Cidades

há 1 mês

Após quatro meses do rompimento da barragem no Nasa Park, família afetada luta para sobreviver

Moradora relata que promessa de indenização não foi cumprida

15/12/2024 às 18:10 | Atualizado 12/12/2024 às 10:19 Carla Andréa
Rompimento da barragem do loteamento Nasa Park afetou famílias - Divulgação/MPMS

"A barragem do Nasa Park levou tudo o que era nosso em minutos. Não foi parcelado em um ano, dois anos, três anos. É um absurdo", disse Gabriele do Prado Lopes, de 34 anos, moradora da região atingida pelo rompimento da barragem no Nasa Park, em agosto de 2024.

Após quatro meses, nenhuma das famílias atingidas foi indenizada pelo ocorrido. A luta no Ministério Público Estadual ganha novos capítulos a cada dia, com direito aos proprietários do condomínio alegando não ter dinheiro para indenizar os afetados, e estes tendo que dá um jeito para sobreviver.

É o que diz Gabriela, que nasceu e cresceu na região. Ela conta que engenheiros alertaram sobre os riscos de rompimento da estrutura, mas nada foi feito para evitar o desastre. A falta de fiscalização dos órgãos ambientais e a ausência de um plano de emergência são apontadas como fatores que contribuíram para a tragédia.

O desastre, que afetou não só Gabriele, mas também outros moradores da região, gerou perdas materiais significativas. "Tudo o que tínhamos foi destruído. Não só as nossas casas, mas nossas fontes de renda também desapareceram", relatou Gabriele.

Ela explica que a principal fonte de sustento da família vinha da criação de animais e da venda de produtos agrícolas, mas após o rompimento da barragem, suas terras foram devastadas, deixando-a sem condições de trabalhar e arcar com suas despesas.

Agora, a família está morando de aluguel dentro de Campo Grande, e devendo dois meses de energia elétrica, em valores que ultrapassam os R$ 800, por não ter dinheiro para pagar e sem condições de reerguer o negócio familiar.

Tanto que ela realizará, no dia 21 deste mês, a partir das 11h30, uma galinhada, no valor de R$ 25 reais. O objetivo é vender 150 convites para cobrir, pelo menos, uma parte das despesas. "Estamos lutando para sobreviver", disse Gabriele.

As marmitex serão entregues em uma ponte de retirada na BR-163, na altura do km 501, na Fazenda Estaca. Mas Gabriele pretende fazer outro ponto de retirada em frente ao local onde estão vivendo, localizado na Rua Albatroz, nº 453, no Bairro Coronel Antonino. Os interessados devem entrar em contato pelo número (67) 99320-4224.

Ministério Público

E para piorar a situação, o Ministério Público realizou reuniões com as famílias na última quarta-feira (11), exigindo que os moradores apresentem documentos como notas fiscais de bens destruídos.

Gabriele, como outros atingidos, questionou como seria possível apresentar esses documentos se tudo foi levado pela tragédia. "Como vamos apresentar notas de coisas que não temos mais? Fomos vítimas, não há nem o que mostrar", disse.

"Perdemos tudo em minutos e agora, além de não termos recebido a ajuda que precisávamos, somos confrontados com reuniões no Ministério Público onde, ao invés de buscar soluções para nossa situação, os advogados do Nasa Park estão questionando nossas moradias e documentos, como se fôssemos os responsáveis pela tragédia", revelou.

Essas reuniões organizadas pelo Ministério Público, segundo Gabriele, tem convocado os moradores para audiências individuais, com a presença dos advogados do Nasa Park, mas sem apresentar respostas efetivas ou soluções imediatas.

De acordo com as vítimas, as reuniões não têm avançado de maneira prática, e as propostas de indenização apresentadas pelas partes responsáveis são consideradas injustas e insuficientes.

Na última reunião, foi oferecida uma indenização de valores que variam entre R$ 150 mil e R$ 250 mil, mas a forma de pagamento proposta envolve parcelamentos que podem levar mais de um ano para serem quitados.

"Não aceitamos essa proposta", afirmou Gabriele, que destaca a grande diferença entre o valor oferecido e o prejuízo real sofrido. "A barragem levou tudo o que tínhamos, em minutos. Não é justo que nos ofereçam valores parcelados, enquanto nossas vidas foram destruídas de forma irreparável", completou.

"O Nasa Parque não fez nada para nos ajudar até agora, e parece que o poder público está mais preocupado em proteger os interesses deles do que os nossos", concluiu.

"O que esperamos é que pelo menos o valor oferecido possa ser suficiente para recomeçar a vida. Mas nem isso o Nasa Park propôs", desabafou Gabriele.

A equipe de reportagem tentou contato com o Ministério Público, mas não obteve resposta.

Futuro

As famílias também estão preocupadas com o futuro, especialmente em relação ao risco de uma nova tragédia.

A barragem que se rompeu fazia parte de um sistema maior, e os moradores temem que outra estrutura similar venha a ceder, causando mais danos e colocando vidas em risco. "A barragem de trás está cheia. Qual é o plano de segurança para ela?", questionou Gabriele. 

Segundo a moradora, até o momento, não houve nenhum plano de prevenção ou fiscalização adequado por parte dos responsáveis pelo Nasa Park ou pelos órgãos competentes.