'Respirando' música desde a infância: foi assim que Bruna Campos de Almeida, 38 anos, se apaixonou e mesmo apostando em profissões que a distanciavam do cenário musical, a vida tratou de demonstrar que o futuro daria seguimento aquela velha paixão do início da vida. Bruna é formada em jornalismo e direito, mas atualmente não exerce a função, já que se divide entre outras três profissões.
Aos sete anos, Bruna descobriu uma forma de abrir a porta de um quarto de vinil, que a mãe, Helena Ota, deixava trancada para ir trabalhar. "Minha mãe trancava a porta do quarto, com medo de que eu estragasse as coisas, mas quando ela saia para o trabalho, eu tinha um macete para abrir a porta e ficava lá o dia todo, ouvindo música. Era maravilhoso, mas quando o horário se aproximava das 17 horas, eu trancada e deixava do jeitinho que ela deixou".
Bruna Campos fez duas faculdades ao mesmo tempo, direito e jornalismo, exerceu a função de jornalista durante um ano, trabalhou no escritório jurídico do pai, João Campos, mas sentia falta de trabalhos ligados à música. Foi então que Bruna começou a ir para a gravadora Pantanal Discos, que pertence a família do cantor Michel Teló e após insistir, foi contratada pelo irmão do cantor, Teófilo Teló e começou a trabalhar no local.
Esbanjando simpatia, ela explica que prestou serviços durante quatro anos ao lado dos Teló e ajudou na criação da editora Pantanal. Atualmente, Bruna Campos é responsável pela Rede Pura Editora, canta no Grupo Derrama e cuida do Selo Bpop.
Confira a entrevista completa com Bruna Campos:
TopMídiaNews: como surgiu seu interesse pela música?
Bruna Campos: meu pai sempre cantou, cantava em barzinho, em seresta. Ele é advogado, mas durante a noite sempre teve essa veia seresteira e cantava. Eu cresci com música em casa, meu pai, às vezes, cantava na igreja, outras vezes nesses lugares e é difícil a criança não gostar. Meu pai era mais de música clássica, country music, músicas antigas, do Ademar Dutra, Nelson Gonçalves. A minha Mãe é a sertanejeira da família. Todas as cantoras da década de 90, Rosana, Adriana, Roberta Miranda, tinha em casa, era muito vinil. Ela trancava para eu não estragar, mas eu tinha um macete, eu abria quando ela ia trabalhar, ficava o dia todo ouvindo música. Ai quando ela estava para chegar, eu trancava. Tinha piano em casa, vinil do Roupa Nova.
Bruna Campos: quando somos criança e tem música em casa, perguntam e falamos que queremos. Eu queria, meu pai falava, vai trabalhar para sustentar seus sonhos. Se eu tiver uma filha que canta, eu vou olhar e ver se é isso mesmo.
Meu pai sempre disse que era uma carreira árdua, meu pai fez parte da carreira do Carlos Colman, na época do álbum da música castelânea , meu pai que gravou aquele disco com ele. Cresci com a imagem dele, foi a primeira análise disso tudo, lembro que olhei a capa, analisei tudo.
TopMídiaNews: quando descobriu que realmente tinha necessidade de trabalhar com música?
Bruna Campos: acho que descobri que queria trabalhar com música quando terminei a faculdade, fiz as duas faculdades ao mesmo tempo, uma de manhã e outra a noite. Eu queria fazer publicidade, queria trabalhar com criação, já quis fazer desenho industrial, mas nunca fui uma boa desenhista.
TopMídiaNews: Já exerceu alguma das funções em que concluiu ensino superior?
Bruna Campos: fiz as duas faculdades ao mesmo tempo, fiz um ano de estágio na área de jornalismo, quando eu vi o dia-a-dia, que pensei, nossa que correria. Tenho história muito fresca da primeira vez que fui para a rua. Estourou um cano no terminal General Osório e fui, eu estava muito nervosa, quando cheguei já tinha acabado e o bombeiro já tinha lavado, aí eu não sabia que podia dizer que não tinha mais nada, falava com as pessoas, e me diziam já acabou o vazamento. Aí voltei sem a notinha para a redação, foi minha primeira experiência.
Aí comecei a fazer ronda. Depois de um ano eu comecei a ficar boa em ronda, aprendi a sintetizar texto e, no final do dia, o pessoal passava os textos e pedia para diminuir, aí eu conseguia enxugar bem o texto. Saí com essa experiência excelente. Depois eu deixei o jornalismo, fui para o escritório do meu pai, mas não adiantou, eu via que não queria aquilo. Eu queria mesmo era trabalhar com música.
TopMídiaNews: quando começou a trabalhar coma família do cantor Michel Teló?
Bruna Campos: o Teófilo é meu amigo, fui na gravadora Pantanal tomar tereré, ai fui uma tarde para lá. Depois outra e outra, até que um dia ele passou na recepção e me chamou. Perguntou o que eu queria, em seguida respondi quero que você me contrate. Eu já tinha feito projetos culturais para eles, quando abria o FIC, eu entrevistava todos os artistas e fazia a justificativa, fiz Gilson e Junior, Patrícia e Adriana, e fui conhecendo os artistas de lá. Ele me contratou e me deu alguns livros de direitos autorais, aí ajudei a montar a editora. Eu tinha 19 anos nessa época, foram quatro deliciosos anos ali.
Mas meu pai queria que eu voltasse. Fui trabalhar com Mauricio Picarelli porque era época de comício, aí ele era empresário de alguns artistas para tocar para eles, na época era Laura e Aurélio, GWN. Fiz assessoria de comunicação artista e jurídica, comecei minha experiência com João Bosco e Vinicius, eles começaram a sair bastante para shows fora do estado, eu respondia fã clube, separava e-mails deles, sentava com eles e mostrava e-mails e cartas. Eu procurava fazer eles responderem.
Na Pantanal eu respondia para o Michel, ele chegava de viagem eu mostrava as perguntas, ele falava a resposta e enviávamos. Hoje em dia, o fã quer mais é selfie. Mas ali eu descobri que eu queria trabalhar com música, meu desejo era respirar esse ar deles. Aí comecei a fazer direção das capas, cuidar da editora. Até hoje eu faço isso, gosto de checar dados, acho importante não errar nome de música, nome de compositor.
TopMídiaNews: como é seu trabalho hoje na Rede Pura?
Bruna Campos: as pessoas vem aqui editar música, se é compositor e quer editar a música para algum artista, escutamos a música, a editora ganha porcentagem e eu acho justo ouvir antes. Se eu acho que não vou conseguir encaminhar a música, eu falo para a pessoa, eu gosto de ser justa. Quando é artista, vem e colocamos ele nas plataformas e ai começamos a conversar e o que eu posso ajudar, eu falo. Dou dicas do que eu já aprendi, acabo dando essa assessoria.
Normalmente a primeira visita aqui, o artista fica horas e horas conversando, tudo é um ciclo, se eu consigo fazer a pessoa sair daqui bem esclarecida, a proposta tem uma chance maior de dar certo e eu saio ganhando ao dividir conhecimento. Não tenho problema nenhum em conversar sobre isso.
Às vezes vou fazer uma direção, saio com tudo no carro, figurino, assisto para ver se está tudo tranquilo, claro que não entro na parte do meu colega diretor do vídeo, mas ajudo no visual, passo nas lojas das amigas parceiras, de vez em quando entro no que não tem nada a ver com a minha parte, mas o vídeo de sucesso, todos ganham. Ficou até mais fácil para fazer o projeto do Derrama, a editora cresceu com o sertanejo universitário, cuidamos só de compositores na editora e no selo cuidamos de alguns artistas. O selo é uma outra proposta, fazemos distribuição nas plataformas digitais.
TopMídiaNews: quais são os artistas que já passaram pela Rede Pura?
Bruna Campos: todos artistas que estão em destaque já passaram, Luan Santana com a música Meteoro, a música Paga Pau. Da dupla Maria Cecília e Rodolfo quase todas do repertório, Três Palavras, Os Dias Vão, Tchau Tchau, não tem um CD deles que não tem música da Rede Pura. João Lucas e Walter Filho, Loubet começou aqui, gosto de manter uma boa relação com eles. Eles montam editoras, vão embora, não tenho essa de virar a cara. Podemos voltar trabalhar novamente no futuro, não adianta ficar brava, se ele cresceu, eu torço por ele, porque o dia que nossa música ficar fraca, tudo aqui fecha. Eu fico triste, fico sim porque sou humana, mas continuo conversando com todos. Guilherme e Santiago, Tânia Mara, Zezé Di Camargo e Luciano, Leonardo, entre outros.
TopMídiaNews: como surgiu a ideia de montar o Grupo Derrama?
Bruna Campos: um dia meu parceiro, meu grande amigo Flávio Coelho disse pra gente fazer um CD só de modão para dar para os amigos, acho que ele morava em Sorocaba na época e eu morava aqui. Demoramos dois anos para gravar o primeiro CD. Eu tive a ideia de chamar o Helinho para fazer segunda voz. Isso foi excelente, porque ele ama músicas antigas, é apaixonado pelo Tião Carreiro, todas as músicas que eu sabia cantar, o Helinho sabia cantar também. Fizemos a prensagem de dois mil CD's e distribuímos entre amigos. O Derrama é um projeto, é um hobby, mas sempre lançamos coisas novas, como a participação com o Victor Gregório e Marco Aurélio que já tem mais de 300 mil visualizações no Facebook.