12/03/2018 14:10
Para quem não vê, ser enxergado pela sociedade é desafio ainda a ser conquistado
Representante do principal centro de apoio a cegos e pessoas com baixa visão de MS comenta sobre iniciativas para mudar vidas
O preconceito é o maior inimigo da inclusão. E é na luta contra ele, e pela conquista da autonomia de cada um, que o Ismac (Instituto Sul-mato-grossense para Cegos Florivaldo Vargas) atua há 61 anos em Campo Grande, auxiliando também as pessoas com baixa visão. Hoje, há 1.977 pessoas cadastradas, 404 frequentando assiduamente algum dos 22 programas.
Em entrevista ao TopMídiaNews, a vice-presidente do instituto, Telma Nantes, explica o trabalho desempenhado no local, além de relatar os desafios e conquistas para transformar para melhor a vida de milhares de sul-mato-grossenses. Leia abaixo:
TopMídiaNews: Gostaria que contasse, brevemente, sobre o histórico do Ismac, quantas pessoas atende e o trabalho desempenhado pelo instituto.
Foi fundado em 1957, com apoio da sociedade campo-grandense, então mato-grossense. Há um envolvimento da sociedade, historicamente, dos associados, do Estado todo, que realizou esse trabalho tão grandioso na vida das pessoas cegas ou com baixa visão. Celebramos no ano passado 60 anos, que iniciou como casa de atendimento, de assistência, e daí foi evoluindo para um centro, com o lema ‘educação, assistência e trabalho’.
Nós temos o centro de referência em reabilitação visual de Mato Grosso do Sul, junto ao ministério da saúde, especializados. Temos oftalmologistas, fazemos a avaliação funcional da visão, quando a pessoa tem baixa visão, indicamos e adequamos recursos ópticos e temos programa de orientação, mobilidade, atividades da vida diária, para que a pessoa conquiste autonomia e independência no dia a dia. Também temos atendimentos em assistência social e psicologia, que orienta a família e a pessoa com deficiência, para que a pessoa saiba que tem recursos tecnológicos para superar, digamos assim.
TopMídiaNews: Quais são os principais serviços prestados no local?
Incentivados a pessoa a aprender as técnicas de ir e vir, todas as atividades da vida diária, o sistema braile, para leitura e escrita, as tecnologias assistidas, como telefone e computadores, com síntese de voz, e programas de biblioteca, audioteca, que grava os livros, e temos um acervo desde 1971.
Há atendimento especializado para crianças, até mesmo desde bebê. É muito interessante registrar a importância do atendimento, o quanto mais cedo é melhor, para o treinamento dos sentidos remanescentes.
Há o Centro de Atendimento Educacional Especializado, em que temos sala de apoio pedagógico, o novo gráfico braile, e o ensino do ábaco para matemática. O objetivo é que haja garantia de acesso à educação e recursos pedagógicos, material adaptado.
TopMídiaNews: Qual seria o melhor caminho para a conquista dessa inclusão?
Participamos como instituição de fóruns, conselhos, sempre buscando a inclusão e garantia de direitos, acessibilidade, lutamos mesmo, porque ainda é uma luta. Muitas vezes isso está na lei, mas temos que reivindicar o cumprimento delas.
Considero o maior desafio o mercado de trabalho. O Ismac prega em seu estatuto a autonomia, para isso, realiza várias ações. As pessoas tem que ser protagonistas de sua cidadania, fazer seu direito de ir e vir com segurança valer, para todas as classes.
Atividade pró-autonomia pelas ruas da cidade. (Foto: Reprodução/Facebook)
Como é o cenário da empregabilidade?
Na inclusão de pessoas com deficiência no mundo do trabalho é um desafio difícil de ser superado com facilidade. É tão difícil ou maior a essas pessoas do que outras com qualquer tipo de deficiência. O mundo é bastante visual.
Oferecem trabalhos com salário muito baixo. E a pessoa mesmo as vezes não encontra uma qualificação adequada. Segundo dados do IBGE, pessoas com deficiência somam 23,9 % da população, então tem vários casos, pessoas que procuram. Precisamos mobilizar as pessoas e órgãos responsáveis, e empresários. São três eixos que sentimos falta de preocupação.
Infelizmente, muitos se acomodam em benefícios, aposentadorias, mas queremos mostrar que há sim possibilidades e condições se a pessoa quiser e puder trabalhar.
Quando empresários procuram, parece até brincadeira, mas às vezes são vagas que a pessoa não tem como desempenhar, até vaga de motorista aparece.
TopMídiaNews: Na educação escolar, como é a realidade para a criança cega ou com baixa visão?
Nossas crianças precisam ser alfabetizadas e ter seu apoio pedagógico desde bem pequenas, até adulto. O que precisamos é de condições para isso. Precisamos desses recursos, além do cumprimento do que já está na legislação. Assim como uma pessoa deve ter acesso a sua apostila, seu kit de material escolar, nossas crianças também precisam ter acesso a seus conteúdos. E aqui eu já denuncio que o ocorre é que as crianças cegas ou de baixa visão não tem acesso aos conteúdos, são prejudicadas e sofrem pela falta de alfabetização.
Não pode. A inclusão é muito mais do que colocar crianças na sala de aula, mas sim criar condições, minimamente colocando os materiais à disposição e ter os direitos respeitados.
TopMídiaNews: Para melhorar essa realidade, há algum projeto desempenhado pelo instituto?
Temos equipe multiprofissional. Agora estamos lançando projeto para ressignificar o sentido da empregabilidade.
O Ismac, pioneiramente, traz um programa que vai pensar nisso, na inclusão, seja pelo empreendedorismo ou pela empregabilidade. Se chama Ágora Brasil Regional Centro-Oeste, tem o apoio da Fundação da Organização Nacional de Cegos da Espanha, para a América Latina, que, em parceria com a Organização Nacional de Cegos do Brasil, em que sou secretária geral, e confederação brasileira de desporto para deficientes visuais, Comitê Brasileiro Paralímpico, traz modelo diferente pare quebrar paradigma que todos falam.
Vou de contramão com eles, pessoas querem trabalhar, empresários querem dar emprego, mas não há esse caminho correto. O programa foi lançado em São Paulo, e vai ser lançado em três regiões, sudeste, nordeste e centro-oeste. O Ismac vai sediar o regional aqui e articular junto às competências e sociedade, assim como criar uma plataforma.
Temos muitas parcerias, com secretarias de saúde, de educação, municipal e estadual. Temos o Ponto de Cultura Novo Olhar, reconhecido pelo Ministério da Cultura, com musicalização, arte, coral, que desenvolvemos para complementar a reabilitação, e o Centro Desportivo, com educação física em três eixos, atendendo crianças e adultos.
Sobre: O Ismac fica na Rua Vinte e Cinco de Dezembro, 262, Centro de Campo Grande. Saiba mais clicando aqui, ou pelo telefone (67) 3325-0997.