trabalha para encurtar esse espaço da investigação. Com uma lente 400 vezes mais potente capturar a imagem do pólen no local do crime e de forma instantânea, com o uso de um aplicativo, trazer a informação da localização da procedência do pólen e colabora de forma imediata na investigação. O tempo que o crime ocorreu também poderá ser observado, já que o aplicativo vai informar o período de flora de cada tipo de vegetação e contrastado com o que foi encontrado na cena do crime.

Parcerias

O grupo de pesquisa Inovisão conta ainda com a parceria do Centro de Tecnologia e Análise do Agronegócio (CeTeAgro/UCDB); da Coordenadoria Geral de Perícias/ Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp); Universidade de Nebraska-Lincoln – A Faculdades de Ciência Forense e a Escola de Recursos Naturais (ERN); Herbário CGMS/ Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); Faculdade de Computação/UFMS LABGIS/UFMS - Laboratório de Geoprocessamento para Aplicações Ambientais; Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) Legoc/ Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e LAMIV/ Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

Eles contam também com o financiamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso Do Sul (Fundect), utilizado para aquisição de equipamentos e participação em eventos, além de bolsas de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Outro apoio que obtiveram foi uma placa de vídeo que ganharam da empresa americana Nvidia, especializada na produção de placas gráfica.

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