01/08/2017 07:00
Menina com síndrome de Down tem carga horária reduzida na escola por 'dar muito trabalho'
Aos 12 anos, ela sempre estudou no mesmo colégio e caso revolta a família
Aos 12 anos, Nadia Palácio Cheikh é uma menina sorridente, adora estar com os amigos e, como qualquer criança, gosta de ir à escola Vilma Fatima de Assis Barreto, em Terenos, distante 30 quilômetros da Capital. Com Síndrome de Down, agora, Nadia pode ter a carga horária da escola reduzida. A informação revoltou o irmão da menina.
“Fomos informados que ela teria sua frequência escolar, na escola regular, diminuída para dois dias na semana. É simplesmente omissão e falta de prestação de um bem básico como educação pública”, reclamou o irmão Ettore Batalha. Ele, inclusive, usou a Constituição Federal para mostrar que a irmã tem direito garantido.
O absurdo, para a família, foi a explicação dada pela direção da escola. “A alegação para essa diminuição, e espero mesmo que seja ignorância e despreparo dos diretores responsáveis, é que minha irmã dá muito trabalho. Uma menina de doze anos, teimosa. Mas claro que ela deve ser exceção em uma escola pública do interior, onde todas as crianças devem ser exemplos comportamentais”, ironizou.
“Ela nunca teve auxiliar, mas tinha estagiária que acompanhava ela. Esse ano mudou de estagiária, mas os professores são os mesmos. Não sei porque eles não tão conseguindo lidar com ela. Ela é um pouco teimosa, como toda criança, leva mais tempo pra obedecer aí querem que eu leve ela só duas vezes na semana”, contou a mãe Silvia Palácio.
Ettore explicou ainda que tudo piorou com um pedido um tanto inusitado da direção da escola, que solicitou um laudo atualizado para a síndrome da menina. “Para piorar, ainda pedem para minha mãe um novo laudo, dizendo que o apresentado para a escola é de 2012, estando "desatualizado". Que eu saiba, e a ciência também, é que Nádia tem uma síndrome, ela nasceu com outra soma de cromossomos, isso não muda em 2012, 2017, nem nunca".
"Causou constrangimento à minha mãe e, mais uma vez, a realidade de que a sociedade fecha as portas para pessoas portadoras de necessidades especiais”, reclamou.
A mãe de Nadia, Silvia Palácio ainda questionou. “Pediram o laudo. Eu ainda falei que, que eu saiba ela tem uma síndrome, não uma doença que tem que atualizar o laudo”, narrou.
Foi só aí que “mudaram” a conversa. “Então, mudaram a conversa e pediram a receita dos remédios que ela toma por causa do seu comportamento”, disse.
Família acredita em preconceito e má vontade
O irmão espera que a escola reveja a ordem. “Culpabilizar uma criança pela não adaptação com o ambiente e com a monitora, e como resolução retirar o direito dela de acesso integral ao ensino, aí já sai da ignorância e vai pra má vontade e preconceito mesmo”, acredita.
“E sim diretor, ela vai fazer capoeira, estudar e daqui uns anos trabalhar e ter sua vida, que infelizmente nem eu nem minha mãe ainda temos condições de não depender do Estado para garantir tudo que ela merece. Enquanto isso, o ensino público de Terenos - MS vai ser mostrado como desqualificado para atender leis constitucionais e como uma cidade que não promove uma educação inclusiva e universal, direito de todo cidadão”, desabafou.
A reportagem tentou contato com a escola pelo número de telefone disponível, porém o mesmo só dava desligado. Até o fechamento da reportagem o e-mail enviado a Prefeitura de Terenos ainda não havia sido respondido.