06/05/2018 13:30
Mesmo sem um braço, campeão jiu-jitsu mostra que não existe limite para o esporte
Sensei perdeu um braço em um acidente e usou a paixão pelo jiu-jitsu para dar a volta por cima
Ele começou muito cedo no esporte praticando judô, foi para o vôlei, mas foi no jiu-jitsu que Adilson Higa, 44 anos, se encontrou de verdade. Exemplo de superação, o atleta coleciona medalhas de competições do Brasil afora.
Higa conta que começou no judô aos cinco anos de idade, mas aos 12 conheceu um novo esporte: o vôlei. ''Treinava vôlei na escola e o judô acabou ficando apenas com um ou dois dias da semana. Minha vida esportiva ficou ligada ao voleibol dos meus 12 até os 22 anos", contou.
Com problemas no joelho, Higa teve que largar o vôlei. ''Eu já conhecia um pouco do jiu-jitsu, mas quando fui fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos acabei conhecendo verdadeiramente o esporte, comecei a treinar e fui graduado com a faixa azul. Em 1994 voltei para o Brasil e, como não tinha emprego, fui para o Japão".
No Japão, o atleta viu a oportunidade ir a fundo no jiu-jitsu. ''Comecei a treinar com uns amigos, participei de competições de luta agarrada (hoje conhecida como MMA), montei academia e fui graduado com faixa roxa. Com quase oito anos lá, resolvi voltar para o Brasil e vim embora em abril de 2002". No Japão, Higa representava a academia do consagrado André Pederneiras, treinador do campeão de MMA José Aldo.
Já em Campo Grande, Higa foi graduado com a faixa marrom e depois preta no ano de 2006. ''Eu era recém-casado, tinha filho pequeno e fazia o jiu-jitsu por recreação. Participava apenas de uma competição por ano". Em 2008, após treinar um amigo para uma competição, o sensei ficou animado com a ideia de competir e começou a se preparar com uma rotina intensa de treinos e dietas. ''Eu fazia natação de manhã, usava o horário do almoço do trabalho para treinar, saía correndo do serviço no final do dia, ia para academia malhar e depois fazia dois treinos de jiu-jitsu. Foram mais ou menos seis meses de treinos intensos".
Higa já estava inscrito em Pan-Americano que seria realizado em Brasília, quando um acidente de moto mudou todos os planos do atleta. ''Foi um período bem traumático. Fiquei 28 dias em coma, quase 50 dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) entubado. Tentaram implantar meu braço esquerdo, mas o corpo rejeitou e tiveram que amputar. Sofri paradas cardíacas e falência múltipla dos órgãos por causa de uma infecção. Sai do hospital na cadeira de rodas, sem um braço e com 30% de chance de voltar a andar".
Apesar do período traumático, Higa usou todos os ensinamentos que adquiriu como atleta para dar a volta por cima.''Eu tive aquele pensamento de atleta: eu não vou ficar entregue''. Higa passou por sessões de fisioterapia, com fonoaudiólogo e, aos poucos, voltou a andar.
Três meses após o acidente e ainda não acostumado com a nova rotina e limitações, o sensei foi procurado por três alunos. ''Eles pediram para que eu os treinasse, mas eu disse que ainda não conseguia sair de casa. Foi aí que eles disseram que na casa da minha mãe tinha espaço e montaram um tatame lá".
Um tempo depois, Higa foi convidado por um amigo para treinar em sua academia e foi aí que o sensei voltou às competições. ''Depois de dois meses treinando na academia, ele me inscreveu em um campeonato sem eu saber. Participei da competição e fui vice-campeão estadual. Isso me motivou a sempre testar o meu limite". Em 2010, Higa se inscreveu novamente no campeonato que deixou de participar devido ao acidente e foi campeão na categoria.
Das mais de 200 medalhas que o sensei coleciona, duas delas tem um carinho especial. ''Dois campeonatos me marcaram bastante. O primeiro foi o Brasileiro de 2011, que fiquei em terceiro lugar e foi um divisor de águas. Eu sai daqui e passei a ser reconhecido no mundo todo. O segundo foi em 2013, quando finalizei o adversário em 48 segundos de luta. Esse campeonato me colocou entre os 10 melhores do mundo na categoria". Em 2016, o atleta foi um dos condutores da tocha olímpica em Campo Grande.
''Hoje, luto uma média de 10 a 12 campeonatos no Brasil e escolho um campeonato fora do país. Meu foco tem sido o campeonato europeu. Em 2016, fui e perdi. Em 2017 retornei porque não fiquei satisfeito com o resultado e era a única medalha dos campeonatos importantes de jiu-jitsu que eu ainda não tinha. Fiquei em terceiro lugar".
Dono da própria academia, Higa tem hoje mais de 500 alunos espalhados pelas filiais e tem o jiu-jitsu, além de esporte, como um estilo de vida.