06/05/2018 15:15
Faça sol ou chuva, pacientes ficam horas na fila sem saber se serão atendidos em UBSF
Mesmo após horas na fila, alguns voltam pra casa sem atendimento
Não importa se está chovendo ou está sol, não interessa se está frio ou um calor extremo, pacientes da UBSF (Unidade Básica de Saúde da Família) do Bairro Estrela Dalva precisam madrugar em uma fila para buscar atendimento e o pior, sem ter a certeza se serão ou não atendidos.
Com a falta de médicos no local que foi reduzido pela metade, os profissionais que a unidade ainda tem só atendem dez pacientes por dia. Ou seja, mesmo se a pessoa madrugar no lugar, ela pode voltar para casa a ver navios se o limite de pacientes for acima do qual os médicos atendem diariamente.
Para conseguir o tão sonhado atendimento, quem precisa, necessita, literalmente, madrugar em frente a UBSF e esperar a entrega das dez fichas cedidas as sete da manhã. Durante isso, não importa se a pessoa é idosa ou gestante, criança ou adulta, todos encaram a fila em pé na calçada até o portão da unidade abrir.
Antigamente, segundo os relatos dos pacientes, a unidade tinha seis médicos, agora, o número reduziu pela metade. A UBSF atende três bairros diferentes, sendo o Estrela Dalva, o Danúbio Azul e o Taquaral Bosque. Todas as regiões são separadas por setores e se acaso o médico do setor de uma pessoa faltar, outro não pode atendê-la e quem precisa tem que voltar para casa.
Cada profissional atende dez pacientes diariamente, mas apenas da área que está designado a atender. Outros médicos não vão todos os dias na UBSF, como é o caso de uma das médicas que atende no local apenas meio período todas as segundas, quartas e sextas-feiras, enquanto isso, se o paciente da ‘área’ dela buscar atendimento na unidade, ele não poderá ser atendido por outro diplomado em medicina.
(UBS denunciada pela população. Foto: Anna Gomes)
Ainda conforme os relatos das pessoas, para conseguir a ficha de atendimento, eles madrugam na fila sem saber se vão conseguir ou não o atendimento no dia seguinte. E se conseguir, novamente eles madrugam para ser atendidos. Isso mesmo, fila para conseguir marcar e novamente fila para ser atendido, independente da idade.
Na unidade também não têm pediatras e todas as crianças são atendidas pelo mesmo médico dos adultos, um clínico geral. As mães destacam que quando buscam atendimento em outras unidades mais próximas como é o caso do posto Nova Bahia, lá eles informam que novamente elas precisam tentar buscar os serviços da UBSF do Estrela Dalva por ser o local mais próximo de suas residências.
A equipe do TopMídiaNews esteve no local e conversou com alguns desses pacientes que enfrentavam a fila até os funcionários da UBSF abrirem o portão. Na manhã de 18 de abril estava frio e garoava. Uma idosa de 74 anos, que estava ao relento, sem nenhuma cobertura, disse que havia chegado ao local às 4h30 da manhã e mesmo assim tinha mais do que dez pessoas na sua frente, até então ela não sabia se conseguiria pegar uma vaga e ser atendida por um profissional no dia seguinte.
“Todos os dias são assim, as pessoas precisam chegar muito cedo sem ter uma certeza de nada. Ontem mesmo estive aqui e não consegui. Um conhecido meu também enfrentou a fila, chegou até antes de mim e horas depois sabe o que aconteceu? O médico da área dele não atendia naquele dia, ele não conseguiu atendimento com outro e teve que ir embora. Eu acho uma palhaçada com a população, uma falta de respeito, porque eles não deixam aviso algum aqui e nos fazem de besta’’, lamentou.
Outra idosa de 68 anos também contou o drama que está enfrentando. Diabética, há alguns meses ela está tentando conseguir um aparelho gratuito para medir sua glicemia diariamente, já que aplica insulina três vezes ao dia. Ela realizou uma bateria de exames, se consultou e encaminhou os papéis para o CEM, onde conseguiria o objeto. Há cerca de três dias o seu pedido foi negado por alguns itens que o médico que lhe atendeu na unidade faltou preencher.
Na terça-feira, 17 de abril, ela novamente retornou até a UBSF e não conseguiu conversar com a médica. A paciente até tentou falar com gerência e a assistência social do local, mas ambas estavam em reuniões e só voltariam à unidade no dia seguinte, ou seja, não havia nenhum responsável no lugar para conversar e esclarecer os fatos para a idosa.
(Pessoas aguardando a unidade de saúde abrir. Foto: Anna Gomes)
No dia seguinte, ela precisou madrugar e enfrentar a enorme fila. Sim, ela conseguiu ser uma das dez primeiras de sua área, mas tem receio que algo de errado possa acontecer e ela precise refazer seus exames devido a demora, pois alguns valem apenas até o próximo dia 30.
“Precisei vir para ver se consigo. Tenho que levar toda papelada novamente até o CEM, mas estou com medo de demorar e meus exames não valerem mais. Já imaginou se isso acontece? É complicado conseguir uma consulta, imagina refazer tudo de novo”, disse apreensiva.
Outra mulher de 29 anos também reclama do sistema da unidade e denuncia que alguns funcionários supostamente incluem conhecidos na frente de quem enfrenta a fila. “Se o médico falta não temos atendimento, se o sistema está fora do ar também não conseguimos. Isso é um absurdo, só falta nos colocarem nariz de palhaço. Deixamos de trabalhar para estarmos aqui pois precisamos e nós que pagamos os salários deles. Deveriam nos tratar com mais respeito. Tem gente que vem com criança aqui, tem idoso que às vezes sente sede e vontade de ir ao banheiro e não pode porque ficamos na rua para nem saber se conseguiremos algo. Também já vi funcionários colocando parentes na frente das pessoas, gente que pega duas fichas por ser ‘conhecida’ de alguém que trabalha aqui”, denunciou.
Outro lado
A equipe de reportagem entrou em contato com a Prefeitura Municipal de Campo Grande e foi informada que a previsão é de que com a convocação de mais profissionais, inscritos no Cadastro Temporário, essa situação se resolva o mais breve possível.
São disponibilizadas 10 vagas por profissional médico, porém os mesmos realizam atendimento aos pacientes dos programas (agendados previamente). Pacientes advindos de demanda espontânea, casos agudos (urgências), também são atendidos pelos profissionais.
Ainda conforme a assessoria, a população forma fila de madrugada a fim de garantir vaga justamente pela oferta ser limitada. Porém, todos os pacientes são acolhidos e geralmente têm sua demanda resolvida (agendamento para dias posteriores, transcrição de receitas, orientações).