há 8 horas
Motociclista reclama de burocracia para recuperar moto furtada: 'é pior que perder veículo'
Elizeu foi avisado que moto estava no pátio, mas, ao tentar reaver, se deparou com diversas dificuldades e altos custos para recuperar veículo
O que deveria ser um alívio acabou se tornando um verdadeiro pesadelo para Elizeu Grabner, morador de Campo Grande. Depois de ter a moto furtada em 2022, ele foi informado, em dezembro passado, que o veículo havia sido recuperado. No entanto, ao tentar reavê-lo, ele se deparou com uma série de custos e burocracia que tornaram o processo quase inviável.
Segundo Elizeu, em 2022, ele registrou um boletim de ocorrência do furto. Na época, a moto estava com documentação em dia. Após anos sem informações e já sem esperanças de reaver o bem, em dezembro passado, ele foi informado que o veículo teria sido recuperado. A notícia veio como um alívio, mas durou pouco.
"Quando me avisaram que minha moto estava no pátio, fui até lá achando que era só buscar. Mas não: tinha que pagar R$ 108 de vistoria, R$ 129 de guincho, R$ 6,60 por cada dia que ela ficou lá. Além disso, tinha que regularizar o licenciamento da moto pelo tempo em que ela ficou fora do meu poder. Mas o pior foi que me disseram que eu não podia tirar a moto de lá para consertar, eu tinha que levar um mecânico até o pátio", relata Elizeu.
Além disso, Elizeu conta que surgiu outro problema: durante a tentativa de recuperação, descobriram que o chassi teria sido adulterado pelos ladrões. A irregularidade significa mais custos e que a moto não poderia ser retirada do pátio, relata.
"Disseram que, mesmo pagando tudo, eu teria que esperar 90 dias pagando a diária do pátio porque a moto iria para leilão. Se eu não pagasse e o valor arrecadado no leilão não cobrisse os débitos, e não iria cobrir, eu ainda teria que pagar a diferença", explica.
Indignado, Elizeu começou a procurar alternativas para evitar perder o veículo. Após reclamar nas redes sociais, conseguiu ser atendido pelo Detran/MS. Mesmo assim, os custos para recuperar a moto foram altos. Ao todo, ele gastou cerca de R$ 3 mil só para conseguir a liberação do veículo.
"Fui buscar orientação jurídica, mas não compensava entrar com processo para contestar a dívida. Uma ação levaria um ano e custaria uns R$ 2 mil, então preferi pagar. Mas esses R$ 3 mil foram só para tirar a moto do pátio", explica.
No entanto, os gastos não pararam por aí. Com o chassi adulterado, ele agora terá que remarcar a numeração, o que custa mais R$ 800, afirma. Além disso, como a moto foi repintada pelos ladrões, precisará gastar mais R$ 600 para restaurar a pintura original.
"Ainda tem a parte elétrica, que vai custar uns R$ 300, e os pneus, mais uns R$ 200. E olha que esses R$ 3 mil que eu paguei foi só para reaver minha moto. Eu ainda vou gastar mais uns R$ 3,5 mil com tudo isso. No final, vou ter gastado mais para recuperar e arrumar minha moto do que ela realmente vale no mercado", lamenta.
"Me senti roubado duas vezes"
Elizeu explica que o sentimento é de que foi roubado duas vezes. Ele afirma que sente que o sistema trata a vítima de furto como se fosse um infrator.
"A moto estava com placa adulterada, mas não fui eu que fiz isso. Mesmo assim, tive que pagar todas as taxas como se tivesse sido apreendido numa blitz com o veículo irregular. No fim, me senti roubado duas vezes: a primeira pelos ladrões, a segunda pelo Estado", desabafa.
Ele também reclamou do curto prazo para regularizar a moto. "Eu tenho 30 dias para arrumar tudo, senão levo multa gravíssima. Mas como faço isso se só a pintura leva uma semana? A remarcação do chassi, mais uma semana. A parte elétrica, outra semana. Provavelmente ainda vou ser multado por não conseguir cumprir o prazo", diz.
Para conseguir retirar a moto do pátio, Elizeu precisou recorrer a ajuda da família. "Tive que pedir ajuda para minha mãe e minha sogra. Paguei tudo no cartão de crédito, parcelei, porque do dia para a noite me apareceu essa dívida enorme. E o pior: quanto mais tempo a moto ficasse no pátio, mais caro ficaria, pois a diária continuaria sendo cobrada", conta.
Agora, ele tenta descobrir quem estava com a moto quando ela foi apreendida, na esperança de processar essa pessoa e recuperar pelo menos parte do prejuízo. "A pessoa que me roubou provavelmente já está por aí com outra moto furtada, e o dono dessa moto vai passar pelo mesmo que eu passei quando ela for recuperada", critica.
"O Estado deveria me pedir desculpas, não me cobrar"
Para Elizeu, o sistema precisa mudar para evitar que vítimas de furto tenham que arcar com tantos custos. "Na minha opinião, quando um veículo roubado é recuperado, o Estado deveria simplesmente colocá-lo em um guincho, trazê-lo até minha casa e me pedir desculpas pelo transtorno. O documento deveria ser liberado sem custo ou com uma taxa mínima, porque eu fui a vítima", defende.
Ele lembra que sempre manteve o licenciamento da moto em dia até o momento do furto, mas quando o veículo foi recuperado, todas as dívidas voltaram automaticamente. "Quando o veículo é recuperado, tudo volta para o nome do dono. Ou seja, fui obrigado a pagar dois anos de imposto de uma moto que não estava comigo", explica.
Agora, mesmo com a moto recuperada, ele ainda não sabe quando poderá usá-la novamente. "Ela está guardada, sem previsão para arrumar, porque ainda não consegui pagar tudo. Vou tomar multa porque não vou conseguir cumprir o prazo. E para regularizar, ainda tenho que fazer mais de uma vistoria. Só nisso, vou gastar uns R$ 1 mil só em taxas de vistoria", calcula.
Para ele, o caso mostra como o sistema pune a vítima, em vez de ajudá-la. "O ladrão me deu um prejuízo de uns R$ 5 mil quando roubou a moto, mas o Estado me fez gastar mais de R$ 7 mil para recuperá-la. Fica minha indignação", finaliza.
O Detran-MS foi procurado e questionado a respeito da dificuldade do processo para recuperação de veículos roubados e furtados, bem como pelo alto custo. A reportagem aguarda resposta.