19/02/2018 15:01
MPF investiga suposta fraude em licitação de empresa para atuar em aldeias indígenas
Constante mudança em regra do certame pode favorecer empresa sem experiência em saúde
Inquérito Civil Público movido pelo MPF (Ministério Público Federal) investiga eventuais irregularidades praticadas pela Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) na contratação de entidade beneficente para a efetivação de ações complementares na atenção à saúde dos povos indígenas que habitam aldeias em Mato Grosso do Sul. Sesai é vinculada ao Ministério da Saúde.
De acordo com assessoria de imprensa do MPF, em Campo Grande, o Conselho Distrital de Saúde Indígena de MS informou que sucessivas alterações e retificações no edital de Chamada Pública número 5/2017 reduzem "o peso dos critérios de pontuação que levam em consideração a expertise na prestação de serviço de saúde nas áreas indígena, direcionando assim o certame à contratação de uma entidade sem experiência na atuação em questão".
No inquérito, diz a assessoria, o MPF considera que a Lei nº 9.836/1999, em seu art. 19-F, estabelece que no Subsistema de Atenção à Saúde Indígena “dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as especificidades da cultura dos povos indígenas e o modelo a ser adotado para a atenção à saúde indígena, que se deve pautar por uma abordagem diferenciada e global, contemplando os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente, demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional”.
Além disso, segue o MPF, o mesmo subsistema reclama um atendimento diferenciado (especializado em saúde indígena), visto que a prestação de serviços de saúde deve ser feita dentro das próprias aldeias indígenas, tendo, por consequência, um público-alvo com usos, costumes e tradições próprios; e deve compreender apenas a atenção básica, diferentemente do Sistema Único de Saúde (SUS), que compreende a atenção primária, secundária e terciária à saúde.
Agora, pedem os investigadores do MPF, a Sesai deverá prestar esclarecimentos e explicar porque alterou o peso dos critérios, diminuindo o valor da experiência anterior em atuar na saúde indígena, situação que poderia acarretar na contratação de uma entidade que, desconhecendo a especificidade indígena, venha a prestar um serviço ineficiente e de qualidade duvidosa.