Com origem humilde, o cantor Júlio Rocha se formou em Educação Física, mas decidiu largar a profissão para tentar viver de música. Tocado nos bares a noite e dirigindo Uber de dia, Júlio tem conseguido conquistas aos poucos espaço na noite musical de Campo Grande. Acompanhe a história sobre a jornada que Júlio teve que percorrer atrás do seu sonho.
Como foi a sua trajetória até chegar na música?
Resolvi arriscar tudo e seguir carreira musical. Eu tive duas duplas sertanejas antes de me formar. A primeira foi mais por brincadeira. Tinha acabado de aprender violão. A segunda foi mais seria. Era um amigo meu. Conhecido de rua. Morava na mesma rua da minha mãe. Foi muito boa. Ai que comecei a me interessar realmente. Vi que era o que eu gostava. Depois de um tempo de dupla, meu amigo passou na polícia. Eu era mais novo. Ele estava com vinte e poucos anos. Eu tive que procurar alguma coisa. Eu estava com 17 anos. Nem para o quartel tinha ido ainda. Ele foi para a polícia. Na época eu fui lavar carro. Na época não tinha ido para o quartel, não dava para arrumar serviço. Fui lavar carro. Trabalhar na garagem. Eu não conseguia me apresentar sozinho. Não tinha maturidade ainda. Muito novo. Fui lavar carro e depois fui para o exército.
Quando você decidiu cursar educação física?
Depois que fui para o exercito resolvi estudar. Mas eu tinha que arrumar um trabalho bom, porque meus pais não tinham condições. Arrumei um serviço que dava para ganhar mais ou menos depois de um tempo que sai do exército. Trabalhei de porteiro, trabalhei como consultor. Depois que entrei numa vaga de vendedor de caça e pesca. Eu conversava bastante. Acabou dando certo. Eu ia à loja onde meu amigo trabalhava apresentar plano de telefonia da GVT. Quando eu cheguei lá, ia quase todo dia de manhã e viraram para mim e perguntaram
“Você não quer trabalhar com a gente? Você já vem quase todo dia. Respondi dependi do que me propôs. Propôs que era o dobro que eu ganhava. Na época ganhava R$ 700 e iria ganhar entre R$ 1,5 e R$ 1,8 mil. Ficou interessante. Comecei a trabalhar lá. Depois de quatro meses de empresa entrei na faculdade. Achava melhor ter uma profissão, caso amanhã ou depois não desce certo, eu teria uma profissão. Meus pais não tiveram essa oportunidade. Minha mãe é do lar e o meu falecido pai trabalhava com salgado. Não teve formação. Queria ter para onde correr caso não desce certo. Na marra, mas estudei. Resolvi fazer educação física porque sempre joguei bola. Até os 16 anos eu joguei. Joguei no Comercial. Joguei no Cene. Era lateral. Magrelo corria para caramba. Eu não ganhava nada nessa época. Dificilmente nessa idade vai ganhar dinheiro. Resolvi abrir mão do futebol e trabalhar e já tinha uma dupla. Fiquei na dupla mesmo. Morava perto da São Judas Tadeu. Minha mãe mora lá ainda. Eu ia de bicicleta até o Cene de Los Angeles. Levava altos carreirão dos caboclos tentando me roubar.
Você chegou a exercer a profissão de educação física?
Exerci. Dei aula aqui no colégio Nova Geração. Quando sai da faculdade passou uns três meses, ele foi me investigando para ver qual era o meu perfil. Meu primo perguntou se eu tinha vontade de dar aula. Eu estava ainda trabalhando na loja de caça e pesca. Então ele falou para o meu tio me chamou e perguntou se queria trabalhar. Então, fiquei no colégio dois anos. Caiu um pouco de cabelo. Criançada foi dando trabalho lascado. Vejo que é uma profissão que deveria ser mais valorizada, mas não é. Nosso Brasilsão é difícil. Resolvi na díade que eu to, já tenho formação e não possuo família, resolvi arriscar a musica. Trabalhava e estudava pensando na música. Tudo tem um porque na vida. A educação física como professor, mudou muito o meu perfil. Pois eu tinha que me apresentar sozinho. Era eu e acabou. Não tinha como chamar outro para fazer dupla comigo. Consegui desenvolver pouco a minha fala. Lidar com o público.
Quando decidiu que iria largar a aula e se dedicar a música?
Eu não estava mais cantando. Comecei a dar aula. Nesse 2017 completou um ano de carreira. Fui convidado para um aniversario e o pessoal gostou bastante. Antes, uns alunos levavam coisas para a Escola. Um traz um violão. Outro traz um skate. Fica nessa. Trouxeram um violão e perguntaram “Professor porque o senhor não vira cantor? O que o senhor está fazendo dando aula?” Ficava meio sem graça. Nunca pensei. O medo atinge muito a gente. Hoje em dia não é fácil. Tem muita gente boa no mercado. Se a gente não criar coragem e enfrentar o medo da gente, você não consegue.
Como é sua agenda de shows?
Toco em barzinho, tabacaria, confraternização. Hoje em dia sou sozinho. Não tem ninguém tomando frente. Um empresário. Já apareceram alguns, mas não deu nada certo. Não era o que imaginava. Então fico sozinho. Eu que tomo frente. Marco a agenda. A minha namorada também marca. Sempre tem um conhecido. Nossa agenda vai fechando assim. Às vezes muita gente quer, mas não conhece. É difícil você apresentar o seu trabalho de forma geral. Aos poucos, um vê nas redes sociais. Outro escuta. Aos poucos vai apresentando o trabalho.
O estopim para parar de dar aula, foi começar a aparecer lugar. Apareceu barzinho. O pessoal gostou. Apareceu uma confraternização do Bradesco. Toquei. As pessoas gostaram muito. Começou a aparecer lugar. Muitas amizades boas, verdadeiras que quer você nos lugares, que gostou realmente. Isso que fez abrir mão do colégio. Dava aula de manhã. Chegava três e pouco da manhã, e tinha que estar no colégio seis e pouco da manhã. Isso foi me injuriando. Assim a gente fala ”É professor de educação física é só chegar e dar a bola”. Não é bem assim não. Ainda mais em colégio particular. Tem planejamento. Diário por e-mail todo dia. Caderno. Trabalho. Mudou bastante o setor. Pelo menos na escola privada. No município já é um pouco diferente. Uma pena. O professor está sempre se atualizando. Melhorando para que os alunos tenham bom desempenho.
Tem produções próprias?
Tenho sete músicas feitas. Porém nem todas registradas. Tenho duas registradas. O resto estou mexendo para ver se vou mudar alguma coisa. Vendo com uns amigos para registrar elas. E esse ano estou vendo para gravar um CD, ou um EP no Youtube mesmo, que agora é mais moderno. Pessoal está usando bastante. Chama bastante o público. Alcance é maior para estar fazendo o seu trabalho. Pessoal diz procura no Youtube. Aqui o link. O CD também acho bem bacana. Tem muita gente que não esse alcance de Youtube, de redes sociais, você apresentar um CD é algo bem legal.
As redes sociais ajudam na divulgação do seu trabalho?
Minha forma de divulgação é pela rede social. Facebook e Instagran. Youtube a gente tinha feito, tirado foto para postar, mas tem um ator da Globo chamado Júlio Rocha e ele é famoso. Agora que acabou o contrato dele com a emissora. Se for no Youtube procurar Júlio Rocha, o primeiro que aparece é ele e estamos tentando diferenciar do nome dele alguma coisa, para achar nosso canal mais fácil. Postar nossas músicas e alcançar um público maior.
Como você faz para conciliar o Uber com as apresentações?
No dia a dia eu faço Uber. Geralmente a tarde. No meu caso, o diferencial. Final de semana apessoa ganha mais dinheiro. Sexta a noite. Todo mundo sai. Sábado. Quando estou sem agenda, não vou tocar em nenhum lugar eu faço Uber sim. Graças a deus está tendo agenda. Esse sábado toco em um aniversário. E devo fazer Uber a tarde. E a noite na festa.
Quais os principais desafios que enfrenta na sua carreira?
São muitos desafios. O desafio de estar sempre inovando, buscando música nova para aprender. Tem que estar sempre atualizando. Uma coisa que não tem gente. E não só atualidade. Tem que saber coisa antiga. Estava tocando na confraternização do Sicredi, estava tocando milionário e José Rico e uma mulher chegou em mim e perguntou “Você sabe Maluco Beleza do Raul Seixas?”. Falei toco. Toquei Maluco Beleza para ela. Estou aprendendo Funk. Tocar funk no violão. Tem que saber. As vezes a pessoa que está te ouvindo, não que ela não saiba distinguir do sertanejo pro Funk, ou do Funk para o Rock. Se ela esta pedindo é porque ela gosta da musica e esta gostando e você se apresentando.