20/09/2018 13:10
Prisão de dois meses reduz ao pó histórico político de Puccinelli
Ex-governador, preso por corrupção, é esquecido pelos aliados emedebistas
Encarcerados desde o dia 20 de julho passado, exatos dois meses atrás, o ex-governador André Puccinelli, do MDB, o filho André Júnior e o advogado João Paulo Calves, acusados por corrupção, não têm ideia de quando seus recursos serão avalizados pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Os 60 dias em questão já “apagaram” o histórico político de Puccinelli pai, tido até a prisão como o político mais importante do MDB. O TopMidiaNews apurou que ele se queixa disso com frequência em dias de visita de pessoas mais próximas.
Ele seria o candidato ao governo, condição já desmemoriada por seus correligionários, tanto que seu nome nem sequer é mais lembrado nas propagandas eleitorais do partido.
Puccinelli já ocupou a chefia da secretaria estadual de saúde, foi deputado estadual, federal, prefeito de Campo Grande por dois mandatos e governador de Mato Grosso do Sul também por duas gestões. Sempre pelo MDB. Júnior Mochi, presidente da Assembleia Legislativa, o substituiu na disputa pelo governo.
Os Puccinelli e Calves ainda não sabem quanto tempo devem amargurar a desolação de ficarem trancados numa das celas do Centro de Triagem Anízio Lima, no Jardim Noroeste, onde fica o complexo penitenciário de Campo Grande.
O ex-governador, o filho e Calves foram detidos por suposta participação num esquema que envolvera o Instituto Ícone do Direito, empresa que teria sido criada para captar dinheiro de propina no período que o estado era governado por Puccinelli. Para a Polícia Federal, o instituto seria de André Júnior, não do advogado Calves, como é no papel.
O filho de Puccinelli também é advogado. Os dois são professores de universidade, um deles, o Júnior, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e, Calves, de uma universidade particular. A UFMS, segundo informação extraoficial, abriu sindicância para definir se mantém ou não Júnior como docente da instituição.
A reportagem tentou falar com o advogado dos Puccinelli, Renê Siufi, mas não conseguiu até a publicação deste material. Recursos recusados já correram no STF (Supremo Tribunal Federal), STJ e TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Agora, o caso é examinado pelo STJ novamente.
Já André Borges, advogado de João Paulo Calves, disse que a “defesa continua, como sempre, acreditando nos elevados propósitos da Justiça, esperando para breve seja garantida a liberdade de quem está no cárcere indevida e injustamente”.
O defensor afirmou ainda que “vivemos tempos muito estranhos: prende-se antes de ser exercida amplamente a defesa; solta-se apenas após a prisão trucidar de tal forma o vivente que ele passa a ter como única alternativa a delação, instrumento nojento, porque utilizado por sujeitos fracos, criminosos, traidores, verdadeiros Judas e Joaquim Silvério dos Reis , que entraram para a história como seres abjetos”.
André Borges apelou ainda à divindade: “temos que resistir; Deus deverá olhar por essa pátria, que está no abismo profundo”.
Citado pelo advogado, Silvério dos Reis (1756-1819) delatou os conhecidos inconfidentes mineiros, grupo que lutou pela independência do Brasil. Por dedurar os opositores do regime colonial português, Reis cobrou pelo "serviço", pensão por toda a vida, e teve todas as dívidas perdoadas, ganhou comendas e outros privilégios.