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Documentário inédito fala sobre queimadas no Pantanal e o desafio de uma nova consciência
Inédito, o filme retrata o impacto devastador dos incêndios deste ano no bioma
Estreia às 20h do dia 9 de dezembro de 2024, com exibição gratuita no Cine Marquise, em São Paulo, o documentário “Fogo Pantanal Fogo”, filme inédito do cineasta Sandro Kakabadze, que apresenta ao público novas percepções sobre a escalada das queimadas no Pantanal, fenômeno de origens múltiplas acentuado a partir de 2020, ano em que a gravidade dos incêndios causou forte comoção, com a perda de 26% do bioma e uma devastação sem precedentes da flora e da fauna da maior planície alagável do planeta.
Com produção do Documenta Pantanal em parceria com a Âmbar Filmes e apoio de Associação Onçafari, Acaia Pantanal, Instituto Homem Pantaneiro, SOS Pantanal e MapBiomas, o documentário registra a repetição do drama vivenciado quatro anos atrás a partir de filmagens rodadas entre junho e outubro de 2024, fazendo um retrato imersivo das severas queimadas registradas em meio a maior seca histórica do bioma.
Após a projeção do filme a sessão de estreia contará com a presença de Kakabadze e do fotodocumentarista Lalo de Almeida – que contribui com o diretor, cedendo imagens e registrando depoimentos sobre sua experiência de também retratar as queimadas de 2024. Posteriormente “Fogo Pantanal Fogo” poderá ser visto gratuitamente no canal do YouTube do Documenta Pantanal.
Impactante, o documentário repete a fórmula consagrada em mais de 50 filmes de curta, média e longa metragens dirigidos por Kakabadze. Nessas produções, o cineasta percorreu 23 estados do país ouvindo relatos de populações locais, ambientalistas, cientistas, instituições do terceiro setor e entidades governamentais para documentar as transformações que o meio ambiente do Brasil vem sofrendo não só pela ação humana, que recrudesceu a prática do desmatamento e de incêndios criminosos, como também pela acelerada ascensão da emergência climática e do aquecimento global.
“Incialmente eu pretendia fazer um filme sobre o desmatamento no Pantanal, mas durante a pesquisa percebemos a iminência dessa nova onda de queimadas, e tanto eu quanto a Mônica Guimarães e Teresa Bracher (coordenadoras do Documenta Pantanal) entendemos que o tema mais urgente seria um filme sobre as diferentes facetas do fogo no Pantanal. As queimadas tiveram uma primeira onda em maio, começamos a gravar em junho e elas se agravaram de agosto a outubro. Infelizmente, temos certeza de que haverá outras mais. Desde que comecei a filmar no Pantanal não tenho memória de uma seca tão severa quanto essa. Minha percepção foi confirmada pelos satélites do MapBiomas, que fazem esses registros desde 1985 e comprovam que essa é a maior seca a devastar o Pantanal”, explica Kakabadze.
Estruturado em três partes, “Fogo Pantanal Fogo” primeiro volta suas lentes para o cerco fechado de três dias de queimadas com um poder avassalador de destruição, fazendo uma imersão na desafiadora rotina dos brigadistas do Prevfogo, grupo estruturado pelo Ibama que atua no combate aos incêndios florestais e queimadas não autorizadas e na indução de mudanças da cultura do uso do fogo na agricultura.
Na segunda parte, Kakabadze aborda as diferentes formas como as queimadas têm início, enfatizando não só o impacto da emergência climática e das queimadas criminosas, como, também, revelando o potencial aparentemente menos ofensivo de práticas culturalmente aceitas décadas atrás, como o manuseio do fogo para repelir abelhas e pernilongos durante a coleta de mel silvestre e de iscas para pescas, ações que podem deflagrar focos de grandes queimadas, como exemplifica o filme.
Retratando um balanço desolador, a terceira parte do “Fogo Pantanal Fogo” registra as consequências da passagem devastadora do fogo para a vegetação nativa e para a fauna pantaneira, num cenário onde o verde é substituído pela predominância de um rastro misto de negro e cinza deixado pelo fogo.
Da cobertura de guerra para as causas ambientais
Nascido na Georgia, na Europa Oriental, Kakabadze se graduou em Jornalismo pela Universidade Estatal de Moscou. Atuando como repórter de TV cobriu pautas sociopolíticas como a Guerra Russo-Georgiana, conflito ocorrido em seu país que, ao longo de cinco dias de agosto de 2008, deixou um saldo de 800 mortos. Em consequência desse episódio Kakabadze partiu para a Inglaterra, onde atuou como correspondente internacional e realizou suas primeiras experiências de filmagem. Estimulado por essa nova linguagem fez mestrado em Documentário na Goldsmiths University of London, se especializando em direção, direção de fotografia e montagem.
Durante sua permanência em Londres conheceu sua atual companheira, a arquiteta Terra Capobianco, e com ela veio morar no Brasil em 2013, ano em que também conheceu a cineasta Eliana Caffé e começou a trabalhar com a diretora, colaborando com ela em dois longas-metragens: “A Margem da Paisagem” (2013); e “Era O Hotel Cambridge” (2016). Fascinado com os personagens deste último, Kakabadze começou a produzir documentários que retratavam a realidade de refugiados vivendo no Brasil e o dia a dia de moradores de ocupações coordenadas por movimentos sociais de luta por direito à habitação. A guinada do diretor para a temática socioambiental se deu quando ele começou a produzir filmes para o MapBiomas, parceria que hoje acumula mais de 30 títulos e que possibilitou a aproximação de Kakabadze com o Documenta Pantanal.
“Em 2022, por causa desses trabalhos que fiz para o MapBiomas, Mônica e Teresa me convidaram para fazer o filme ‘A Seca no Pantanal – 2019 – 2022’, um média-metragem de 40 minutos. Durante o processo pude perceber como a seca afeta completamente o ecossistema. Os tipos de animais, por exemplo, logo começam a mudar. A população de cervos, que não precisam tanto de água, rapidamente cresce. A população de jacarés, completamente dependente da água, diminui. Até o tamanho deles é impactado porque há também menos peixes, seu alimento natural”, destaca.
Lançado em 2022, o primeiro longa-metragem de Kakabadze, “A Margem do Ouro”, foi rodado na bacia do Rio Tapajós, a maior região produtora de ouro do Brasil. Exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme conquistou o Prêmio Abraccine de Melhor Diretor Estreante. Em agosto de 2024 também foi laureado com uma Menção Honrosa do Júri da Mostra Ecofalante de Cinema, o mais importante evento sul-americano dedicado ao cinema socioambiental.
“Em dez anos de atuação como documentarista no Brasil, com seu olhar sensível, Sandro já deixou um número expressivo de produções e importantes contribuições para a nossa filmografia, sobretudo no contexto de filmes dedicados à discussão de pautas socioambientais e de preservação. ‘Fogo Pantanal Fog’ é a terceira produção que ele desenvolve em parceria com o Documental Pantanal. Para nós, é uma honra poder contribuir para a continuidade dos trabalhos de um jovem diretor tão comprometido em retratar os desafios que temos enfrentado”, afirma Mônica Guimarães.
Sobre o núcleo audiovisual do Documenta Pantanal
Lançado em 2019 com direção de Jorge Bodanzky e João Farkas, o documentário “Ruivaldo, o Homem que Salvou a Terra” foi o marco zero das iniciativas de produção e apoio ao audiovisual empreendidas pelo Documenta Pantanal. Na trilha aberta pelo média-metragem de 45 minutos, outros projetos vêm ajudando a desenhar um mapa mais fiel do bioma hoje.
Nesses cinco anos, até o momento foram realizadas seis produções. Terceiro filme de Sandro Kakabadze produzido em parceria com o Documenta Pantanal, “Fogo Pantanal Fogo” foi antecedido por “Pantanal: Paraíso Restaurável – Assoreamento” (18’, 2024) e o já citado “A Seca no Pantanal: 2019 a 2022” (39’, 2023). Em 2022, em parceria com o Acaia Pantanal e o Instituto Taquari Vivo, o Documenta Pantanal lançou o filme “Um Rio Desbocado”, de Frico Guimarães, diretor que, em 2020, também lançou o média-metragem “Finado Taquari”.
Contribuindo para viabilizar produções de igual relevância, o Documenta Pantanal também apoiou três importantes trabalhos: “Jaguaretê-Avá – Pantanal em Chamas” (74’, 2024), com direção de Lawrence Wahba; “Okavango, o Pantanal Africano” (35’, 2020), de Marco Antônio Corrêa Calábria e Bruno Calanca Nishino; e o mais recente deles, “Sinfonia da Sobrevivência” (72’, 2024), filme que rendeu a Michel Coeli o Prêmio do Júri de Melhor Documentário na 48ª Mostra de Cinema de São Paulo.
Sobre o Documenta Pantanal
O Documenta Pantanal é uma iniciativa que conecta profissionais de áreas diversas comprometidos com a urgência de tornar as fragilidades e as riquezas do Pantanal Mato-Grossense mais conhecidas do público. Trabalhando por um Pantanal vivo, produtivo e exuberante, a instituição cria, provoca e apoia ações e conexões para mapear a cultura da região, apontar soluções de preservação e gerar recursos de proteção para o desenvolvimento de campanhas que mobilizam e expandem parcerias para responder a situações emergenciais e crônicas do Pantanal, de incêndios criminosos à perda hídrica. Além de veicular reportagens, artigos e web séries, a iniciativa apoia e produz a realização de documentários que retratam o Pantanal de forma original e aprofundada, ampliando a oferta de obras com potencial de circulação e sensibilização.