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09/10/2017 07:00

Mais denúncias: Médico responde processos por mutilação, morte e até assédio sexual

Casos foram parar na Justiça, e paciente ficou inválida após cirurgia

09/10/2017 às 07:00 | Atualizado Liziane Berrocal

O médico cirurgião Francisco Gomes responde pelo menos quatro processos por erro médico e um por assédio sexual segundo o sistema judiciário de Mato Grosso do Sul. Um dos casos foi mostrado pelo TopMídiaNews na estreia da nossa série de “Erros Médicos”: a jovem Fátima Gabrielle ficou com a barriga deformada após ser submetida a uma cirurgia bariátrica que não aconteceu (leia mais clicando aqui).

Em um dos casos judicializados, a funcionária dos Correios Fatima Bispo da Silva procurou seu médico de confiança, Edmundo José de Souza, reclamando de fortes dores “no pé da barriga”. O médico a orientou então a procurar o gastroenterologista Francisco Gomes, já que suspeitou de uma hérnia.

Segundo o processo, que tramita no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, ao chegar no consultório do médico ele “com simples exame de apalpação constatou que sua hérnia deveria ser retirada com extrema urgência. No documento frisa-se que não fora solicitado a paciente nenhum exame técnico sequer antes da cirurgia”, afirmou a paciente.

Sem ter conhecimentos técnicos e orientações, Fatima então se submeteu a tal cirurgia de emergência, já ao dia seguinte da consulta, e foi internada. Segundo ela mesmo narrou por meio de seu advogado, já na sala de cirurgia com a equipe médica do Dr. Francisco, o anestesista aplicou a anestesia na paciente uma “raque” o que anestesiou apenas da cintura para baixo. Foi quando ela sentiu uma intensa dor.

“Ela questionou o que estava acontecendo, quando na sequência escutou os dois médicos discutindo e gesticulando, e um médico questionando  o que o outro estava fazendo, momento este então em que o  médico ordenou ao anestesista ‘apague ela’”, contou o advogado no processo que está no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul.

Ela ainda narrou que lembrava claramente de uma briga entre os médicos, momento em que a segunda anestesia foi aplicada, dessa vez geral e ela “apagou” mesmo. Segundo a acusação da paciente, foi nesse momento que ela teve um nervo cortado e a partir dai sua vida mudou completamente.

Incapaz

“Ela questionou seu então médico de longas datas, Dr. Edmundo, esse confirmou a confusão, mas informou que ela ficaria bem com a recuperação. O que na verdade não ocorreu, muito pelo contrário, dobrou a dor que sentia, e ainda, ficou aleijada incapaz de fazer esforço físico de não pode levantar uma sacola de compras com um saco de arroz”, alega a defesa de Fátima.

O processo aponta também que diante do caso dela, vários médicos desistiam de tratar seus problemas de saúde sabendo “se tratar de um erro médico”.

Médicos assumiram erro

De acordo com o relato da paciente, após o ocorrido, e vendo que a paciente estava por descobrir o que tinha acontecido, pois estava programando a realização de exames na cidade de São Paulo, os médicos então procuraram a vítima por duas vezes. “Na primeira estavam reunidos o marido dela, acompanhado por mais duas pessoas, ocasião em que admitiram o erro médico e desejavam resolver a situação, contudo sem determinar parâmetros. Isto foi depois do meio do ano de 2011.  E somente dois anos de grandes sofrimentos, dores, impossibilidades, tratamentos desnecessários é que resolveram contar e admitiram que houve um erro. Até então a Fátima, seu marido e filhos, estavam sofrendo conjuntamente pelo fato de há mais de dois anos antes terem os requeridos cometidos um erro”, argumentou a defesa.

Os médicos ofereceram ainda R$ 15 mil a vítima, que não aceitou o acordo, já que ficou inválida, pois trabalhava nos Correios. O pedido da defesa é de R$ 700 mil de indenização, além de custeio de tratamento em São Paulo, que foi onde ela fez nova cirurgia para correção do problema causado.

No processo, a paciente apresentou todos os laudos, receitas e exames para a Justiça. Além dos médicos também foi processada a Clínica Campo Grande, local onde foi realizado o primeiro procedimento cirúrgico.

Morte pós cirurgia

O médico Francisco Gomes responde ainda os processos de Daise Graziane Sanches, que a mãe Marta Florentin buscou uma cirurgia bariátrica com o cirurgião e acabou falecendo devido ao procedimento. A família alega que Marta morreu mesmo após procurar por diversas vezes que o médico atendesse os problemas que ela enfrentou depois da cirurgia e que o mesmo só falava que “era normal”.

A cirurgia dela foi realizada pelo SUS na Santa Casa de Campo Grande e a paciente morreu após um choque séptico e teria sido finalmente atendida no Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.

Abdome desfigurado, dores e tumor não retirado

Já Ademar Carlos Teixeira acusa o médico de erro após ter passado por uma cirurgia de retirada de câncer de intestino. Segundo o processo que está judicializado, o médico não teria retirado totalmente e com isso “veio a ser incrustrado no abdômen do idoso uma enorme cicatriz, bem como houve a criação de queloides e rebarbas do procedimento cirúrgico realizado, ficando a sua região abdominal totalmente desfigurada se é que assim pode-se dizer”, alegou o advogado do aposentado.

“Uma enorme cicatriz abdominal, e aleijumes de toda ordem, observando entristecido que seu perfeito umbigo havido se transformado em uma verdadeira aberração, apresentando inclusive hérnia, não se tratando então de uma simples cicatriz, mais sim de uma marca grande, de aproximadamente 30 cm (trinta centímetros) que agora acompanha o idoso”, afirmam.

Nesse caso o paciente pede uma indenização de R$ 300 mil.

Assédio sexual

Um outro procedimento, dessa vez criminal que o médico responde na justiça é uma acusação de assédio sexual. Segundo o processo – também disponível no sistema judiciário, em que uma técnica de enfermagem que trabalhava junto com ele, teria sido molestada pelo médico quando foi chamada para auxiliá-lo com um computador que estaria com problemas.

O fato aconteceu em março do ano passado e segundo informações do boletim de ocorrência, Francisco teria enfiado a mão por dentro da blusa da vítima e apalpado seus seios.

Ela apresentou inclusive representação contra o médico, que seria seu superior na referida clínica.

Outro lado

A advogado do médico Francisco Gomes alegou que há uma perseguição ao seu cliente e que não iria se manifestar a não ser no processo. Não foi possível contato com o médico Edmundo José.

Já o advogado Mansour Elias Karmouche que representa a Clínica Campo Grande afirmou que o local é apenas alugado para os procedimentos. “Mas não temos o costume de nos posicionar nesses casos que ainda estão na justiça”, afirmou.

No caso da paciente Fátima foi nomeado um médico perito para analisar o caso que ainda está sem decisão e corre na justiça. O processo ajuizado está sob o número 0814085-57.2014.8.12.0001, que está disponível no site do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul garantindo o princípio da publicidade, descrito no artigo 5º, inciso LX, que estabelece a possibilidade de restrição, mas não eliminação, à informação dos atos processuais que devem ser públicos. Segundo os termos jurídicos, este princípio trata de direito fundamental que visa permitir o controle da opinião pública sobre os serviços da justiça, máxime sobre o poder de que foi investido o juiz.