Entrevistas

14/08/2015 08:41

Cirurgião plástico com 32 anos de experiência diz: a pessoa tem que enxergar a própria beleza

14/08/2015 às 08:41 | Atualizado Dany Nascimento
Foto: Geovanni Gomes

Nascido em uma família de médicos, o cirurgião João Ilgenfritz, que atua há 32 anos em Campo Grande, afirma faz questão de estudar a fundo as mudanças corporais solicitadas pelo paciente antes de realizar qualquer tipo operação. De acordo com João, existem pessoas que possuem a síndrome da "Dismorfofobia", ou seja, a pessoa não consegue enxergar beleza física ao se olhar no espelho e acaba procurando a clínica para tentar mudar.

Porém, o médico deixa claro que faz questão de dialogar com os pacientes, colocando espelho na frente daqueles que se acham feios, na tentativa de fazer o paciente enxergar a beleza que possui. Em alguns casos, João indica que o paciente procure um psicólogo, levando em consideração que um paciente que não é capaz de enxergar a beleza que tem, não ficará melhor com uma cirurgia.

"Nós procuramos conversar com os pacientes, procuramos fazer com que aquela pessoa enxergue a beleza que possui. Não adianta operar uma pessoa que não vai viver melhor com a operação. Não é simplesmente chegar no consultório e falar que quer operar e pronto, temos todo um trabalho para que aquele paciente consiga viver melhor", diz João.

O cirurgião nasceu no Rio Grande do Sul, mas escolheu Campo Grande para trabalhar e criar sua família.

Confira a entrevista na íntegra:

Top Mídia News: Quando decidiu seguir o caminho da medicina? 

 João Ilgenfritz: Venho de uma família de médico, desde que me conheço como decidindo minha profissão, eu sempre quis ser médico.  Comecei a faculdade com 18 anos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas a opção de cirurgia plástica foi um pouco mais tardia, eu já estava formando em medicina e decidi pela cirurgia geral que é uma especialidade obrigatória. Fui trabalhar no interior, meu pai tinha um hospital em Três Passos no Rio Grande do Sul, fiz cirurgia geral que é obrigatória para quem quer fazer cirurgia plástica e fiquei por um ano na trabalhando nesse hospital como cirurgião geral e percebi que tinha uma vontade secreta de fazer especialidade que me permitisse trabalhar em um lugar maior. Me escrevi em um concurso para residência com professor Ivo Pitanguy, fui o primeiro classificado, tinha experiência grande em medicina e fui fazer pós graduação no Rio de Janeiro, com 26 anos.  Fiquei no Rio por quatro anos no rio.

 

 

Top Mídia News: Quando e porque decidiu montar um consultório em Campo Grande/MS? 

 João Ilgenfritz: Meu irmão é anestesiologista e estava atuando em Campo Grande e eu vinha muito para a Capital. Nessas idas e vindas a passeio, eu comecei a gostar da cidade que ainda era relativamente pequena e decidi que era o melhor lugar para viver  para dar um conforto bom para a minha família,  porque eu já imaginava que teria uma família e optei por vim trabalhar aqui em 1983. Sempre trabalhei em cirurgia plástica, inicialmente era cirurgia reparadora, fissurados de lábio, queimados, entre outros. Com o tempo pacientes foram me selecionando para atividade estéticas de nariz, mama, e hoje 95% da minha atividade é estética.

Top Mídia News: Quais são as cirurgias mais procuradas? 

 João Ilgenfritz: Na maioria das vezes,  nas proximidades do verão, existe preocupação maior com o corpo e no inverno são ligadas ao rosto, as cirurgias do envelhecimento que a idade deixou marcas. Na escola, as crianças sofrem Bullying por ter orelha de abano, acabam sendo chamadas por apelidos desagradáveis e acabam procurando o consultório. Essa cirurgia é rápida e é feita em uma hora, com sedação local.

Top Mídia News: Quais são primeiro procedimentos com os pacientes que procuram o consultório? 

 João Ilgenfritz: Primeiro percebemos se a pessoa está no momento da cirurgia, temos que sentir se a cirurgia pode ajudar a paciente. Mas esse ajudar não é somente ter bom resultado, temos separações traumáticas, temos que perceber muito bem o que levou a paciente a procurar o consultório, pois algumas pessoas sofrem de dismorfofobia, que é quando a pessoa se vê diferente do que ela é. Só operamos para que os pacientes estejam melhores possíveis e tem pessoas que tem características agradáveis e que se acham muito feias, por isso precisamos perceber bem isso, porque podemos fazer muitas cirurgias e não atingir o que elas desejam. Conversamos bastante, fotografamos, comparamos com pessoas classicamente bonitas e comparo alguns detalhes do rosto, mostro para tentar fazer com que ela não nos pressione para operar. Algumas vezes, a pessoa precisa da ajuda de um psicólogo para conseguir viver bem consigo mesma, para que ela se aceite como ela é. Se operar ela, vamos criar artificialidades em que estaríamos prejudicando nossa paciente. A vida do médico é uma vida longa se tivermos felicidades e vivos em atividades, mas  isto vem com os anos.

 

Top Mídia News: Após a avaliação, o que é feito? 

 João Ilgenfritz: Conversamos com as pessoas e avaliamos sempre os pós e os contras. Podemos citar como exemplo uma cirurgia de abdômen e temos que avaliar com a paciente se um corte, é melhor do que uma barriga esticada. Eu acho que não, por isso converso bastante com a paciente e colocamos isso na balança.  No final da avaliação, as vezes o bom resultado não é objetivo, as vezes eu  olho pacientes e penso que poderia ter feito melhor, mas elas estão felizes com o resultado. 

Top Mídia News: Qual foi a cirurgia mais difícil?

João Ilgenfritz: A cirurgia mais difícil talvez tenha sido de um paciente com grandes queimaduras que comecei a atender quando ele tinha cinco anos e tratei até quase trinta, que hoje encontro nas ruas as vezes. E  sequelas de queimaduras muito graves, na face, pescoço, lembro muito deste caso, foi difícil, colocamos expansores de tecidos que são balões por baixo da pele que infla e destenda para retirar a parte queimada.

Top Mídia News: Recentemente foi publicado na mídia uma cirurgia do cantor Thiago, da dupla sertaneja Hugo e Thiago, feita nos lábios que não deixou o paciente satisfeito, o que fazer em casos como este? 

 João Ilgenfritz: Quando isso ocorre, a solução é quase impossível, devemos  perceber e não fazer. Em qualquer músculo do nosso corpo, em especialmente o que esta entorno da pálpebra e da boca, tem uma determinada potência,. Se colocar peso, preenchimentos, vamos alterar a relação entre peso do lábio e potência do músculo, temos que nos atentar.  Podemos sim colocar, mas tem que ser feito parceladamente. Tenho poucos que me procuram para isso, porque sou muito cauteloso, eu proponho três sessões, quero fazer uma para avaliar se o sorriso vai mudar, se vai alterar a fala. Aquele caso é culpa do paciente que exige isso, o médico deve dizer que não vai fazer e aconselhar o paciente a não fazer. A gente vê pessoas com esses alterações, muitas pessoas fazem isso, olhamos uma boca e percebemos que não é da paciente, percebemos que alguém atuou ali. O ideal é fazer cirurgias que não são percebidas, fazer nariz com o qual a pessoa poderia ter nascido, cirurgia de face que não evidencie trações exageradas.O material degradável ajuda a desfazer em um tempo longo, de dez meses a um ano para voltar e isso é muito tempo.

Top Mídia News: Qual o maior risco de uma cirurgia estética? 

 João Ilgenfritz: Cada cirurgia tem um enfoque especial, algumas o risco é problema transoperatório, lipoaspiração grande, recomenda-se que não passa de 7% do peso corporal. Isso porque milhares de casos foram analisados e retirar a mais, aumenta as complicações. O que temos que fazer é dimensionar bem as cirurgias. Temos que ver o quanto perde de sangue, proteína e vamos ver o tempo da cirurgia, muito longa aumentam as morbidades. Temos que levar em conta que o trabalhador cansado não produz com a mesma qualidade. Isso é muito importante. Temos que analisar a marca que vamos deixar no paciente e colocar na balança do ponto de vista prático. Temos que ver que tipo de cicatriz e o quanto podemos modificar para melhor as formas.

 

Top Mídia News: Outras pessoas da família estão seguindo a mesma profissão? 

 João Ilgenfritz:Meu filho estuda medicina, está no terceiro ano e estou muito feliz com isso, de certa forma, embora vivemos em tempo atribulado com mercado de trabalho, ele nunca hesitou, ele sempre falou que queria medicina. Isso me deixa feliz, sinal que de certa forma ele admira o trabalho do pai.