14/03/2018 15:50
Por sustento da filha, zootecnista arruma jeito inusitado de pedir emprego em 'área machista'
Profissional divulgou telefone em uma placa e foi chamada até de 'louca'
Diante do aperto financeiro e com uma bebê de um ano para criar, a zootecnista Ana Paula de Jesus Godoy, 26 anos, foi às ruas de Campo Grande pedir emprego. Não só da forma tradicional, distribuindo currículos, mas também com uma placa em mãos e em meio a fila de carros no centro da cidade.
Godoy se graduou em 2015 no Campus Aquidauana da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. Depois do curso, se debruçou no mestrado que desenvolve na Embrapa Gado de Corte em Campo Grande, mas teve a bolsa cortada pela metade e agora tem de ir à luta em busca de um emprego.
O custo parcial com o mestrado ficaria em R$ 700, o que é inviável para a profissional. Ela diz que se oferecesem pelo menos R$ 400, voltaria para o ramo da pesquisa, já que mora muito distante da Embrapa.
A profissional diz que o agronegócio continua a ser pujante, mesmo com a crise econômica. O setor é destaque na balança comercial brasileira, mas nem assim consegue absorver a mão de obra, principalmente das mulheres.
Na opinião de Ana Paula, a falta de comprovação de trabalho na carteira atrapalha muito. Mas garante que tem vivência em campo, principalmente quando estagiou na Embrapa Gado de Corte.
''Sei fazer de tudo, na cidade e no campo eu vou saber lidar com a profissão'', garante.
Mas o preconceito com as mulheres é apontada por Ana Paula como a maior razão de não ter conseguido emprego ainda.
''Na época da faculdade, fiz uma visita a uma empresa de nutrição animal conceituada de Campo Grande. Lá, o responsável técnico disse que as mulheres poderiam esquecer em ter uma chance ali e que mulheres só serviam para fechar saco de ração'', relata.
''Não tem lugar para gente no mercado de trabalho. Quero mostrar a eles que mulher é muito mais cuidadosa e também pode ir a campo'', declara.
Depois de pedir emprego nas ruas, a zootecnista diz que já recebeu propostas, mas lamenta que nenhuma tenha sido de carteira assinada. Para ela, essa comprovação formal poderia abrir muitas outras portas no setor.
A profissional diz ter recebido algumas críticas da família, que acha que ela não deveria chegar a tanto. ''Falaram que eu não precisava disso, mas só eu sei das minhas necessidades, do que eu estou passando'', desabafa.
O telefone para contado de Ana Paula de Jesus Godoy é : 67 9 9909-1842. Boa sorte.