há 6 anos
Puccinelli e filho continuaram crimes para pagar advogados, diz MPF
Filho do 'italiano' está no xadrez por recebimento de propinas via Instituto Ícone
As prisões do ex-governador André Puccinelli, do filho, Puccinelli Jr., e do advogado João Paulo Calves são fruto de provas e delações premiadas colhidas pela força-tarefa durante cinco fases da operação Lama Asfáltica. No entanto, o fator decisivo para o mandado de prisão foi a continuidade dos crimes.
A argumentação principal do MPF ao juiz Bruno Cézar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal em Campo Grande, foi que a organização criminosa, chamada de sofisticada pelas autoridades, continuou operando mesmo após a deflagração de várias fases da Lama Asfáltica.
Segundo a investigação, o Instituto Ícone, formalmente em nome de João Paulo Calves, era na verdade de André Puccinelli Jr. e funcionava como um receptáculo de propinas pagas pela JBS nas gestões de André Puccinelli no governo do Estado.
Na delação premiada, executivos da empresa de carnes, entre eles Wesley Batista, dizem que Puccinelli cobrava até 30% de propina para conceder isenções fiscais ao grupo dos irmãos Batista.
Em detalhada análise das contas do Ícone, a força-tarefa, que contou com a Polícia Federal, Controladoria-Geral da União e Ministério Público Federal, observou que, em 2017, mesmo após várias fases da Lama Asfáltica, o saque de valores das contas do instituto, grande parte dinheiro de propina, continuou a ser feita e os valores aplicados em investimentos financeiros, algo que na decisão foi chamada de ''Poupança de propina''.
''Nem a 4ª e 5ª fases da operação refrearam o funcionamento da descrita operação criminosa, nem nas anteriores [fases]'', escreveu Bruno.
O juiz federal destacou que as medidas cautelares aplicadas antes a Puccinelli e o filho, que usou tornozeleira eletrônica por alguns dias, foram insuficientes ''para impedir a continuidade da prática penalmente relevante...''.
Ainda conforme a decisão de hoje, dinheiro desviado dos cofres públicos era usado para pagar advogados dos envolvidos na organização criminosa, entre eles o filho de Puccinelli e Edson Giroto, já preso. Registros das operações financeiras do grupo mostram que, após cada fase da operação, altas somas de dinheiro eram sacadas das contas do Instituto e seguiam em direção a renomados escritórios de advocacia.
O ex-governador André Puccinelli se junta a João Amorim e a Edson Giroto no complexo penitenciário do Jardim Noroeste, em Campo Grande. Os três são apontados como chefe e 'diretores' da organização criminosa.
Também estão presos o cunhado de Giroto, Flávio Scrochio, e o ex-deputado estadual Beto Mariano.