há 7 anos
Estreante na política, Odilon quer recuperar confiança perdida por 'corrupção escancarada'
Prestes a se filiar ao PDT, magistrado aposentado diz que governantes tratam a criminalidade de elite como ‘perfume francês’
Aposentado há pouco mais de um mês como juiz federal, Odilon de Oliveira segue direto para outra trajetória, dessa vez, na política de Mato Grosso do Sul. No próximo dia 11, será nomeado oficialmente como filiado do PDT, a fim de pleitear cargo nas eleições em 2018, corrida que garante ter a vitalidade e conhecimento para tentar vencer.
Apesar de se afastar da toga, a qual vestiu por 31 anos e lhe rendeu o título da pessoa mais ameaçada de morte no país por condenar barões do tráfico, diz que o trabalho está apenas começando. Contudo, evita qualquer comentário sobre a concorrência que o espera no próximo ano, a uma vaga no Senado Federal ou o Governo do Estado.
“Há mais ou menos um equilíbrio, depende de muitos fatores, internos e externos, que vão ser encontrados junto à população. O partido vai decidir conforme o que disserem as pesquisas, pra mim tanto faz, de qualquer maneira quero traçar projetos em favor do Estado”, se limita a dizer.
Em relação a sua escolha pela entrada na vida política, ele diz que foi motivada em grande parte pelo momento ‘complicado’ e um cenário decadente de desonestidade e ineficiência generalizado. “Desde os 10 anos eu trabalho, estou com 68 anos e me vejo em condições físicas e intelectuais de fazer alguma coisa pela sociedade. A advocacia eu exclui, não teria como advogar pelo meu trabalho como juiz, pensei em me envolver com entidades assistenciais também”, relata, afirmando que sua decisão teve peso forte após a eleição de seu filho, Odilon de Oliveira Jr., 2º vereador mais votado de Campo Grande em 2016.
O juiz aposentado afirma que fazia mais sentido escolher um partido menor, e que nunca recebeu convite do PT ou PMDB, mas todos os outros, de todos os tamanhos. A definição foi na base de uma ‘sondagem reversa’, comenta, especialmente em relação a personagens envolvidos em corrupção, e faz questão de ressaltar como quer manter seu perfil político, atuando em relação ao que considera ‘um acúmulo de falhas’ do poder público.
Criminalidade e o ‘perfume francês’
Em razão da convivência com questões de todas as áreas durante seu trabalho judicial, Oliveira se diz fascinado e com conhecimento razoável para enxergar soluções possíveis para a tríade educação, saúde e segurança pública. Esta última considera como a mais urgente e um atual ‘desastre’.
“Você manda seu filho pra escola, não sabe se vai voltar, é preciso uma providência urgente. [...] Em uma avaliação sobre esse período como juiz, concluo dizendo que as coisas pioraram. Bastante mesmo, em todos os sentidos. Na esfera do crime, o Estado falhou muito, deixou tomar conta”.
As falhas nesse sentido, aponta, residem em fatores relacionados às falhas na legislação e comprometimento questionável de governantes. “O Brasil trata a criminalidade organizada como um ‘perfume francês’. Passa perfume, cheira, pergunta pro bandido se está bom, se está cheiroso, trata assim. Esse perfume se chama lei, a legislação é muito frágil. É necessária uma renovação desses mecanismos, junto à polícia, MP, juízes, através da lei. A lei hoje é forte pra combater o pequeno crime, não o organizado, o de elite”, afirma.
2018
Além do estudo de projetos e alianças, em sua agenda de campanha deve constar intenso contato com eleitores nos municípios do interior, ainda que no esquema de alta segurança 24h ao dia, um dos reflexos de sua atuação como juiz, direito que conseguiu manter após a aposentadoria. A busca é por aumentar sua popularidade, ainda que seja conhecido nacionalmente e tenha inspirando roteiro de filme e um documentário sobre sua vida.
“Gosto de abraçar as pessoas, sentir o cheiro do povo, afinal, somos todos iguais. Sempre tive relacionamento com a classe política, imprensa e população, faço palestras de graça, converso, conto histórias que vivi. [...] Mas as pessoas já pedem favores a mim, isso que nem me lancei como candidato de nada, nem minha filiação foi homologada. Há de se ter civismo, entender o sentido da coisa pública”, finaliza.