Campo Grande

há 7 anos

Sonho de Capital sem favelas 'naufraga' e Campo Grande coleciona invasões

Município já foi considerado a primeira 'capital sem favelas', mas moradores já se aglomeravam na Cidade de Deus

22/01/2017 às 07:00 | Atualizado Dany Nascimento
Divulgação

Quando ocupava o cargo de prefeito de Campo Grande, em 2011, Nelson Trad Filho (PSD) 'gritava aos quatro ventos' que administrava a primeira capital do país sem favelas. Enquanto isso, os moradores da favela Cidade de Deus, nos fundos do bairro Dom Antônio, passavam despercebidos pela gestão, já que residiam há anos no local, recheado de barracos.

A ideia da ‘capital sem favelas’ ficou mais distante ainda com a entrada do prefeito Alcides Bernal (PP), que dividiu as 300 famílias em quatro pontos do município. Ele acatou a ordem judicial para desocupação da área próximo do bairro Dom Antônio, mas não ofereceu infraestrutura para que as famílias tivessem condições dignas.

Assim, os moradores foram levados para o Jardim Canguru, Bom Retiro, Vespasiano Martins e outras famílias ficaram na região do bairro Dom Antônio e reiniciaram a favela. A divisão gerou diversos problemas entre a população e o prefeito, que iniciou o trabalho de construção de casas para essas pessoas, mas o trabalho não foi concluído.

Bernal deu 'adeus' ao cargo de Chefe do Executivo, aumentando o número de favelas, e com a entrada de Marquinhos Trad (PSD), o número de invasões aumentou, já que a Capital conta agora com, pelo menos, outros dois pontos invadidos, um no bairro Motevidéu e outro no bairro Paulo Coelho Machado.

As famílias do bairro Montevidéu estão revoltadas, pois a prefeitura determinou a desocupação do local e já demoliu diversos cômodos que haviam sido construídos pelos moradores. Já os ocupantes os terrenos no bairro Paulo Coelho Machado afirmam que estão aguardando uma resposta direta do prefeito, para continuar construindo casas no local, mas destacam que pretendem pagar de forma parcelada pelo terreno, que foi abandonado pela empresa Homex.

O comerciante Carlos Andrade, 40 anos, afirma que as famílias ocuparam o local que estava abandonado e servia como ponto de encontro para usuários de droga. "Essa ocupação melhora o movimento dos comércios, ajuda a população, porque antes era um breu isso aqui, tem focos de mosquito da dengue, estava totalmente abandonado e agora eles querem comprar casa própria, sair do aluguel e, assim, a população fica mais segura, porque isso aqui era ponto para usuários, tinha assalto".

Renato Rodrigo Souza, 26 anos, explica que todos que adentraram no local querem um diálogo com o prefeito para ter segurança e finalizar as construções. "Nós queremos que o prefeito venha aqui para conversar e ver quais são as possibilidade da gente conseguir nosso próprio terreno porque isso aqui está abandonado". Mas o diálogo não promete ser fácil. Marquinhos já avisou: ‘invasor não terá vez’.