05/09/2017 07:00
De jovens a idosas, mulheres relatam que abusos sexuais são cotidianos nos ônibus da Capital
Quando interrogadas se existe abuso dentro dos coletivos, a resposta entre as passageiras é unânime: 'sim'
"Voltando do trabalho, depois de um dia extremamente cansativo, fiquei feliz ao ver o ônibus, pois estava morrendo de vontade de chegar na minha casa para tomar um banho e finalmente conseguir descansar. Entrei no coletivo e sentei no último lugar, durante o percurso, acabei pegando no sono e foi aí que começou meu pesadelo. Quando acordei havia um homem sentado ao meu lado e, acredite, minha mão estava em seu órgão sexual. Acordei tão assustada, fiquei com medo de gritar e ele fazer algo comigo, fiquei sem reação e desci, sim, desci bem antes do ponto que costumava descer''.
O depoimento acima é de uma vendedora de 28 anos, que após um dia de trabalho dobrado, estava simplesmente querendo chegar ao seu destino como deveria acontecer, fato que foi impedido por um abusador. O que ocorreu com ela, acontece com muitas mulheres diariamente, que ficam impedidas do seu direito de ir e vir sem alguém causar algum tipo de constrangimento durante o caminho.
A equipe de reportagem do TopMídiaNews percorreu os terminais de ônibus coletivos de Campo Grande querendo saber das mulheres se na Capital realmente acontecem esses abusos. A princípio, a espera, é claro, era encontrar várias mulheres que foram vítimas, mas o que assustou foi a unanimidade dos relatos. De todas as entrevistadas, se elas não foram vítimas de abusos dentro dos coletivos, pelo menos conhecem alguém que já foi abusada.
Outro fato a ser notado é que as vítimas não tem idade específica para sofrer tal crime. Idosas ou jovens, várias mulheres já foram abusadas e sentem vergonha de relatar o que sofreram. Só depois de muita conversa elas começam a soltar, aos poucos, como tudo aconteceu.
"Uma vez subi em um ônibus, sentei em um banco e acreditava que em meia hora estaria na casa da minha avó. Durante o caminho, percebi que um homem ficou em pé bem perto de mim e não parava de me olhar, tentei disfarçar, olhar para a janela e não trocar olhares com ele, acreditava que ignorá-lo seria o certo a se fazer. Coloquei meu fone para ouvir música e fiquei olhando a todo momento para janela. Quando fui descer ele ainda estava em pé e me olhando, em seguida, pegou em seu órgão genital e continuou me olhando com um rosto assustador. Desci rápido, no momento fiquei sem reação, a vítima fica sem reação", disse uma estudante de 24 anos.
Quando o ônibus fica lotado, a situação piora ainda mais para as mulheres já que alguns abusadores se aproveitam para tocar no corpo da vítima e fingir que a culpa é da 'lotação', como foi o que aconteceu com uma também estudante de 20 anos. "Voltava da faculdade e o ônibus estava muito cheio, tanto é que tive que ficar na porta. Um homem que estava atrás de mim se aproveitou e apalpou as minhas nádegas. Olhei rapidamente e ele disfarçou olhando para outro lado. Não soube o que fazer, fiquei com medo de fazer escândalo e, por realmente o ônibus estar lotado, as pessoas pensarem que estaria mentindo. Mas uma coisa eu tenho certeza, aquilo que ele fez não foi um acidente de apenas encostar e sim foi proposital, mas quem iria acreditar?".
Os abusos dentro dos coletivos levam a traumas sérios como é o caso da filha de uma idosa que conversou com a reportagem. Mãe de uma mulher de 40 anos que foi vítima de abuso, ela ressalta que há mais de cinco anos sua filha ficou traumatizada.
"Ela havia saído do trabalho e, quando estava a caminho de casa, um homem mostrou 'aquilo' para ela, que desceu no primeiro ponto que o ônibus parou. Depois disso, nunca mais ela embarcou em coletivo, vai de carona, com alguma amiga, prefere ir até a pé, mas não de ônibus. Fico pensando, ela ainda tem condições de buscar outras alternativas, mas e quem não tem, fica sofrendo os abusos?", disparou a idosa.
Nos terminais de Campo Grande, a empresa de transporte coletivo, em parceria com a prefeitura, colocou faixas de uma campanha de combate ao abuso sexual em ônibus. Com a frase: 'O transporte é público, meu corpo não', ela mostra os números dos telefones da Polícia Militar: 190 e da Guarda Municipal: 153. Se você for vítima, fica o alerta: denuncie! É preciso mudar essa realidade.