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25/06/2017 13:30

Quando homofobia começa em casa, solução pode ser encontrada no respeito ao outro

Especialista em conflitos familiares, psicóloga alerta sobre as dificuldades que gays enfrentam no berço familiar

25/06/2017 às 13:30 | Atualizado Dany Nascimento
Faca utilizada pela autora no assassinato - Wesley Ortiz

A rejeição diante da escolha do filho, que se declarava gay, fez com que uma mulher executasse o próprio marido a facadas dentro de casa, no dia 11 de maio. O crime gerou repercussão entre os campo-grandenses. A mulher teria entrado em luta corporal com o marido, que cobrava uma postura 'firme' dela em relação ao filho. Ela pegou uma faca e desferiu vários golpes contra Givaldo Domingues da Silva, 44 anos, que não resistiu aos ferimentos e morreu.

Muitas pessoas se identificaram com a rejeição entre os familiares. Nestes casos, a busca pela ajuda profissional pode ser o ponto principal para que crimes como este não voltem a ocorrer. A psicóloga Rosângela Cury de Souza, 60 anos, que atua na Capital há 37 anos, disse ao TopMídiaNews que é necessário buscar ajuda diante da dificuldade em aceitar a orientação sexual do próximo.

Conforme a psicóloga, todos os membros da família devem passar por tratamento. "Existem pesquisas de que 6% da população é homossexual. Devemos salientar a dificuldade interior de auto-aceitação, culpa em relação às suas expectativas pessoais, da família e da sociedade.  A família deve procurar ajuda profissional devidamente preparada e capacitada para todos os membros da família".

Questionada sobre muitas pessoas cometerem suicídio diante da resistência dos familiares, Rosângela explica que quem comete suicídio não tem intenção de ceifar a própria vida e, sim, colocar um fim na dor que sente diariamente. "Primeiro precisamos entender um pouco sobre o suicídio: quem comete o suicídio não quer acabar com sua vida, mas com a imensa dor que a acompanha; quer ainda chamar atenção para sua necessidade de ajuda; a família precisa entender o que está acontecendo".

Sobre ser comum casos em que a família se posiciona contra a orientação sexual declarada, a psicóloga destaca que falar de sexualidade ainda é um assunto que envolve muito preconceito. "Falar sobre sexualidade é tido como preconceito ou tabu, principalmente por famílias tradicionais, a família continua sendo o alicerce de qualquer pessoa. O funcionamento e a dinâmica dessa família é o que pode gerar uma maior proximidade ou um distanciamento principalmente no que se refere à descoberta de um filho homossexual, os pais estão buscando um melhor entendimento sobre como lidar com a homossexualidade dos filhos, procurando entender que ambos (pais e filhos) possuem direitos e deveres".

Rosângela ressalta que o respeito deve ser colocado em primeiro lugar. "O respeito mútuo faz com que as pessoas vivam harmoniosamente, na verdade é necessário a auto-aceitação que vem antes de qualquer atitude, antes que procure a aceitação exterior. Isso faz com que se reflita que a felicidade não está relacionada com a orientação sexual, pois mesmo nos casamentos heterossexuais há possibilidade de inseguranças e infelicidades. A estrutura de uma família é única, assim como a personalidade de cada indivíduo, desta forma as funções da família atendem dois objetivos diferentes: o primeiro refere-se ao interno, ou seja, a proteção psicossocial de seus membros, o segundo refere-se ao externo, que é a acomodação a uma cultura e a transmissão desta cultura".

A profissional explica ainda que é necessário que os pais deixem de 'usar os filhos como instrumentos de suas realizações pessoais'. "Aceitar o filho tal como ele é, é uma forma de aceitar e assumir as suas próprias competências e incompetências reais onde cada um deve assumir as responsabilidade pelas suas escolhas. As tensões poderão ser abrandadas na medida em que os pais deixem de usar os filhos como instrumentos de suas realizações pessoais e estes, por sua vez, possam compreender que são a consciência viva da finitude de seus pais. É possível viver em harmonia quando a família consegue em entendimento daquilo que ainda é tido como tabu, é preciso que muito mais famílias percebam que a experiência de vida é a melhor fonte de informação, e que as transformações acontecem se o sujeito realmente deseja isso", finaliza a psicóloga.