30/08/2017 07:00
Tarda mas não falha: Ary Rigo foi intocável, se livrou da Uragano e agora é preso e investigado
Trajetória passou da presidência da Assembleia para uma prisão temporária por corrupção
A trajetória de Ary Rigo, politicamente, é daquelas que fazem parte da própria história de Mato Grosso do Sul. Juntamente com Londres Machado e Jerson Domingos, ele foi um dos deputados de maior longevidade na Assembleia Legislativa, alternando o poder com os dois colegas.
Implicado em várias denúncias com suspeitas de corrupção, sempre foi considerado intocável, mesmo quando se viu envolvido num dos maiores escândalos políticos do Estado, a Uragano. A “punição” na época foi apenas não ser reeleito, apesar de sempre ter sido um dos campeões de votos.
E se a sensação de impunidade pairava entre aqueles que sempre diziam que “não dava em nada”. Neste caso, a operação “Antivírus”, que investiga crimes de corrupção no setor de informática e tecnologia da informação no Estado, mostrou a antes “inimaginável” prisão de Rigo.
A Uragano
O ano era 2010 quando André Puccinelli disputava a reeleição com Zeca do PT. No meio da campanha um vídeo “explodiu” no Youtube com o deputado estadual Ary Rigo “entregando” um esquema de propinas e devolução de dinheiro que segundo Rigo, iria para o então governador, para desembargadores e membros do Ministério Público em uma espécie de mensalão.
Rigo até então era o homem do dinheiro, já que era o primeiro-secretário da Assembleia Legislativa do Estado e ex-presidente da Casa. O vídeo, gravado pelo jornalista Eleandro Passaia, que era assessor de imprensa da prefeitura de Dourados, mostrava um homem falando abertamente sobre esquemas e altas somas de dinheiro repassadas para, em tese, comprar as autoridades do Estado. Ele gravou em vídeo em colaboração com a Polícia Federal como uma espécie de delator.
“Só para você ter uma ideia, nós devolvíamos R$ 2 milhões em dinheiro para o André, R$ 900 [mil] nós dávamos para os desembargadores do Tribunal de Justiça. E R$ 300 [mil] para o Ministério Público. Agora, nós vamos devolver R$ 6 milhões para o Governo. Lá na Assembleia, os deputados, nenhum ganhava menos de R$ 120 mil. Agora, os deputados vão ter que se contentar com R$ 42 [mil]”, disse no vídeo, que ainda está disponível na internet.
O outro envolvido também era Ari, o Arthuzi, que era o prefeito de Dourados. O vídeo ganhou o mundo em uma época em que as redes sociais começaram a ganhar força. Foram suficientes para barrar a reeleição de Rigo, a renúncia de Artuzi, mas não o retorno de André para a chefia do Executivo Estadual.
Desde então, Rigo ficou bastante recluso e nunca era visto nem em público ou em atividades políticas, apesar de informações de bastidores sempre apontarem que ele continua atuando com suas empresas.
Essa reclusão mudou na terça-feira (29) quando Rigo foi preso pelo Gaeco em sua casa em um residencial de alto luxo na Capital. O mandado de prisão temporária foi cumprido por investigadores do Gaeco. Esse tipo de prisão tem prazo de cinco dias prorrogáveis por mais cinco para auxiliar nas investigações.
Coincidências
Segundo seu advogado, Carlos Marques, ele não sabia o motivo da prisão. Marques é mais uma das coincidências nessa história toda. Quando Ari, o Artuzi, foi preso em 2010, ele foi defendido por Carlos Marques, que na época teria orientado, segundo Artuzi, a renunciar ao cargo para sair da prisão. Um dia depois ele teve a liberdade concedida pela justiça. Pouco tempo depois, Marques abandonou o caso.
Entre outras coincidências, ex-prefeito Ari Artuzi morreu há cinco anos, no dia 23 de agosto de 2013, no mesmo dia que foi absolvido das acusações de improbidade administrativa de quando era prefeito.
Ary, o Rigo, foi preso poucos dias depois do aniversário da morte do ex-colega.